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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Evolução em Linha Reta


Evolução
em Linha Reta

            O Comentário surgiu ao ensejo de reunião doutrinária, quando eram concluídos estudos em torno da necessidade da encarnação dos Espíritos, para realizarem sua marcha evolutiva.

            O assunto, aparentemente simples, merecia, entretanto, apreciação mais profunda, capaz de conduzí-Io a feliz arremate.

            Foi nessa ocasião que distinta consoror fez esta indagação:

            - Por que os Espíritos, desligando-se do plano espiritual, que deve ser mais propício para o seu adiantamento, são compelidos a descerem a mundos físicos, algemando-se à carne?

            A pergunta, formulada de maneira objetiva, não comportava evasivas, exigindo resposta clara e convincente, como deve ser sempre a dos espíritas.

            Recordamo-nos, então, do valioso ensino de Emmanuel, contido na questão nº 277 do esplêndido livro “O Consolador”. Referindo-se aos Eleitos, ou seja, aos que percorreram toda a escala evolutiva, o querido Benfeitor os aponta como sendo aqueles “que se elevaram para Deus em linha reta, sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe terrestre só viu um Eleito, que é Jesus-Cristo”.

            Ora, com tais palavras, Emmanuel assegura ser realizável a marcha para Deus em linha reta, isto é, sem a necessidade das encarnações físicas, consequentes das “quedas que nos são comuns”.

            Esse ensinamento, por si só, bastaria como resposta à indagação da estimada companheira de doutrina. Não satisfeitos, entretanto, fomos procurar outro ponto de apoio na substancial obra “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, onde o assunto é abordado com minúcias.

            Logo no primeiro volume recolhemos esta valiosa lição:

            “Chegados, quanto a desenvolvimento espiritual, ao ponto em que recebem o dom precioso e perigoso do livre-arbítrio (isto é, ao atingirem o estado hominal), os Espíritos, iguais sempre, todos no estado de inocência e de ignorância, se revestem do perispírito que recobre a inteligência independente. Essa operação de revestir o perispírito, que, do ponto de vista material, se deveria chamar “envoltório”, constitui, então, para todos, encarnação fluídica”.

            Os evangelistas que ditaram a obra, descendo a detalhes, acrescentaram:

            “Todos, puros nessa fase de inocência e de ignorância, igualmente submetidos a Espíritos encarregados de os guiar e desenvolver, têm a liberdade de seus atos e podem, no estado fluídico, progredir, indo desse período de infância e de instrução à perfeição, mediante contínuos e sucessivos progressos”.

            Resulta dessas lições que os Espíritos, ao receberem o livre-arbítrio (classificado pelos evangelistas como precioso e perigoso), podem caminhar para Deus em linha reta, como esclarece Emmanuel, sem a necessidade de descerem à carne, para as experiências que lhes cabem.

            Resvalando pela imprevidência, entretanto, são banidos do mundo espiritual e encaminhados ao plano físico, a fim de nele executarem o trabalho progressista, agora entre enfermidades e inquietações.

            A evolução, contudo, poderia ocorrer em linha reta, como Espíritos, caso tivessem permanecido vigilantes, como acrescentaram os evangelistas:

            “Alguns, porém, dóceis aos incumbidos de os guiar e desenvolver (Espíritos-Instrutores), seguem simples e gradualmente pelo caminho que lhes é indicado para progredirem”. (É nosso o parêntese).

            E mais adiante:

            “Os Espíritos que, dóceis a seu guias, não se transviam, continuam a progredir no estado fluídico”.

            E os evangelistas, desejando que não permanecessem dúvidas sobre o assunto, afirmaram:

            ”Os que se conservam puros também desenvolvem atividade e inteligência a fim de progredirem no estado fluídico por meio de esforços espirituais que necessitam fazer para, da fase de inocência e de ignorância, de infância e de instrução, chegarem, sem falir, à Perfeição”.

            Encontramos, a seguir, esta outra lição:

            “Também desenvolvem, na medida da elevação alcançada, inteligência e atividade em prol da vida e harmonia universais, estudando e trabalhando, sempre como Espíritos, nos mundos que servem de habitação a seus irmãos encarnados por terem falido e nos mundos onde se encontram Espíritos no estado de erraticidade (isto é, sujeitos a novas encarnações)”.

            Ficamos pensando, então, como poderia se processar essa evolução, no mundo espiritual, sem saber quais as tarefas ou experiências a que seriam submetidos os Espíritos. E os evangelistas explicam que eles “chegando a um certo grau de desenvolvimento moral e intelectual, são atraídos para o estudo dos mundos, de seus princípios, de suas organizações, e se entregam a esses estudos dirigidos por Espíritos de pureza perfeita. Sob essa direção eles trabalham na constituição de planetas, os desenvolvem e impelem, de esferas em esferas, para as regiões que lhes são próprias”.

            Nessa altura, os evangelistas fazem questão de destacar os riscos a que se submetem os que isso efetivam, dizendo:

            “Esse o momento em que muitos se transviam, dominados pelo orgulho, que os leva a desconhecer a mão diretora do Senhor ou a duvidar do seu poder”.

            Em razões desses ensinos, poderíamos assim concluir:

a) - que os Espíritos, para alcançarem a Perfeição, tanto progridem no plano etéreo quanto nos mundos físicos;

b) - que, chegando à condição hominal e em estado de inocência e de ignorância, recebem o livre-arbítrio, que lhes faculta responsabilidade aos atos;

c) - que o revestimento perispiritual representa para eles uma encarnação fluídica;

d) - que, nessa fase, são submetidos a trabalhos continuados, sempre assistidos por mentores encarregados de os guiar e desenvolver;

e) - que, tornando-se dóceis a essa orientação e não falindo, podem continuar avançando, sempre em estado fluídico, pelos caminhos da evolução;

f) - que, sempre em estado fluídico, vão vencendo os estágios da inocência e da ignorância, mediante o apuro das atividades e da inteligência;

g) - que, à proporção que se adiantam no progresso, também ampliam os labores em favor da vida e da harmonia universais servindo junto a encarnados e desencarnados que permanecem na erraticidade;

h) - que, em tais contatos com os mundos físicos, estudam a organização dos mesmos, sempre orientados por Espíritos elevados;

i) - que, nessa hora, contagiados pelas paixões humanas, muitos se desgarram, permitindo que o orgulho e a vaidade se apossem de seus corações;

j) - que, em consequência, são compelidos a abandonarem o plano espiritual, aceitando dolorosas encarnações, repletas de amarguras e de inquietações.

            Verifica-se, assim, que os Espíritos não foram criados, especificamente, para os sofrimentos físicos, mas, em verdade, para chegarem a Deus, em linha reta, como elucida Emmanuel.

            Ao contato, porém, com os mundos físicos, deixam-se envolver pelas tentações ambientes, mergulhando nos sofrimentos originários da carne.

            É por isso que há Espíritos falidos, sujeitos a encarnações dolorosas, e também é por isso que a lágrima e a aflição são condições marcantes em nossas vidas.


por Arthur da Silva Araújo 

in ‘Reformador’ (FEB) Jan 1971





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