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sábado, 10 de setembro de 2011

A Extraordinária Personalidade de Jean-Baptiste Roustaing


A Extraordinária personalidade
de Jean-Baptiste Roustaing’

‘Reformador’ (FEB) - (Setembro 1971)

Autor:  Indalício Mendes
         
   “Uma ideia não atravessaria os tempos, sempre firme e sempre grande, vencendo todos os obstáculos que a maldade dos homens lhe tenha anteposto, se não fosse a eterna e indestrutível verdade”. Eça de Queiroz

            O sucesso em que se constitui o lançamento da quinta edição brasileira de “Os Quatro Evangelhos”, pelo Departamento Editorial da Federação Espírita Brasileira, animou-nos a tentar realizar um escorço biográfico de ilustre coordenador e divulgador da revelações de Espíritos superiores, através da excelente mediunidade da senhora Emília Collignon, na histórica cidade francesa de Bordéus. Evidentemente, não prescindo da indulgencia dos que o lerem.
            Jean-Baptiste Roustaing, nascido em 1806, em Bordéus, experimentou as vicissitudes que costumam marcar profundamente a vida das criaturas humanas dotadas de grande sensibilidade. Sua juventude foi difícil e trabalhosa, no seio da pobreza. Determinado a transpor os obstáculos que se lhe ofereciam para estudar, airou-se denodadamente ao trabalho, buscando ao mesmo tempo instruir-se, embora o extraordinário esforço afetasse suas reservas físicas, pois não dispunha de tempo suficientes para o repouso necessário. Por vezes, parecia-lhe o empreendimento verdadeira ‘tarefa de Sísifo’, porque, dada a sua carência de meios, o progresso se fazia lentamente, ainda que sem solução de continuidade.

Os primeiros Sucessos

            Cheio de fé em Deus, Roustaing em nenhum momento se deixou vencer pelo desânimo, fazendo-se professor de Literatura e Ciência, a princípio em Toulouse, de 1823 a 1826, a fim de custear os estudos das Leis e do Direito, conseguindo, finalmente, doutorar-se em Advocacia, profissão que passou a exercer, em Paris, de 1826 a 1829, até fixar-se em Bordéus, sua cidade natal, onde se destacou como jurisconsulto, por sua cultura, pelo equilíbrio e segurança de seus pronunciamentos, bem como por sua dinâmica operosidade. Não tardou a granjear a admiração e o respeito de seus concidadãos, a tal ponto que a autoridade moral e o prestígio que possuía naturalmente se impuseram, entre nomes indiscutivelmente ilustres, a escolha do seu nome para Bastonário da famosa Ordem dos Advogados de Bordéus[1]. Já então, Roustaing era homem material e economicamente realizado, desfrutando de uma situação invejável, por sua probidade, cultura jurídica e bondade.

Estafa Providencial

            Em consequência do excesso de trabalho, em janeiro de 1858 foi ele acometido de grave e longa enfermidade e somente em 1861 ficou plenamente restabelecido e pode voltar ao exercício de sua profissão. Reiniciava, dessa maneira, as labutas nos tribunais e no gabinete, trinta anos de uma atividade notável a serviço do Direito e da Justiça. Crendo em Deus, mas intimamente infenso a credos religiosos eivados de superstições e conceitos dogmáticos, Roustaing punha-se em constantes meditações a respeito do Cristianismo de Jesus, tão diverso do pseudocristianismo que cada vez mais se distanciava da doutrina fixada pelo Mestre em suas inolvidáveis parábolas e no monumental sermão do monte. Por essa época, a França continuava vibrando com os fenômenos das chamadas “mesas girantes”, mas já se falava muito em “comunicações de Espíritos”. Um amigo médico, de sua cidade, lhe falou da possibilidade de tais comunicações do mundo corpóreo com o mundo espiritual. Como já havia sido publicado “O Livro dos Espíritos”, falava-se em doutrina e ciência espíritas, como fruto dessas mensagens, tendo como objetivo uma revelação geral. Roustaing mostrou-se em tanto incrédulo, mas seu espírito perquiridor o induziu a procurar saber a razão dos acontecimentos que preocupavam tanta gente e dos quais a imprensa tratava, o mais das vezes, com sarcasmo.  O mesmo acontecera com o eminente Codificador do Espiritismo, Allan Kardec. Roustaing confessou deste modo o seu inicial ceticismo: “Minha primeira impressão foi a de incredulidade devida à ignorância, mas eu bem sabia que uma impressão não é uma opinião e não pode servir de base ao julgamento; que, para isso, é necessário, antes de tudo,nos coloquemos em situação de falar com pleno conhecimento de causa. Sabia e sei ainda ser ato de insensatez aprovar ou repudiar, afirmar ou negar o que se não conhece em absoluto, ou o que se não conhece bastante, o que se não examinou suficientemente e aprofundou sob o duplo ponto de vista teórico e experimental, na medida das faculdades próprias, sem prevenções, sem ideias preconcebidas.” Essa maneira de proceder retrata a vigorosa personalidade desse home austero, mas cordial e comunicativo. Compreendeu que não mais poderia permanecer indiferente ao movimento inusitado que vinha interessando a tanta gente. Respeitador de todas as crenças, tolerante e conciliador, era devoto da liberdade de opinião e da liberdade de consciência. Apesar de crer em Deus, não aceitava o que as interpretações humanas ensinavam relativamente a Jesus e ao Evangelho, para ele ainda obscuros e incompreensíveis, dado os aspectos de milagroso e sobrenatural – no sentido geralmente dado a essas palavras, de derrogação das leis da Natureza – que a inteligência recusava. Aquela estafa que o afastara das preocupações profissionais permitira-lhe tomar conhecimento do que se passava pela Europa, no tocante a revelações demasiado fortes para poderem  ser aceitas sem prévia análise. bem certo é o ditado de que “Deus escreve certo por linhas tortas”.

