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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quem dizeis vós que Eu sou?




Quem dizeis vós
 que Eu sou?
           
           
            À pergunta que nos serve de epígrafe, dirigida por Jesus aos seus discípulos, Pedro, iluminado pelas luzes do Alto, assim responde: Tu és o Cristo, filho do Deus Vivo.

            A despeito, porém, dessa clara e concisa revelação, a cristandade, mal conduzida e orientada, faz da individualidade do Mestre tema de controvérsias e, pior do que isso, pedra de tropeço e pomo de discórdias.

            Assim é que os credos estruturados nos dogmas afirmam que Jesus é o próprio Deus criador, por isso que não é um homem como os demais. Outros, descambam pelo extremo oposto, dizendo que Jesus, não sendo Deus, logo é homem, na acepção comum a todos os filhos da carne e do sangue.

            Quer nos parecer que nenhum desses enunciados se conforma com a realidade. Não sendo homem, logo é Deus. Não sendo Deus, logo é homem - são falsas premissas que conduzem naturalmente a falsa conclusão. Entre Deus e o homem não existirá, acaso, uma série hierárquica de seres, como existe entre o homem e o verme? Entre essas duas séries, qual será a maior? A que vai do verme ao homem é imensurável. A que vai do homem a Deus é infinita. Como, pois, estabelecer o ilogismo: Não é Deus, logo é homem; não é homem, logo é Deus? Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Mais uma vez se verifica o acerto do adágio: In media stat virtus. "Virtus", no caso em apreço, equivale a "Veritas".

            A cadeia da evolução é semelhante à escada de Jacó, cujas extremidades se apoiavam, respectivamente, na Terra e no espaço infinito. Os elos dessa corrente são como as areias do mar e as estrelas do céu. Os animais se humanizam, os homens se divinizam. Vós sois deuses, rezam as Escrituras. A marcha é contínua e progressiva. "Vede os lírios do campo; não tecem nem fiam, mas, vestem-se com mais pompa que os áulicos de Salomão." Vede as aves do céu. Elas não semeiam nem ceifam, não ajuntam em celeiros; no entanto, vivem com alegria de viver, por isso que nada Ihes falta. Toda a infinita criação está contida no pensamento amorável do Pai celestial que tudo previu e proveu. Os reinos da natureza se entrelaçam e se conjugam deslizando, suave e docemente, para a frente e para o alto.

            Jesus, portanto, não é Deus nem é homem. É filho do Deus Vivo, conforme foi revelado através da mediunidade do velho pescador da Galiléia. Mas, objetarão: filhos de Deus são todos os homens. Perdão. Os mortais, por enquanto, são filhos da carne e do sangue, sujeitos às contingências do nascimento e da morte. "Quando, porém, forem julgados dignos de alcançar a ressurreição dentre os mortos, não mais poderão morrer, tornando-se iguais aos anjos e filhos de Deus, por serem filhos da ressurreição."

            A filiação de Jesus é divina como a nossa também o é, com a diferença de que a do Senhor é exclusivamente divina, enquanto que a nossa ainda é mista, isto é, somos filhos de Deus e filhos da carne, por isso que desta ainda não logramos a derradeira e definitiva ressurreição. A nossa esfera de atividades está dentro do ciclo correspondente ao aforismo de Kardec: nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir sempre: tal é a lei. "Vós sois daqui, eu não sou daqui. Sou o pão que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. Crês isto?"

            Como sabemos que Jesus é super-homem no rigoroso sentido da expressão? Não é só pela revelação, como também pelo testemunho que ele deu mediante as obras que praticou diretamente em sua passagem pelo mundo, obras essas que continua executando, indiretamente, através dos mártires da fé, dos apóstolos da justiça e da liberdade e, finalmente, de todos os que se batem pelo advento do reino de Deus na Terra.

por Vinícius (Pedro de Camargo)

inReformador’ (FEB) Agosto  1934








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