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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

05 Ana Prado e os Figner



05 Ana Prado
e os Fígner

inO Trabalho dos Mortos  (o livro do João)” (FEB)
 de Nogueira de Faria (FEB)  5ª Ed.  1990


Quarta sessão a 6 de maio de 1921


            Na noite de 5 para 6, D. Nicota, a médium, sonhou que João lhe dizia que no dia seguinte, 6, haveria sessão de materialização e que Rachel faria sua mão em parafina líquida, à vista de todos; imergiria duas vezes a mão na parafina e em seguida iria tocar em seus pais para lhes mostrar e fazer sentir o calor da parafina.

            Ao amanhecer, D. Nicota referiu ao Sr. Eurípedes, seu marido, o que sonhara. Depois, dirigindo-se a João, pediu-lhe que confirmasse o sonho. Imediatamente, um álbum, pelo qual dá ele sinal da sua presença, se moveu saindo da posição em que estava. Colocaram-no de novo no lugar donde saíra e D. Nicota disse: “Move-o outra vez para termos confirmação.” Logo o álbum se moveu à vista dos presentes. Estava, portanto, confirmada a veracidade do sonho.

            À noite houve a sessão de que João falara à sua médium. Foi, porém, muito íntima, pois João desejava que os fenômenos se produzissem muito perfeitos e, na sua opinião, a presença de incrédulos na assistência poderia prejudicá-los .

            Marcou a sessão para as 8 horas da noite. Mas, como algumas pessoas só poderiam chegar depois das 8 horas, o Sr. Eurípedes procurou convencê-Io de que melhor seria começar um pouco mais tarde. Ele respondeu: “Não; deve ser às 8 horas em ponto. Depois verás justificada a minha insistência por principiar a essa hora.” E tinha razão, pois que a sessão só terminou quase à meia-noite.

            Às 8 horas em ponto, portanto, foi ela aberta, estando presentes o Sr. Eurípedes e senhora (a médium), Dr. Mata Bacelar, senhor e senhora Manoel Tavares, maestro Bosio e senhora, Fígner, senhora e filhas Leontina e Helena.

            Satisfazendo aos desejos manifestados por minha filha na sessão anterior, apresentei-me toda de branco.

            Apagaram-se as luzes e instantes depois observamos que a materialização começava. Logo que esta tomou forma, reconhecemos a nossa adorada Rachel , Assim saiu da câmara, o seu primeiro gesto foi, como sempre, o de se ajoelhar e orar, no que a acompanhamos. Apenas viu que eu me achava de branco, manifestou grande satisfação. Falava, batia palmas e pulava de alegria, como costumava fazer na Terra, quando experimentava um vivo contentamento , Dizia: “Que bom! Estou muito contente! Mamãe está toda de branco! Está tão bonitinha!!”

            Dizer da minha felicidade, por poder uma vez mais ver minha filha, perfeita como era e dando mostras de alegria, tal qual fazia aqui na Terra, é coisa impossível. À criatura faltam palavras para definir o que sente nesses momentos de suprema ventura. Prossigamos.

            Depois dessa demonstração de alegria, a minha Rachel começou o trabalho da moldagem da sua mãozinha em parafina líquida e quente. Cumpre notar que João me mandara dizer pela médium o seguinte: “Diga-lhe que, quando a filha puser a mão na parafina, não deve exclamar - coitadinha! -- pois que Rachel não sente dor alguma.”

            Conforme ele havia anunciado, RacheI começou o trabalho imergindo duas vezes a mão na parafina e em água fria. Em seguida, veio a mim e colocou a sua mãozinha enluvada de parafina dentro da minha. Depois, retirando-a, colocou a outra que estava com luva de parafina, a fim de eu sentisse e notasse a diferença da temperatura. O mesmo fez com o pai.

            Ao colocar a sua na minha mão, ela estava bem defronte de mim e muito perto, de sorte que, não só eu lhe sentia e via a mão, como via perfeitamente o rosto. Era a minha RacheI, tal qual eu a tivera na Terra. O rosto, o pescoço, o colo eram os seus. Não havia para mim possibilidade de ter a menor dúvida de que fosse a minha muito querida filha. Aproveitei assim as duas sensações ao mesmo tempo: via e sentia a minha filha. Só Deus me poderia dar tamanha felicidade, treze meses após a desencarnação dela.

