Pesquisar este blog

domingo, 30 de outubro de 2011

69 Trabalhos do Grupo Ismael





69


SESSÃO DE 13 DE NOVEMBRO DE 1940


Manifestação sonambúlica


            Primeira de mais um ex sacerdote que, atormentado pelo sofrimento a que o haviam condenado o ódio e os crimes que o ódio e a  luxúria o levaram a praticar, ansiava por se livrar desse sofrimento.

Médium: J. CELANI


            Espírito (depois de lançar um olhar de inspeção, pela sala, em tom irônico): - O trabalho está eloquente e o sofrimento é excelente; mas afinal de contas, nada entendi dessa retórica. O livre arbítrio não existe... Se existisse, não veríamos, seguramente, essas criaturas a pretenderem solapar a igreja – única exclusiva depositária dos ensinos do Cristo. Inegável, porém, é que algo existe a embaraçar-nos os planos de ação; mas, o que mais me admira é encontrar aqui representantes da Igreja, categorizados pelas posições que ocuparam no seu cabido... Como compreender esse conluio da verdade e da força com a mentira e a fraqueza?

            (Cala-se, de cenho carregado, parece estar ouvindo a outrem e prossegue):

            - Não! eu não trago intenções malévolas... Porque me embargais a ação? Se assim é, retiro-me... Fizeste-me perder o fio da oração, nada mais, portanto, direi.

            (Depois de longa pausa):

            - Hum! Qual mistificação! Então, aquele que ofende e maltrata não deve ser punido? Estranha teoria! Extravagante mesmo. Se assim fosse, o mundo seria presa fácil dos perversos... (Bate na mesa). Ora, dize-me tu, que és mestre, maioral deste conclave: será pecado adiarmo, vingar-nos, quando vivemos num báratro de trevas, nele jogado pela maldade de um ser? Não odiar, não vingar? Oh! não aceito, não posso conceber semelhante preceito. Rejeito-o com todas as veras da minha alma, por afrontosa ao brio, á dignidade  da criatura humana. Que dizes tu? (dirige-se ao diretor). És porventura mudo?

            (Segue-se uma pausa. O manifestante, pelo jogo da fisionomia do médium denota profunda atenção e surpresa).

            O passado? a que vem ele? Fico na mesma! Então eu te peço uma côdea de pão e dás–me uma pedra? Que bela caridade!!! O passado... Sei lá disso? E, não sabendo o que fui, como saber o que serei? Bolas! Rezar? Hum!... Mas, que fiz eu senão isso, durante longo tempo? Qual proveito, nem meio proveito... Lá, eu tinha claridade dos círios... E aqui? Deixem-se disso... Isso sois vós, isso é para vós: vinde para cá e falai-me depois...

            (Detém-se um instante, como a refletir e prossegue):

            Ah! adormeci no caminho?  Pois olha que estou acordado e bem acordado... Ora, isso é caso perdido... Compensação, compensação... Hum! A Igreja... Que importa se me utilizei dela para o meu introito? O que eu queria era deixar de sofrer e não encontro quem me possa libertar desta aflição horrível... Que dizeis? Pois bem, aceito o remédio; mas onde está ele? Aqui? Voltar aqui, ouvir essa conversa, adquirir sabedoria divina... Coisa difícil, impossível talvez, prestável para eles, para vós, não para mim... Vejo que o meu caso, assim, é incurável... Pois, seja. Agradeço o conselho, vou retirar-me, vou pensar...

            (Faz movimento para levantar-se, mas logo se acomoda).

            - Não posso ir-me embora? Ah! Preciso esperar a palavra dos homens? Então que falem os homens...

            (O diretor dos trabalhos adverte, então, que o livre arbítrio não tem elasticidade absoluta, porque absoluto só Deus o é. Condicionado e proporcional ao desenvolvimento da criatura, faculta-lhe o mérito e o demérito em sua ascese. Outorga divina, inalienável, não é propriamente cassado ou anulado, jamais, senão ao sentido de sua aplicação circunstancial e não substancial. A própria  criatura é que, engendrando e agravando o sofrimento, qual aranha tramando a sua tela, nela se asfixia e, a exemplo do que a ele, manifestante, sucedia, propicia à penitência e à reparação. Que visse, ainda nisso, uma prova não conjetural, mas experimental da consciência e misericórdia divinas...)

