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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

06 (e Final) Ana Prado e os Figner


06 e final  Ana Prado
e os Fígner
Nogueira de Faria
inO Trabalho dos Mortos’ (FEB) 5ª  Ed.  1990


”Os Sensacionais Fenômenos Espíritas”


Duas horas e 40 minutos materializada! - Pais que reveem a filha falecida –
Muitos Espíritos materializados na mesma sessão - O que nos disse o Sr. Fred Fígner


            Em uma das vezes em que veio a público, pela imprensa, o Sr. Fred Fígner, chefe da Casa Edison, do Rio de Janeiro, afirmou ter visto sua filha, falecida há muitos meses, completamente materializada, por virtude da medi unidade da Sra. Eurípedes Prado, nesta Capital.

            Depois desta declaração, e, aliás, antes dela, começaram a circular na cidade diversas narrativas dos sensacionais acontecimentos. Resolvemo-nos, pois, obter do Sr. Fred Fígner, hospedado no Grande Hotel, uma entrevista, na qual pudéssemos informar aos nossos leitores, com absoluta segurança, o que de verdade havia naquelas narrativas.

            Dirigimo-nos, assim, àquele hotel, onde fomos recebidos cavalheirosamente pelo Sr. Fígner.

            Formulado nosso desejo, S. Sª. falou:

            - Deseja o senhor que lhe relate os fenômenos por mim presenciados e produzidos com a privilegiada mediunidade da Sra. Eurípedes Prado? Pois não, Sr. Redator, com muito prazer. Vou dar-lhe alguns pormenores que presenciamos, eu e minha família, em três sessões riquíssimas de fenômenos.

            Começarei por lhe dizer que aqui vim, não por curiosidade minha, visto que sabia ser a materialização um fato comprovado por Crookes, em primeiro lugar, em Londres, desde o ano de 1871, quando começou, então, a hoje célebre materialização de Katie King, servindo de médium a Srta. Florence Cook, e, seguidamente, experiências idênticas relatadas por tantas outras sumidades científicas.

            Vim com o fito único de minorar a tristeza e a dor que acabrunhavam minha esposa, por haver desencarnado uma filha nossa muito amada.

            Aqui chegando, tive a desilusão de não encontrar a família Prado. Recebido pelos meus confrades, prontificaram-se eles a telegrafar ao Sr. Prado, participando-lhe minha chegada com a família, e pediram, se fosse possível, viesse até aqui. A despeito de adoentada sua esposa, resolveu ele aceder ao apelo, aqui chegando no “Pais de Carvalho”, no dia 28 de Abril, depois de uma penosa viagem de 7 dias.

            No dia 1º de Maio, fez-se uma sessão preliminar, a que estiveram presentes, além da família Prado, a família Manoel Tavares, a família Bosio e o Dr. Mata Bacelar.

            Materializaram-se João e um Espírito denominado Evangelista. Havia bastante luz e distinguiam-se os Espíritos perfeitamente, como se fossem homens com vestes brancas que andassem de um lado para outro. Demorou-se João bastante tempo conosco, de forma que bem o pudemos ver e sentir. Minha esposa, dirigindo-se a João, contou-lhe seu sofrimento, o que atento ele ouvia. Recebeu de minha senhora umas flores que ela levara, as quais João passou para a mão esquerda. Em seguida estendeu João a mão direita à minha senhora, fazendo ela o mesmo; João passou sua mão sobre a dela, fazendo-lhe sentir que estava perfeitamente materializado.

            Por fim, João, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou na câmara, começou a desmaterializar-se às nossas vistas, como o fizera quando se materializou. Daí a pouco, ouvíamos umas pequenas pancadas que ele dava no rosto da médium para a despertar.

            Esta primeira sessão me deixou completamente frio, visto que eu vira tão somente aquilo que esperava.

            Tudo aquilo era coisa muito natural para mim, quanto à sua realidade.

            Minha esposa, porém, apesar de também conhecer, de leitura, os fenômenos, ficou muito satisfeita, começando a nutrir esperanças de ver nossa filha, moça de 21 anos, desencarnada a 30 de Março de 1920.

            A segunda sessão, realizada a 2 de Maio, foi, realmente, muito mais importante.

            Havia nessa ocasião pessoas que não conheciam os fenômenos, bem como a Doutrina Espírita, entre elas o Dr.  Remígio Fernandez, o Sr. Barbosa e a Sra. Pernambuco.

            Materializaram-se muitos Espíritos de diversas estaturas, entre eles a nossa cara filha RacheI.