            Depois de se mostrar bem a todos, Rachel voltou aos baldes de parafina e água fria e quente, continuando o trabalho durante umas duas horas. Víamos minuciosamente esse trabalho, porquanto a luz era bastante forte e nos permitia distinguir tudo. Metia a mão na parafina fervendo, depois na água fria, examinava o molde e de quando em quando ia à câmara consultar o João que se conservava dentro desta e que, ao que suponho, lhe dava instruções. Durou tanto tempo esse trabalho que a água e a parafina esfriaram. Verificado isso, Rachel entrou na câmara e João, pela médium, deu ordem para que novamente aquecessem a água e a parafina. Como demorassem  para apanhar as vasilhas, disse ele pela médium:  ”Deixem, vou materializar-me para entregar as vasilhas. ”Em seguida saiu da câmara, tomou a panela de água e a colocou defronte dos assistentes. Pegou depois do balde de parafina, que é bastante pesado e, suspendendo-o com o braço estendido e firme, o foi colocar junto da panela. Provou assim a sua completa materialização, exibindo a força da sua musculatura perfeitamente humana. Enquanto aqueciam a água e a parafina, pôs-se ele a brincar conosco.

            Em dado momento, esbarrou na tampa da panela, que ficara no chão. A Sra. Tavares disse: “O João não viu a tampa, coitado!” Ele imediatamente se abaixou, apanhou a tampa e a entregou àquela senhora, como que a lhe dizer: Vejo muito bem.

            Os Espíritos se materializam tão perfeitamente, ficam tão humanizados que, como nos acontece a nós, esbarram nos objetos que se acham em seu caminho. Não se tem a menor impressão de um fantasma.

            Doutra vez, ele esbarrou numa garrafa de aguarrás que também estava no chão e fê-Ia cair. Ato contínuo, abaixou-se, apanhou a garrafa e foi colocá-Ia num lugar afastado de seu caminho. É simplesmente assombroso! Não há palavras que o descrevam.    

            Enquanto esperávamos as vasilhas, João pediu lápis e papel. Frederico foi buscar o que ele pedia e entregou à Sra. Tavares para que lhe passasse uma folha de papel e dois lápis, um deles numa lapiseira de metal. João experimentou no papel qual dos dois lhe convinha mais e preferiu o da lapiseira. Disse então alguém: “Vamos ver que surpresa João nos vai fazer.” Ao que ele respondeu pela médium: “Não é agora. Só depois de concluído o trabalho da parafina.”

            A Sra. Tavares, pilheriando, disse: “Ganhei do João um presente” - referindo-se à tampa da panela que ele lhe dera para segurar. João, a gracejar, respondeu pela médium: “Isto não é sério.” Depois, ainda pela médium, pediu trouxessem as vasilhas que estavam demorando muito. Daí a pouco desceram as vasilhas e foram colocadas sobre os bancos que lhes eram destinados. Ele, a conversar conosco enquanto as arrumava, disse com seus próprios lábios: “Agora virei cozinheiro.”

            Em seguida, entrou na câmara e logo surgiu a nossa querida Rachel, que ainda por muito tempo continuou o trabalho que começara. Ouvia-se o mergulhar da sua mãozinha na parafina e na água fria. De vez em quando derramava água e parafina no chão. Isso acontecia sempre que retirava bruscamente a mão de dentro da vasilha. De espaço a espaço pegava uma ponta do vestido e passava no molde, como que para secar ou alisar. Por mais de uma vez no curso do trabalho, João, pela médium, pedia que tivéssemos paciência, por isso que aqueles trabalhos são demorados.

            Era ela, sempre ela, que ali estava diante dos nossos olhos. Já durava tanto a sua materialização, que tive a ilusão de se achar minha filha aqui na Terra sem haver desencarnado. Depois de muito trabalhar, a minha Rachel deixou o molde dentro do balde de água fria e entrou na câmara.

            Disse então, João, pela médium, que a nossa irmã Anita viria fazer umas flores de parafina em a nossa presença. Veio Anita, tirou a vasilha de água quente, que estava em cima do banco, colocou-a no chão, e, puxando o banco, sentou-se junto à vasilha e começou o seu rápido trabalho. Esteve uns dez ou quinze minutos a fazer a flor, Uma vez pronta, imergiu-a no balde de água onde estava o molde e João disse, pela médium, que Anita havia feito a flor, para que a irmã Rachei a entregasse juntamente com o molde.

