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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

'Mestre, repreende os teus discípulos...'


Mestre,
repreende os teus discípulos....

por  Francisco Thiesen


in ‘Reformador’ (FEB) Janeiro 1972

            “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação,” (II Pedro, 1:20)

            “É razoável que as interpretações se diferenciem na exposição das afirmativas individuais. Nas letras sagradas, a escada de Jacó não é um símbolo inútil. Cada ser descortinará o horizonte, segundo a posição em que se encontre na jornada ascendente do Espírito.”

            Ainda que estejamos aparentemente distanciados uns dos outros no setor das definições doutrinárias, encontramo-nos substancialmente identificados na mesma realização, porque somos discípulos imperfeitos do mesmo Mestre e humildes servos do mesmo Senhor.”

             (mensagem de Bittencourt Sampaio, pelo médium Francisco Cândido Xavier, publicada em “Reformador” de julho de 1946)

            Estudando o capítulo sétimo de João, vamos encontrar o Senhor em Jerusalém, depois de ter percorrido a Galileia. Nos seus cinquenta e três versículos identificamos os mais profundos sentimentos do Cristo, em meio às gerais murmurações dos fariseus e dos que com eles se achavam integrando a multidão. Quase todos lançavam suas definições sobre o Divino Mestre, apreciando-o segundo pontos de vista firmados em realidades de duvidosa autenticidade. As autoridades do Sinédrio mandam os guardas prenderem o Messias, mas eles retornam sem traze-lo, justificando-se aos sacerdotes do templo: “Jamais homem algum falou como este homem!...”

            Em Lucas, analisando as ocorrências da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém  (19:36 a 40), divisamos nas manifestações de alegria da multidão de discípulos, em altas vozes: “Bendito é o rei que vem em nome do Senhor! paz no céu e glória nas maiores alturas!”, mas outras vozes se fizeram igualmente ouvir: “Mestre, repreende os teus discípulos. Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos  que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão.”

            Ainda hoje, quase dois milênios após os sucessos que vimos de recordar, há os que louvam e os que negam, os que estudam e os que se abstém... Não faltam, também, embora poucos, aqueles que se omitem e postulam repreensão aos que estudam e perquirem.

            O Evangelho, em espírito e verdade, é estudado e divulgado no Brasil pela Federação Espírita Brasileira, desde a sua fundação, quando foi mantida orientação idêntica aquela que já era observada no “Grupo dos Humildes”, mais tarde “Grupo Ismael”, do qual se originou a Casa do Legado do Cristo na “Pátria do Evangelho”.
           
            É do Estatuto da FEB:

            “Art, 2º - Para os estudos a que se refere o nº I do artigo antecedente, a federação realizará duas ordens de sessões:
            I – doutrinárias, nos dias  e pelo modo que o Regulamento interno determinar, versando o estudo sobre as obras de Allan Kardec, a de J. B. Roustaing e outras subsidiárias e complementares da Revelação, atenta à sua progressividade e, notadamente, o estudo metódico, sistemático e intensivo do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo;”

            A Casa de Ismael, ciente e consciente de suas responsabilidades no ciclópico programa de espiritualização da Humanidade, prossegue proclamando o Cristo de Deus, à luz da Revelação do Consolador, com a tranquila certeza de sua missão no mundo terreno. E de que, portanto, as pedras continuarão silenciosas...

            Em relação ao Evangelho e à personalidade do Divino Fundador do Cristianismo, a atitude humana, muita vez, continua sendo aquela da época em que o nosso pequeno globo era considerado o centro do universo: os mesmos sentimentos que nortearam o geocentrismo revivem num antropomorfismo incongruente, que tudo quer reduzir ao nível e às proporções acanhadas de um estágio evolutivo ainda insatisfatório para o próprio homem.

            O Cristianismo, durante 13 séculos, desde o Imperador Focas à Codificação Kardequiana, não conseguiu maiores sucessos, não motivou os espíritos mais profundamente porque os sacerdotes não souberam comunicar-lhes o Espírito do cristo e da sua Mensagem, na genuína expressividade da sua grandeza divina, em sua progressiva manifestação de celeste vitalidade. Ao invés disso, agindo como infantes das coisas espirituais, atrelaram-se á letra, subestimaram o espírito, contrariando os ensinos do Mestre, e criaram um cristo e uma teologia à sua própria imagem e semelhança. Um Cristo humano, frágil, morto, com uma doutrina que sonegava até mesmo os textos escriturísticos. “O sacerdócio organizado costuma ser o cadáver do profetismo”. “A teologia, na maior parte das vezes, é o museu do Evangelho” (Jesus e César, mensagem de Emmanuel, por Francisco Cândido Xavier, “Reformador” de outubro de 1944).