            E. - Que diferença há entre orar e rezar?

            D. - Rezar é articular palavras, orar é sentir o que falamos ou pensamos. A reza é convencional, a oração só pode ser emocional e, como tal, espontânea.

            E. - Queres dizer que a missa nada vale e eu concordo.

            D. - Não digo tanto, pois sei que em todas as confissões há crentes sinceros e a intenção é tudo.

            E. - Quem to diz sou eu.

            D. - Não tinhas então, a sinceridade dos teus votos, a abnegação da tua fé?

            E. - Isso não predicados, são gradações do espírito, pois o teu mentor me está aqui sugerido que é preciso perdoar  ‘’não 7, mas 70 vezes 7 vezes’’,  a fim  de poder orar como dizes. Mas, isso é dificilmente; afigurasse-me assim como um rio cauteloso, interposto ao viajante, incapaz de o atravessar e prosseguir.

            D. - Nós, entretanto, te convidamos a experimentar... Quereis?

            E. - Se depende da minha passividade à vossa intenção, aos desejos, experimentai, aceito.

            (É feita uma prece)

            E. - Sim, é algo diferente! E’ extraordinário! Onde está o que me tolhia? Bem. Vou-me e grato à vossa benevolência. Adeus!


*


Comunicação final,  sonambúlica


            Significado e efeito, para os componentes  do Grupo, do trabalho realizado. - Palavras de agradecimento e de glorificação à Virgem.- Exortação ao afervoramento da fé e ao robustecimento da crença no coração dos obreiros da Oficina de Ismael. - Efetividade da proteção à Casa desse glorioso Anjo.


Médium J. CELANI


            Meus caros companheiros.

            Ela! sempre Ela, a Mãe carinhosa, toda amor àqueles que procuram laborar na Seara do seu Filho, desejosos de afeiçoar  o coração aos seus exemplos e virtudes. Que mais quereis, queridos companheiros, para estímulo deste labor que nos vem felicitando, a vós e a nós - os deste lado - bem como a tantos que, mais distanciados, buscam assimilar estes ensinos, que esclarecem o cérebro e enrijam os sentimentos para triunfar das paixões e misérias próprias da inferioridade moral? Bendita doutrina, simples e gloriosa, que permite a um pugilo de coxos redimir almas chaguentas e embotadas pela ignorância e maldade.

            Eu sei, Senhora! E quem mais do que eu - calceta que sofreu uma prova rude e sempre teve no coração a Paz de teu Filho, graças ao amparo da tua mão carinhosa - quem mais do que eu, repito, poderia dize-lo? Glória, pois, a Ti, gloriosa Mãe do meu Senhor, que tocaste os nossos corações com os eflúvios da tua virtude, neles lançando o gérmen dos seus ensinos.

            Ide para os vossos lares, companheiros caros, conscientes de que ganhastes o vosso dia e mais um dia na vossa peregrinação em busca da perfeição.

            Recebei como estímulo todas estas esmolas que chovem sobre vós e afervorai a vossa fé e o vosso amor a esse Espírito excelso, por intercessão do qual tudo recebeis do Mestre e Senhor. Firmai vossa crença no propósito de vos liberardes das paixões inferiores, para assim poderdes afinar  sentimentos com aqueles que, por delegação de N. S. Jesus Cristo, são os sustentáculos desta Casa.
            Ficai certos de que sob estas telhas, dentro da Lei, não cairá um fio de cabelo de vossas cabeças sem que o queira o Pai. Isto vo-lo digo com permissão de Ismael.  Quero animar-vos no prosseguimento da vossa tarefa, com os olhos postos no Divino Modelo, para implantar no mundo a Doutrina salvadora.

            Deus vos abençoe. – Richard.


Nenhum comentário:

Postar um comentário