No limiar da verdade espiritual       
                                                                                    
            Decidido a investigar o que de real havia no que lhe dissera o clínico amigo, procurou informar-se cientificamente, primeiro pelo estudo e pelo exame, depois pela observação e pela experimentação, do que pudesse haver de possível, de verdadeiro ou de falso, nessa comunicação entre o mundo corporal e o mundo espiritual, nessa doutrina e ciência espíritas, que tão profundamente impressionaram as classes sociais.
            Leu, estudou “O Livro dos Espíritos”, subscrito por Allan Kardec, meditou sobre o que nele se encontra, analisou demoradamente cada capítulo, com a frieza de quem não deseja senão encontrar algo de sério, que mereça a atenção de um homem culto e objetivo. A que conclusão chegou? Vejamos a sinceridade que ressuma do seu depoimento franco: “Nas páginas desse volume encontrei: uma moral pura, uma doutrina racional, de harmonia com o espírito e progresso dos tempos modernos, consoladora para a razão humana; a explicação lógica e transcendente da lei divina ou natural, das leis de adoração, de trabalho, de reprodução, de destruição, de sociedade, de progresso, de igualdade, de liberdade, de justiça, de amor e de caridade, do aperfeiçoamento moral, dos sofrimentos e gozos futuros.”
            O depoimento é extenso e pormenorizado, referindo-se também à pluralidade dos mundos, das humanidades, das existências, à lei do renascimento ou reencarnação;  “à inferioridade moral dos homens do nosso planeta, à inferioridade intelectual acentuada relativamente às leis a que estão sujeitos na Terra os diversos reinos da Natureza e às leis naturais a que obedecem os mundos e as humanidades superiores, por meio das quais aquelas leis se conjugam na unidade e na solidariedade”.         
           Nunca lemos apologia mais justa, mais precisa, mais bela e profunda a “O Livro dos Espíritos”, e ás revelações que enriquecem suas páginas, do que essa. Procedeu Roustaing da mesma maneira em relação a “O Livro dos Médiuns”, concluindo que “o mundo espiritual era bem o reflexo do mundo corporal”. Todavia, o seu exigente espírito investigador não estava ainda satisfeito, após o meticuloso estudo que realizara. Consultou a História, compulsou livros de filosofia profana e religiosa, antiga e recente, pensadores e poetas que refletem as crenças e os costumes dos tempos, verificando, por fim, que eram ensinados “desde a antiguidade até hoje, num amálgama de ERROS e VERDADES, dispersas e ocultas aos olhos das massas, os princípios que a doutrina e a ciência espíritas vieram por em foco: 1º) – a pluralidade dos mundos e sua hierarquia; 2º) – a pluralidade das existências e sua hierarquia; 3º) – a lei do renascimento; 4º) – as noções da alma no estado de encarnação e no de liberdade e as de seus destinos”. 
            Perlustrou, com a paciência e a profundeza de um sábio, os livros das duas precedentes revelações, o Antigo e o Novo testamento, leitura que abandonara outrora por obscura e incompreensível, mas que, graças à doutrina e à ciência espíritas, se lhes apareciam agora revestidas de luz, permitindo-lhe divisar alguma coisa através do véu da letra. Sua inteligência e sua razão compreenderam e reconheceram. “nesses livros sagrados, ser um fato a comunicação do mundo espiritual com o mundo corporal, comunicação que, na ordem divina, providencial, é o instrumento de que se serve deus para enviar aos homens a luz e a verdade adequadas ao tempo e às necessidades de cada época, na medida do que a Humanidade, conforme o meio em que se acha colocada, pode suportar e compreender, como condição e elemento do seu progresso”.
           “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns” foram para Roustaing a bússola que lhe indicaria o caminho para a missão que Espíritos superiores lhe reservariam em futuro próximo.                                                                                                                                    