            No prefácio do excelente estudo sobre a “Vida de Jesus” (2ª Edição da FEB), de Antônio Lima, Emmanuel (médium: Francisco Cândido Xavier; psicografia de 28 de outubro de 1936) nos dá, entre outros esplendidos pensamentos, os seguintes: “Todos os séculos estão cheios de livros, de poemas e referências ao Cordeiro de Deus. Mas os homens somente o tem visto, como veem o Sol, através de seus imperfeitos telescópios dos seus limitados conhecimentos.” “Ele é a claridade que as criaturas humanas ainda não puderam fitar e nem conseguiram compreender. Guiadas, em todas as épocas, pela sua infinita misericórdia, elas não sabem apreender-lhe a grandeza espiritual e, se muito já se lhe disse no mundo a respeito de sua vida na Terra e de sua personalidade, muito ainda se terá de dizer até que os homens lhe compreendam a excelsitude do ensinamento.”  “ Até que consigamos  a realização do nosso ideal (cristianização para o renovamento das energias do mundo), que se elucide, que se ensine e, sobretudo, que se ame muito, dentro do Evangelho. Da sua prática depende o sentimento de compreensão acerca do Divino Mestre.”

            Antes de prosseguir neste trabalho – para nós amena e luminosa jornada pelo mundo fascinante do livro espírita, de ilimitado horizonte, empreendida sob a convicção de que o “Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação” (Emmanuel), e de que, depois da oração, o livro é a única escada pelo qual o Céu pode descer à Terra” (Irmão X) -, devemos repetir que o nosso propósito não é o de discutir o mérito das teses que se contém na obra “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, mas examinar o que existe sobre o assunto, suscitando o estudo que gera o esclarecimento e a divulgação das referidas teses. É que, no mérito, penetram outros estudiosos, de competência incontestável. (O Evangelho Redivivo, “Reformador” de março de 1971). Prevenindo dúvidas, declaramo-nos desde já, porque desde sempre, adepto das referidas teses que reputamos de alto mérito.

            A família espírita é fraterna por formação e é a ela, na simplicidade das suas assembleias, e, individualmente, aos seus membros, no silêncio de suas meditações, que nos dirigimos, inspirados nestes ensinos:

             “Outros expositores da Verdade e do bem serão ouvidos de cátedras e tribunas, através de simpósios e multidões, porquanto nós todos precisamos da Verdade e do Bem, do vértice á base da pirâmide da Vida. A ti, porém, coube a tarefa de explicá-los nas assembleias familiares de dia-a-dia, conchegando o povo ao regaço da própria alma.  Recorda, no entanto, que se jesus foi infinitamente grande no tope dos montes ou nos cenáculos privativos para as revelações do Evangelho, jamais foi menor nos barcos humildes ou no clima poeirento da estrada, quando atendia aos irmãos que o buscavam, sedentos de consolo e famintos de luz” (Encontro Marcado”, de Emmanuel, por Francisco Cândido Xavier), 3ª Edição da FEB).

            É interessante demonstrarmos a plena viabilidade, entre estudiosos sinceros e leais, no campo do Espiritismo, do entendimento fraterno, evangélico, não obstante naturais divergências a respeito de determinados pontos. Referimo-nos a divergências sem dissensões, como é desejável na vivência entre espíritos que aspiram ao conhecimento de si mesmos. Cairbar Schutel, o valoroso espírita de Matão, SP, num de seus inúmeros livros de divulgação evangélica, assim se pronunciava, quando encarnado: “O conhecimento de Jesus só se pode ter pela Revelação” (página 79). “O corpo de Jesus é uma dessas questões que tem provocado celeuma, mesmo entre espíritas ilustrados. Essas discussões, longe de serem perniciosas, são indispensáveis para o esclarecimento da inteligência e se apresentam no presente momento como demonstrações do pensamento livre, tendendo, portanto, à verdade, pela evolução”. (os grifos são nossos). “É claro que, para nós, o corpo de Jesus era muito mais aperfeiçoado do que o nosso, pois diz o provérbio: mens sana in corpore sano”... (pág. 254 de “O Espírito do Cristianismo”, 4ª edição de O Clarim). No entanto, Cairbar Schutel prefere não tratar dessas questões e declara que para não negar Jesus ele não lhe nega natureza material. Hoje, como Espírito sem os liames da carne, naturalmente terá percebido que só por mera sutileza de interpretação não concluíra com o apóstolo Paulo que “nem toda carne é a mesma carne”, embora tenha iniciado correto raciocínio nesse sentido.

