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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

'O Homem Espíritual'



O Homem Espiritual

O homem, da vida espiritual, somente conhece débeis lucilações[1]. Embora tenha sua origem nas vibrações sutis da energia, ES experiências corpóreas impregnam-no tão fortemente das sensações materiais, que ele nasce, morre e renasce numa esfera de entorpecimento em que, à custa de dor e sob dificuldades aflitivas, somente se liberta ao longo das reencarnações.
As religiões, que têm a precípua finalidade de colocá-lo diante da sua e da divina consciência, sofrendo a influência dos seus pastores equivocados, ministram os ensinamentos humanizados, mais perturbando as aspirações libertadoras do der. Mantendo e espírito em nebulosa de equívocos e de inseguranças, da vida física fazendo o seu apoio e sustentação, pensa no espírito como sendo numa remota, impossível realidade, cuja compreensão lhe parece totalmente vã, graças aos fundamentos materiais em que alicerça as convicções.
Seria de crer-se que, provindo da esfera imortal para o mergulho no corpo físico, ficassem as claridades luminescentes da razão, isto é, as lembranças.    
Os renascimentos se fazem num automatismo lamentável, em que a morte, fora do corpo, e vida, no corpo, são termos de um mesmo redemoinho em que o ser se agita fora ou dentro da matéria com a mesma insegurança, sem mais amplas possibilidades de traçar o rumo para uma viagem consciente.
Quanto é complexo para o homem desprender-se dos bens materiais, vitimado pelo instinto de conservação da vida, que o impele a uma previdência absurda e ególatra, também se lhe torna difícil separar-se dos despojos materiais quando advém a morte, ou bloquear os centros das sensações, embebido pelas reminiscências corporais da jornada de que se deve desprender e não morrer. O desprendimento do corpo de maneira alguma se dá quando a máquina orgânica deixa de funcionar.
Morte não significa mudança real, em quem não se predispõe a realizar a viagem conscientizado de para onde vai, por que vai e o que deve levar consigo.
A lagarta que dorme ignora a borboleta que voará. Na histólise[2] do corpo, enquanto se alteram e se destroem as células orgânicas, o espírito que se acostumou a sobrenadar, não obstante as circunstâncias atávicas das amarras físicas, nenhuma dificuldade encontra para liberar-se dos condicionamentos materiais. No entanto, quem não tenha as experiências espirituais, os momentos de enlevo, não realizando os tentames com que se despoja das injunções carnais, mui dificilmente consegue liberar-se quando lhe advém a morte do corpo.
Tarefa ingente e imensa a de conscientizar as criaturas humanas quanto à fatalidade da vida espírita.
Os homens que vivem como se o suceder dos dias não lhes gastasse as células, envelhecendo-lhes a roupagem corporal, aproximam-se do fatalismo biológico pelo sucesso carnal em anestesia da razão.
Os homens vivem no corpo como se outra realidade jamais os surpreendesse.    
Os homens vivem na luta e sofreguidão das paixões humanas, em dar-se conta que dormir é indispensável para sonhar, e que sonhar é impositivo de libertar-se para sempre... Mergulhados na hipnose demorada dos centros da alma, quando sacudidos pelo terremoto da desencarnação, aturdem-se e deblateram, gritam e blasfemam, impões necessidades que são fictícias e exigem de Deus, pelo antropomorfismo[3] religioso a que se entregam, lhes atenda as vontades caprichosas, com que esperam mudar o destino inditoso que eles mesmos elaboraram e do qual se evadiram.
A improrrogável sucessão do tempo inapreciável e a tarefas das horas conseguem desgastar o granito, corroer os metais e modificar       a face teimosa do espírito humano, debelando nele a força constritora que mantém as paixões negativas, insculpindo a paixão do bem numa necessidade para ser feliz, ao mesmo tempo, investindo todas as forças pelo alcançar. No entanto, longe encontra-se o dia da realidade do espírito para o homem de bem na Terra.
Feliz o esforço de quem já vislumbra a tênue claridade do espírito na bênção do lar!
Minorar a situação generalizada da criatura do planeta, preparando-a para desencarnar com discernimento, é mister inadiável, a fim de não continuar a hibernação do corpo, no mundo espiritual, donde retornará sem haver-se percebido da grande transição transformadora e modeladora que lhe fará sofrer contingência mais precária de uma matéria limitada e obscura.
Quando cada homem esclarecido na verdade do espírito não concordar com o mundo materialista que o cerca, demonstrando pela conduta que, além da vida sensorial, há o mundo da energia pura e que, fora dos liames corporais, o mundo parafísico é uma realidade inequívoca, preparando as mentes, alertando-as, abrindo-as ao discernimento para melhor sentir e compreender, fácil será a renovação do Planeta.
Necessário, a seu turno, que esse homem medite diariamente quanto à sua vivência espírita, despojando-se, a pouco e pouco, dos enganos e equívocos, das prisões sem paredes, dos objetos e das paixões, de forma que se use, mas não se abuse, que conviva, mas não dependa, que experimente mas não se escravize às condições da aprendizagem corporal, onde se encontra transitoriamente realizando a marcha evolutiva, para que, em soando-lhe a hora da libertação, se lhe afrouxem os vínculos do cárcere corporal e possa ir mais rapidamente adquirindo a consciência da vida nova, que o deslumbra, fazendo a ponte de união com as experiências antes do berço, enriquecido pelos valores adquiridos durante a viagem do corpo que lhe assoma como bênção de luz, glória da vida, tesouro indestrutível, que lhe cumpre preservar, no rumo da sua libertação imortal.
 Letícia


por Hernani T. Sant’Anna
in Em Busca da Verdade(1ª Ed ‘Auta de Souza’ – 1996)



[1] Do Blog: brilhar, cintilar, luzir com pouco brilho.
[2] Do Blog: Dissolução de tecidos orgânicos.
[3] Do Blog: Cuja forma aparente evoca a de um ser humano.


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