 Dentro da Verdade Espírita              
                                                                               
            Certificando-se de que, em Bordéus, havia, no seio das mais distintas famílias, médiuns experimentados, Roustaing deles se aproximou e com eles entrou em relações, interessado nos trabalhos de observação e experimentação, no terreno das manifestações inteligentes, bem como das manifestações físicas, que desfaziam preconceitos e repeliam opiniões apriorísticas.       
           Na véspera do dia 24 de junho de 1861, dirigiu fervorosa prece a Deus para que permitisse a manifestação mediúnica do Espírito João Batista, pois tinha então a companhia de um médium que com ele se entregava a trabalhos diários. Deprecara também a graça da manifestação do Espírito de seu pai e do seu guia protetor. Essas manifestações se produziram espontaneamente, com surpresa do médium, que ignorava suas preces. Roustaing sentiu-se feliz, pois ficara provado que sua súplica fora ouvida e que Deus o aceitara por seu servo.
            A 30 do mesmo mês, manifestou-se o Espírito do apóstolo Pedro, de modo inesperado para ele e para o médium. Viera preveni-lo da época em que poderia e deveria reunir e publicar as mensagens recebidas, de tão alto interesse para a compreensão e interpretação dos Evangelhos. Em dezembro do mesmo ano, 1861, foi-lhe sugerido espiritualmente que fosse visitar uma senhora de nome Emília Collignon, que desenhara mediunicamente um grande quadro, representando um aspecto dos mundos que povoam o espaço. Lá esteve, voltando oito dias depois para agradecer o acolhimento que tivera. Quando se preparava para sair, a Sra. Emília Collignon, médium de grande sensibilidade, sentiu na mão o sinal, a agitação fluídica bem conhecidas dos médiuns, indicadora da presença de um Espírito desejoso de se manifestar. A pedido de Roustaing, a senhora aquiesceu em se prestar à manifestação mediúnica e, no mesmo instante, a mão, fluidicamente dirigida, escreveu uma mensagem na qual, a ele, Roustaing, tal qual sucedera a Allan Kardec, com relação ao Espírito Z (Zéfiro), foi dito:         
                                                                                
Aurora da Terceira Revelação evangélica

            “Metei mão à obra, pois que os Espíritos indecisos flutuam entre a dúvida que lhes é semeada nos corações e a fé de que precisam; seus olhos nada mais podem distinguir nas trevas de que os cercaram e buscam no horizonte uma luz que os ilumine e sobretudo que os tranquilize. Cumpre que essa luz lhes seja mostrada, porquanto desapareceu a confiança que depositavam nos dogmas da Igreja; falta-lhes esse apoio. Apresentai-lhes o esteio sólido da nova revelação.”              
           A mensagem prossegue, é longa, e termina desta maneira altamente expressiva:
            “A vós, pioneiros do trabalho, cabe a tarefa de preparar os caminhos, enquanto esperais que Aquele que há de vir para traçar o roteiro comece a sua obra. Com esse objetivo, nós, ó bem amados, vimos incitar-vos a a que empreendais a explicação dos Evangelhos em espírito e verdade, explicação que preparará a unificação das crenças entre os homens e à qual podeis dar o nome de REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO. São chegados os tempos em que O ESPÍRITO QUE VIVIFICA substituirá a letra que produziu frutos, de acordo com as fases e as condições do progresso humano, e que AGORA MATA, se mal interpretada. Ponde-vos à obra; trabalhai com zelo e perseverança, coragem, atividade e não esqueçais nunca que sois instrumentos de que Deus se serve para mostrar aos homens a verdade; aceitar com simplicidade de coração e reconhecimento o que o Senhor vos dá; tende sempre nos vossos pensamentos e atos a humildade, a caridade, a abnegação, o amor e o devotamento aos vossos irmãos e sereis amparados e esclarecidos.”   
           “Quando todos os materiais estiverem reunidos e for chegado o momento de se tornar conhecida, de publicar-se esta obra, destinada a congregar todos os dissidentes de boa fé, ligando-os por um pensamento comum, sereis prevenido. – Dezembro de 1861 – MATEUS, MARCOS, LUCAS, JOÃO, ASSISTIDOS PELOS APÓSTOLOS.”  
            Em 1865, todos os materiais estavam prontos, tanto a respeito dos Evangelhos, como dos Mandamentos. Então, Roustaing pode confidenciar: “O aviso de dar a conhecer aos homens, de publicar a obra da revelação, me foi espontânea e mediunicamente transmitido EM TERMOS PRECISOS.”       
                                                                                  