            O Espírito Néio Lúcio, referindo-se às peregrinações humanas junto aos túmulos de Maomé, Carlos V e Napoleão, em que se conservam ossos ou cinzas, recordando efêmeros triunfadores do mundo, assevera:
            “Com Jesus, todavia, é diferente. No túmulo de Nosso Senhor, não há sinal de cinzas humanas. Nem pedrarias, nem mármores de preço, com frases que indiquem, ali, a presença da carne e do sangue. Quando os apóstolos visitaram o sepulcro, na gloriosa manhã da Ressureição, não havia aí nem luto, nem tristeza. Lá encontraram um mensageiro do reino espiritual que lhes afirmou: “não está aqui”. E o tumulo está aberto e vazio há quase dois mil anos” (“Alvorada Cristã”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, 4ª edição da FEB). E se a Ressureição não é de carne...  

            Depois de algumas transcrições de autores espirituais de incontestável sabedoria, alguns leitores poderão objetar: por que esses Espíritos não expõem de forma mais direta e claramente o seu pensamento, de sorte que não reste dúvida na mente da cada um? Pois está parecendo que, reunidos os elementos esparsos, as teses por inteiro recebem a irrestrita ratificação do Alto. Para não nos alongarmos, diríamos simplesmente que, além dos próprios Evangelistas, dos Apóstolos e de Moisés, responsáveis pelos ditados da obra “Os Quatro Evangelhos” (precisaríamos de alguma autoridade além da dos Evangelistas?) coordenados por J. B. Roustaing, os Espíritos Humberto de Campos e Emmanuel foram incisivos: o primeiro. quanto à missão de Roustaing, na Codificação Kardequiana (cf. “Brasil, Coração do Mundo, Pária do Evangelho”) e o outro, que é o orientador da obra do livro espírita, quanto à tese mesma, no prefácio  ao livro “Vida de Jesus”, cuja leitura, na íntegra, a todos recomendamos. Diríamos, ainda, que no tocante às questões mais complexas, profundas, os Grandes mentores se pronunciam com extrema habilidade, a fim de que as nossas inquietações e insuficiências não turvem, por movimentação desordenada, o rio de linfa pura que nos há de dessedentar. Diríamos mais, concluindo, que os Espíritos Superiores, recomendando-nos insistentemente a oração, a meditação, o estudo, a prática do bem, desejam justamente que nos aprimoremos espiritualmente, capacitando-nos a maior amplitude de percepção da Verdade: “ À medida que nos integramos nas próprias responsabilidades, compreendemos que a sugestão direta nas dificuldades e realizações do caminho devem ser procuradas com o Supremo Orientador da Terra.  Cada Espírito, herdeiro e filho do Pai Altíssimo, é um mundo por si, com as suas leis e características próprias. Apenas o Mestre tem o bastante poder para traçar diretrizes individuais aos discípulos” (Obreiros da Vida Eterna”, de André Luiz, por Francisco Cândido Xavier, págs. 48/9 da 8ª edição da FEB).

            Os leitores que conhecem a maioria dos livros psicografados em Pedro Leopoldo e Uberaba, por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, sabem que Emmanuel, com a sublime responsabilidade de dirigente espiritual do programa global do livro espírita, é o prefaciador de cada publicação original, ressalvados um ou outro caso de obra psicofonicamente obtida ou de alguma antologia de ditados mediúnicos já publicados. Mas, há um caso especial, o do Espírito Humberto de Campos, cujos livros, com exceção de um único, não contém prefácios seus: são doze obras, as últimas sete sob o pseudônimo Irmão X. A exceção a que nos referimos é nada mais nada menos que o importantíssimo livro-programa do Brasil: “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”  E não é só. Sobre o referido livro, Emmanuel faz ainda menção em “A Caminho da Luz”, informando que ele “foi a revelação da missão coletiva de um país”, enquanto que o seu “consistirá, tão somente, em apontamentos à margem da tarefa dos grandes missionários do mundo e de povos que já desapareceram, esclarecendo a grandeza e a a misericórdia do Divino Mestre”.

            Pois o livro revelador da missão coletiva do Brasil é justamente aquele que declara ter sido João Batista Roustaing o incumbido de “organizar o trabalho da fé”, coadjuvando o Apóstolo Allan Kardec na Codificação do Espiritismo, e que apresenta, em detalhes, a atividade do Anjo Ismael, como Legado do Cristo, coordenando e orientando os acontecimentos no âmbito de suas responsabilidades junto aos Espíritos que lhe foram confiados, inclusive no atinente à organização e funcionamento de sua Casa e à convocação de seus dirigentes, até Bezerra de Menezes.

            Estudiosos das verdades celestes, busquemos a inspiração das Esferas Sublimadas, que nos abra perspectivas de compreensão ao Espírito naquilo que transcende às aspirações do imediatismo contemporâneo, porque só assim seremos dignos de “seguir as pegadas de Jesus”, pois “é preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira – ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas” (“Nosso Lar”, de André Luiz, por Francisco Cândido Xavier, 12ª edição da FEB).


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