            Efetivamente, logo apareceu Rachei e tirou com muito cuidado o molde e a flor de dentro de água. Trouxe o primeiro e o depositou em minha mão, Recebi-o com todo o respeito e cheia da mais viva satisfação, Entregou a flor a Frederico. Emocionadíssimos, agradecemos, pedindo-lhe nos desse suas mãozinhas para beijar. Deu-me a mão, que beijei com muito amor e carinho, Helena pediu que também lhe deixasse beijar a mão e ela deixou. Frederico fez o mesmo pedido, Ela lhe estendeu a mão, mas não consentiu que ele beijasse, até que, em certo momento, rapidamente se ajoelhou e, puxando fortemente a mão do pai, deu-lhe um beijo estalado, que toda a assistência ouviu.

            Leontina igualmente lhe pediu que a deixasse beijar-lhe a mão, ao que ela não acedeu. Mas, voltando-se para mim, como se tivesse a intenção de provar à irmã que não se esquecia dela, disse-me pelos seus próprios lábios:  “Mamãe, leva minha irmã às festas e ao teatro, como fazias comigo. Leontina, tão bonitinha!” Leontina, chorando, muito comovida, agradecia.

            RacheI conservava-se bem defronte de nós, mostrando--nos completamente o semblante, de acordo com o que já nos havia dito anteriormente numa sessão de tiptologia, antes de partirmos para o Pará. A todas as pessoas presentes mostrou nitidamente o seu rosto, seu colo, seus braços. Mostrou-se, enfim, perfeitamente materializada, como se estivesse viva na Terra.

            Certa vez em que ela estava diante de mim, perguntei-lhe: “Minha filha, foi Aluízio ou Gabriel que aqui veio na última sessão?» Ela me respondeu de seus próprios lábios: “Bilé”. Prova magnífica foi essa da sua identidade, pois ali só ela e nós conhecíamos o apelido do nosso Gabriel. Rachel disse isso numa ocasião em que desfolhava rosas sobre as nossas cabeças.

            Tendo tirado o lenço que trazia no decote do vestido e depois de se ter mostrado muito claramente, sob o máximo de luz que os aparelhos preparados podiam dar, ela se retirou para a câmara e, saindo de novo, ia, com aquele mesmo lenço, começar os acenos de despedida, quando lhe pedi: “Minha filha, espera um pouco. Temos aqui umas flores que trouxemos para te dar.” (As flores não tinham sido entregues antes, por haver João dito que só o fizéssemos depois do trabalho de parafina.)

            RacheI voltou-se para o interior da câmara, como que a pedir instruções, ou a transmitir o pedido, penso que a João. Logo, porém, voltou, recebeu de nossas mãos os flores, distribuiu-as conosco e com os demais assistentes. Conforme costumava fazer aqui na Terra, nos dias de aniversário meu e do pai, desfolhou algumas rosas e espargiu sobre as nossas cabeças e sobre as das irmãs, dando-nos uma impressão viva à sua personalidade terrena. Foi uma cena emocionante. Todos choravam!!! Depois, erguendo as mãos para o céu, disse, de sua própria boca: “Graças a Deus. Sinto-me contente por ter vencido a dor de mamãe. Vou subir muito alto!!!” Tomou de novo o lenço e acenou com ele durante muito tempo, a despedir-se.

            Comovidíssímos, nós lhe diziamos: “Adeus, adeus, filha adorada. Deus te abençoe, Deus te pague.” Eu não me podia conformar com a ideia de que a minha filha partisse de junto de mim, pois que a sua presença não foi uma simples materialização; foi uma perfeita ressurreição. Todos os que hão assistido aos fenômenos, inclusive o Sr. Prado, marido da médium, ficaram maravilhados, dizendo nunca terem visto tanta perfeição. Os espíritas do Pará sentem-se felizes por essa grande graça de Deus. Tornamo-nos todos membros de uma só família.

            Deus de bondade, Deus de misericórdia, perdoa os momentos de desespero que tive e dá que eu possa praticar atos dignos da grande esmola que do teu infinito amor recebi.

            Após a despedida de RacheI, veio João, como sempre perfeitamente materializado, e, puxando um dos bancos em que estiveram os baldes, pôs-se a escrever, dando-nos portanto a surpresa que nos prometera para depois do trabalho de parafina.

            Quando começou a escrever, debruçado sobre o banquinho, a ponta do lápis quebrou. Então, ele se levantou e pediu um outro lápis, dizendo que o primeiro se havia quebrado. Frederico passou-lhe um outro, como o faria a uma criatura da Terra, João o tomou e, virando o papel do outro lado, escreveu à nossa vista o seguinte, que se acha reproduzido na gravura 46.

            “Saudades vou assistir a fotografia no girar.”

            Depois, acenando com o lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete e se desmaterializou, como o fizera das outras vezes.

Esther Fígner
            







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