Despenseiro Fiel                
                                                                                                           
            Jean-Baptiste Roustaing foi um “despenseiro fiel”, pois cumpriu cabalmente a tarefa recebida. E de que maneira o fez! O importante trabalho dos Espíritos foi recebido, coordenado e pronto por duas pessoas que, oito dias antes da manifestação acima referida, não se conheciam! A Sra. Emília Collignon era médium inconsciente, de modo que, cessado o transe mediúnico, de nada se lembrava. E, quando tomava conhecimento da natureza dos ditados, manifestava sua divergência de opinião. Era, portanto, um instrumento mecânico a serviço do Alto.                  
            Roustaing, reconhecido, mas humilde e cada vez mais cheio de fé, declarou: “Mero instrumento, cumpri um dever executando tal ordem, entregando á publicidade esta obra, que poe em foco a essência de tudo o que há de devotamento, de abnegação e de sentimentos fraternais em Jesus, chamado o Cristo, que tão bem mereceu o título de Salvador do Mundo, de Protetor da Terra!” “Como vemos – acentuou o inesquecido Ismael Gomes Braga – Roustaing, como enviado especial para auxiliar o trabalho do Codificador, passou pelas mesmas fases e sofreu igualmente como o missionário-chefe – Allan Kardec.”     
 
Consagração Póstuma

            Na “Revue Spirite” de junho de 1861, KARDEC, ao referir-se a uma carta que lhe enviara Kardec, ao referir-se a uma carta que lhe enviara Roustaing, assim se manifestou: “Os princípios que aí estão expressos, por um homem cuja posição o coloca entre os mais esclarecidos, darão que pensar aos que, supondo possuírem o privilégio da razão, arrolam todos os adeptos do Espiritismo entre os imbecis. Vê-se que Roustaing, apesar de recentemente iniciado, se tornou mestre em matéria de apreciação; é que ele tem séria e profundamente estudado, o que lhe permitiu apreender rapidamente todas as consequências dessa importante questão do Espiritismo (a reencarnação), e que, ao contrário de muitos, ele não ficou na superfície. Nada ainda vira, disse ele, e se convencera porque havia lido e compreendido. Isso sucedeu a muitas pessoas, e temos sempre observado que elas, longe de serem superficiais, são, ao revés, as que mais refletem; aplicando-se mais ao fundo que à forma, para elas a parte filosófica é o principal, e os fenômenos propriamente ditos o acessório."                                                                                                                            
            Mais adiante, Allan Kardec reconhece Roustaing como espírita sério (“spirite sérieux”), justificando: “Pelas citações que o autor dessa carta faz de pensamento contidos em comunicações por ele recebidas, prova que não se limitou a admirá-las como belos trechos literários, dignos de serem conservados num álbum, mas que os estuda, sobre eles os medita e deles tira proveito.”       
            As honrosas referências de Kardec a Roustaing não ficaram nisso. Como Roustaing escrevera, ao final da carta, sentir-se dignificado em ser aberta e publicamente espírita, o Codificador o felicita por essa declaração, evidência do nobre caráter do missivista, acrescentando que “infelizmente nem todos tem, como ele (Roustaing), a coragem de suas convicções, e é isso que anima os adversários”.
            Quando Allan Kardec, em outubro de 1861, visitou a cidade francesa de Bordéus, a Sociedade Espírita local recebeu-o com todas as honras devidas a tão “amado e venerado chefe”. Um dos membros dessa Sociedade, o Dr. Bouché de Vitray, médico conceituado, a certa altura de seu discurso prestou homenagem especial a Roustaing, com essas palavras: “O reconhecimento me obriga, no dia de hoje, a inscrever nesta página o nome de um de meus bons amigos, que me descerrou os olhos à luz, o do Sr. Roustaing, advogado distinto, e sobretudo consciencioso, destinado a desempenhar papel saliente nos fastos do Espiritismo” (“Revue Spirite”, 1861, pág. 336)).  
           Consequentemente, ainda em vida, foi reconhecido o elevado mérito de Jean-Baptiste Roustaing, muitas outras vezes ressaltado em diversas oportunidades.              
            Referir-nos-emos à sua consagração póstuma, ao reconhecimento pleno do seu valor humano, como homem de excelente caráter, de extraordinária cultura jurídica, enfim, como figura merecedora, como demonstrou, da confiança dos Espíritos que o escolheram para dar à humanidade “Os Quatro Evangelhos”, obra imortal, que Allan Kardec afirmou “encerrar, incontestavelmente, coisas boas e verdadeiras, e que será consultada com proveito pelos Espíritas sérios” (“Revue Spirite”, 1866, pág.192).                                       
            Desencarnado a 2 de Janeiro de 1878, dez anos depois de Kardec, teve Roustaing a seguinte nota necrológica na “Revue Spirite” desse ano: “O nosso irmão e amigo extinguiu-se corporalmente, a 2 de janeiro de 1879, em Bordéus, com a idade de 73 anos, cheio de fé e de esperança no progresso desta bela doutrina que vem de Deus e da qual foi ele um dos mais ardentes apóstolos, dos mais inteligentes e mais dedicados. Sua grande e bela alma nenhum pesar sentia por deixar este mundo: pesava-lhe unicamente o deixar inacabada a sua obra. Dessa ideia, porém, logo se recobrava, dizendo: “Voltarei; Deus me concederá a graça de retomar e continuar a minha obra, de trabalhar pelo progresso moral e material dos meus irmãos.”  
            “Todos os que o conheceram creem plenamente na sinceridade das suas aspirações, porquanto ele era ambicioso de virtudes e ávido de verdades celestes.  

