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quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Desastre



O Desastre


            Faziam aquela viagem buscando paz, renovação interior, após o cansaço das tarefas acumuladas.
            Desde que se consorciaram, era a primeira vez que fruiriam as bênçãos de merecidas férias.
            Filantropos, cooperavam ativamente nos empreendimentos assistenciais da comunidade onde viviam.
            O automóvel  corria, célere, e as horas passavam agradáveis.
            Subitamente ele parou o veículo e recuou.
            Pareceu-lhe ver, tombado no precipício, um carro novo. O instinto fê-lo saltar precípite e correr na direção do desastre. A esposa o seguiu.
            Olhando, cuidadoso, percebeu um jovem entre os ferros contorcidos, ainda com vida. Não titubeou. Empenhou esforços e resgatou o corpo, que transportou para o seu próprio automóvel. O moço parecia em coma.
            Quase noite, como estivesse próximo a populosa cidade, para lá rumou e dirigiu-se ao hospital que lhe indicara um transeunte ...
            Enfermeira, por favor, traga uma maca. - Adentrou-se, solicitando, desesperado. - É um acidentado ...
            - Parente seu?
            - Não.
            - Tem Instituto?
            - Ora, não pude examinar. Parece-me que não tem documentação.
            - Por que o senhor mão chamou a polícia?
            - Não houve tempo.
            - O senhor se responsabiliza pelas despesas?
            - Claro que mão. Estou em trânsito. Isto é uma emergência.
            - Então, não podemos aceitar o paciente.
            - Por Deus!
            - Ordens do diretor ... Todavia, se ele mandar...
            - E onde está?
            - Foi ao cinema ...
            Conduzindo o acidentado e guiado por informações, localizou a casa de diversões e o  médico foi chamado. Informado da ocorrência, o esculápio arrematou:

            - Lamento muito, mas não posso fazer nada. Não recebemos indigentes e não somos "mensageiros da caridade".
            - Mas, doutor, o rapaz está à morte.
            - Problema do senhor, Por que o não deixou na estrada, avisando a Polícia Rodoviária?
            - É o cúmulo!
            - Em todo o caso, tente conseguir do Prefeito uma autorização, mediante a qual se responsabiliza pelas despesas.

            Novas buscas, demoradas, por fim coroadas de êxito. O chefe do Executivo local, após ouvir a narração do lamentável desastre, cedeu uma autorização.

            Novamente foi buscado o médico, enquanto o casal e o paciente aguardavam à porta do hospital. À sua chegada foi trazida a maca para remoção.

            Quando o corpo estava sendo transportado, no corredor, o médico olhou de soslaio e deu um grito. Era seu filho, de 16 anos, que saíra de carro sem sua permissão. Pânico no nosocômio.

            - Emergência! - alguém gritou.

            Tarde demais. O jovem estava morto.

            Passaram-se 3 horas, desde que o casal percorria a cidade, tentando interná-lo na Casa de Saúde do genitor ...

*

            A mãe notificada, enlouqueceu, e o pai, que, exigia rigorosa documentação para não perder dinheiro, cerrou as portas do hospital, depois de perder o filho.

            O casal generoso, porém, ao retornar à sua cidade e reuniu amigos e, sob a emoção da tragédia, deu início a uma Associação de socorro gratuito a acidentados, mediante convênio com as entidades especializadas da sua comunidade, objetivando atender casos que tais, de imediato, enquanto se tomem outras providências.

*

            Desastre maior, cada dia, é o esfriamento dos sentimentos e o arder das paixões.
            
            Tu, que conheces Jesus, reflete e age.


Ignotus
por Divaldo Franco

Página psicografada em 29/6/73, em Salvador, BA.

in Reformador (FEB)  em Jan 1974


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