            Mas, devido talvez ao excessivo número de materializações, que absorveram muitos fluidos, e entre os Espíritos materializados um de nome Diana que, creio, se apresentou com um brilhante diadema na cabeça, a materialização da nossa RacheI não era tão perfeita como esperávamos; no entanto, era bastante para ser reconhecida por todos nós. Nessa sessão, ela perguntou, à sua mãe, “porque aquele vestuário preto, visto que ela se sentia muito feliz”.

            No dia 4 de Maio fizemos outra sessão, e nesta a materialização de nossa filha foi a mais perfeita possível. Rachel apresentou-se com tanta perfeição, com tanta graça e tão ela mesma, com os mesmos gestos e modos, que não pudemos conter nossa emoção e todos, chorando, de joelhos, rendemos graças a Deus, por tamanha esmola.

            Era RacheI viva, pronta para ir a uma festa. A sua cabeça erguida, os seus braços redondos, o seu sorriso habitual, as suas bonitas mãos e até a posição destas, toda sua exatamente como era na Terra. Falou à mãe, pedindo-lhe exatamente que na próxima sessão viesse toda de branco como desejava e aí estava materializada.

            Rachel tocou todos nós com sua mão; sentimos todos o seu calor natural e, à observação de minha esposa: “Rachelzinha, tu tinhas os cabelos tão bonitos, mostra-nos os teus cabelos”, ela entrou no gabinete e, voltando instantes depois, virou-se duas vezes, mostrando-nos seus cabelos compridos e ondulados. Aceitando as flores que lhe oferecemos, fez sua mãe sentar-se em uma cadeira junto ao gabinete e de costas para este. Abraçou-a e beijou-a muito carinhosamente, depois lhe colocou uma rosa na blusa branca, que minha esposa vestira para ser agradável à filha, que na véspera não gostara de vê-Ia de preto. Na ocasião em que lhe colocou a rosa, falou-lhe de seus próprios lábios, dizendo-lhe: “Não quero que ande de preto, ouviu? Quero que venha toda de branco, assim como eu estou.”

            Toda essa frase minha filha a pronunciou tão clara e distintamente que todos, além de minha esposa, a ouvimos.

            Depois, sentando-me eu na mesma cadeira por ordem sua, acariciou-me como fizera à sua mãe, colocou uma angélica na lapela de meu paletó, apoiando-se com todo o peso de seu corpo sobre meus ombros. Por fim, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete e desapareceu.

            Puxei o relógio, Rachel tinha estado aí 40 minutos. Depois saiu o João e cantou, muito satisfeito com a materialização de sua discípula.

            A 6 de Maio fizemos a última sessão,

            O resultado foi o mesmo da anterior, com acréscimo de RacheI fazer diante de nós uma luva em parafina de sua mão esquerda, consultando muitas vezes João, que se achava no gabinete, porém à nossa vista, durante todo o tempo em que ela trabalhava com a parafina. Logo ao se materializar, RacheI, saltando e batendo palmas, demonstrou sua satisfação por ver sua mãe toda de branco; e ao despedir-se, pediu-lhe que levasse sua irmã Leontina às festas e ao teatro, como fazia com ela. RacheI esteve conosco, nessa ocasião, durante duas horas.

            Por fim,  pedi a RacheI que me permitisse beijar-lhe a mão. O mesmo pedido foi feito por minha esposa e mais duas filhas aí presentes, além de umas 10 pessoas. Ela deu a mão a beijar à sua mãe e à menor das suas irmãs; e, aproximando-se de mim, num gesto rápido, todo seu; pegou minha mão com bastante força e beijou-a. E, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete. Não sentimos sua partida, pois estamos certos de que não será esta a última vez que a veremos. Rachel vive! disto estava certo antes de aqui vir e continuo na mesma certeza.

            Tenho entretanto de confessar que estas duas horas e 40 minutos foram para todos nós o tempo mais feliz de nossa existência.

            E permita-me que, por seu intermédio, uma vez mais agradeça ao Sr. e à Sra. Prado o sacrifício que fizeram de vir aqui, e ao maestro Bosio e senhora as gentilezas de que nos cumularam, assim como a todos os confrades e amigos o acolhimento que nos fizeram. Agradeço também à “Folha do Norte” pela cessão de suas colunas, Que Deus lhes pague!”


Nota Oficial

            Eis finda a nossa tarefa. De bom grado reuniríamos em apêndice tudo quanto se escreveu na imprensa de Belém sobre os fenômenos espíritas observados pelo Sr. Eurípedes Prado, desde os artigos do reverendo padre Florêncio Dubois às notícias mais simples. Isso, porém, daria a este volume proporções que ele não comporta.

            Parece-nos ter colhido o que houve de mais útil e mais esclarecedor sobre o caso.

            Resta-nos um conforto: sentimos bem que não nos afastamos da linha de absoluta imparcialidade e justiça.

            Isso nos basta.




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