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terça-feira, 20 de março de 2012

O filho do Homem


 O Filho do Homem
           
            
            Apareceu um homem, entre esses milhões de habitantes terrestres ...
            E esse homem veio tornar-se o centro da história da humanidade.
            Não fez descobertas nem invenções, não derrotou exércitos nem escreveu livros - esse homem singular.
            Não fez nada daquilo que a outros homens garante imortalidade entre os mortais - o que nele havia de maior era ele mesmo ...
            Pelo ano do seu nascimento datam todos os povos cultos a sua cronologia.
            Possui a esse homem exímios dotes de inteligência - e infinita delicadeza de coração.
            A sua vida se resume numa epopeia de divino poder - e num poema de humano amor.
            Havia na vida desse homem uma pátria e uma família - mas também um exílio e uma solidão.
            Havia inocentes com o sorriso nos lábios - e doentes com as lágrimas nos olhos.
            Havia apóstolos - e apóstatas ...
            Brincava nos caminhos desse homem a mais bela das primaveras - e espreitava-lhe os passos a mais negra das mortes.
            Esse homem vivia no mundo - mas não era do mundo ...
            Quando chegou, não havia lugar para ele na estalagem - e quando partiu, só havia lugar numa cruz, entre o céu e a terra.
            Esse homem não mendigava amor - mas todas as almas boas o amavam ...
            Era amigo do silêncio e da solidão - mas não conseguia fugir ao tumulto da sociedade, porque "todos o procuravam" ...
            Irresistível era o fascínio da sua personalidade - inaudita a potência das suas palavras ...
            Todos sentiam o envolvente mistério da sua presença - mas ninguém sabia definir esse estranho magnetismo ...
            Era uma luminosa escuridão - esse homem...
            Não bajulava a nenhum poderoso - e não espezinhava a nenhum miserável...
            Diáfano como um cristal era o seu caráter - e, no entanto, é ele o maior mistério de todos os séculos ...
            Poeta algum conseguiu atingir-lhe as excelsitudes - filósofo algum valeu exaurir-lhe as profundezas ...
            Esse homem não repudiava Madalenas nem apedrejava adúlteras - mas lançava às penitentes palavras de perdão e de vida...
            Não abandonava ovelhas desgarradas nem filhos pródigos - mas cingia nos braços a estes e levava aos ombros aquelas ...
            Esse homem não discutia - falava simplesmente...
            Não esmiuçava palavras nem contava sílabas e letras, como os rabis do seu tempo - mas rasgava imensas perspectivas de 'Verdade e beatitude...
            Por isso diziam os homens, felizes e estupefatos: "Nunca ninguém falou como Esse homem fala!" ...
            Para Ele, não era o esquife o ponto final da existência - mas o berço para a vida verdadeira ...
            Por isto, vivem por Ele e para Ele os melhores dentre os filhos dos homens - porque adoram nesse homem o homem ideal, o homem-Deus ...



Huberto Rohden
in “De  Alma para Alma” (Ed. União Cultural Editora 1956)





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