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sexta-feira, 30 de março de 2012

Deve o Educador falar em Deus?



Deve o Educador
Falar em Deus?
           
           

            Há quem negue categoricamente que a ideia de Deus deva fazer parte da educação.

            E eles têm razão, quando pela palavra "Deus" se entende o que quase todos os teólogos ocidentais entendem.

            Mas, quando por "Deus" se entende o que os grande iniciados de todos os povos entendem, então essa ideia é o próprio alicerce da verdadeira educação.

            No século 17, o filósofo Spinoza disse que Deus é a alma do Universo, e no século 20, Einstein, o pai da Era Atômica, encampou essa ideia de Spinoza.

            Aliás, já no primeiro século, disse Paulo de Tarso aos filósofos atenienses que Deus é aquele "no qual vivemos, nos movemos e temos a nossa existência".

            Nenhum homem de experiência profunda entende por Deus uma pessoa ou individualidade, mesmo que eleve esse conceito à milionésima potência. Pessoa significa invariavelmente uma limitação - e um Deus limitado não é Deus, mas apenas um ídolo sublimado.

            Deus é A REALIDADE UNIVERSAL, O SER, A INTELIGÊNCIA CREADORA, A CONSCIÊNCIA CÓSMICA, A ALMA e O UNO do UNIVERSO, cujo Verso é o corpo visível do cosmos.

            Para dar ao educando uma ideia mais ou menos adequada de Deus, poderíamos simplesmente chamá-lo VIDA. E sobre esta base poderíamos desenvolver o diálogo seguinte:

            - Esta planta é viva?
            - Sim, ela é viva, porque cresce, floresce e frutifica.
            - Esta planta é a Vida?
            - Não, ela é viva, mas não é a Vida.
            - Que é que tu entendes por Vida?
            - Vida é aquilo que faz os vivos serem vivos.
            - Já viste a Vida?
            - Não, a Vida não se pode ver; só poderemos ver os vivos.
            - Quer dizer que a Vida é invisível, que fez os vivos visíveis?
            - É isto mesmo. Ou talvez melhor seria dizer: a Vida é a Essência, que se manifesta em existências vivas.
            - Quer dizer que a Vida e os vivos são idênticos?
            - Idênticos na Essência, mas não na existência.
            - Suponhamos que esta planta morra; então a Vida morreu?
            - Não, morreu somente o vivo, mas não a Vida.
            - Para onde foi a Vida?
            - Não foi para lugar algum. A Vida está em toda a parte; ela é, por assim dizer, a Alma do Universo.
            - E os vivos?
            - Os vivos são formas visíveis da vida invisível. Quando as formas desaparecem, nós dizemos que o vivo morreu.
            - Quer dizer "morrer" é o desaparecimento de uma forma da Vida, de um vivo.
            - É isso mesmo. Assim, quando uma forma da Vida aparece, nós chamamos isto "nascer".
            - A Vida nasce e morre?
            - Não, a Vida vive, mas não começa a viver, nem acaba de viver.
            - Quer dizer, a Vida é eterna e imortal?
            - É isto mesmo: a Vida é eterna e imortal.
            Nunca nasceu, e nunca morrerá, mas sempre viveu, sempre vive e sempre viverá.
            - Essa Vida até parece ser Deus.
            - A Vida é Deus, ou melhor ela é a própria Divindade.
            - Quer dizer que os que dizem que Deus é pessoa, confundem a Vida com os vivos.
            - Exatamente. Como não se pode perceber, nem mesmo pensar a Vida, os homens se agarram a um vivo, que se pode ver, pensar e analisar.
            - Se não se pode perceber nem pensar Deus, a Vida, como o podemos descobrir?
            - Nenhum homem pode descobrir Deus - mas Deus pode descobrir o homem.
            - Deus pode descobrir o homem?
            -  Sim, quando o homem permite ser descoberto.
            - Que quer dizer "permite"?
            - Quando o homem vive de certo modo, Deus o descobre, e então o homem tem certeza de Deus. Mas, se o homem não vive de modo que Deus o possa descobrir, o homem discute sobre Deus, mas não tem certeza dele. Certeza não é descobrir Deus; certeza é ser descoberto por Deus.
            - A filosofia oriental diz: "Quando o discípulo está pronto, então o Mestre aparece" - é isto ser descoberto por Deus?
            - Exatamente.
            - E quando é que o discípulo está pronto para ser descoberto pelo Mestre?
            - O homem está pronto para essa descoberta divina, quando ele diviniza toda a sua consciência com a vida divina e harmoniza toda a sua vida ou vivência de acordo com essa vida.
            - Quer dizer que tudo depende do fato de o homem estar pronto, estar em condições de ser descoberto pela Vida.
            - E que tem isto que ver com educação?
            - O educador, quando já foi descoberto por Deus, pode mostrar ao educando o caminho certo onde Deus o possa descobrir.
            - O caminho, quer dizer, a vivência do homem.
            - Sim, o modo de viver dele.
            - Isto é religião?
            - Sim, isto é a única Religião, mas não é uma religião. uma teologia; é antes uma sabedoria de ser e de agir. Se o homem está em harmonia com Deus, pela consciência e pela vivência, então ele sabe o que é Deus, e vive de acordo com esse saber. É religioso.
            - Isto é felicidade?
            - Sim isto é a única felicidade.


            Homem, conhece-te a ti mesmo



           
Huberto Rohden

in “Educação do Homem Integral”
(2ª Ed, reescrita - Fundação Alvorada - 1979)





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