            SUA VIDA SE ASSINALOU POR EMINENTES ATOS DE CARIDADE E DE BENEFICÊNCIA, SUA PASSAGEM PELA TERRA FICOU EXALÇADA POR EXEMPLOS CONSTANTES NA PRÁTICA DE TODAS AS VIRTUDES CRISTÃS, DOTADO DE GRANDES APTIDÕES PARA O TRABALHO, SEMPRE OS EXECUTOU ATIVAMENTE; NO FORO, ATÉ 1861; DEPOIS, ATÉ A MORTE, EM LABORES FILOSÓFICOS E RELIGIOSOS, ENSINOU PELA PALAVRA E PELO EXEMPLO, HUMILDE DE ESPÍRITO E DE CORAÇÃO, SEMPRE DEU GENEROSAMENTE DO QUE TINHA AOS QUE NÃO TINHAM. 
        
            “Ficai certos, dizia, nas reuniões mensais a que presidia, que para o outro mundo não se leva senão o que neste se deu, e que aquele que dá é que tem de agradecer.”

Abençoado pelo bem que fez     
                                                                                                                                                                A mesma revista “Revue Spirite”, em 1879, ao referir-se aos “mortos” do ano, teve, entre outras palavras de reconhecimento ao caráter e aos méritos de Roustaing, as seguintes:
            “Deixou a reputação de um espírito justo, leal, íntegro, amigo do progresso. Que seja abençoado pelo bem que fez.”                                                                                       Não é de surpreender, portanto, que os Espíritos de alta hierarquia, hajam escolhido Jean-Baptiste Roustaing para levar a termo a grandiosa obra intitulada “Os Quatro Evangelhos”. Somente um homem de tal elevação moral e intelectual poderia assumir a pesada responsabilidade de ligar seu nome, conhecido e respeitado, a um empreendimento que havia de suscitar, como tem suscitado, controvérsias, em virtude de conter, de maneira clara, lógica, inteligível e positiva, elementos convincentes a respeito da personalidade de Jesus. Nuca, porém, Roustaing defrontou adversários de superior gabarito, porque a excepcionalidade de “Os Quatro Evangelhos”, como poderoso instrumento de elucidação, hermenêutica e didática, restringiu as reduzidas oposições surgidas esporadicamente. Os argumentos contrários invocados sempre careceram de capacidade persuasiva e se cingiam, apenas, à questão do corpo fluídico. Allan Kardec, o insigne Codificador do Espiritismo, não foi adversário de Roustaing, teve uma opinião pessoal sobre a questão do corpo de Jesus, mas assim se externou, na “Revue Spirite” de junho de 1867, ao registrar o aparecimento dessa trabalho: julgou-o “considerável e com o mérito de não estar em contradição, por qualquer dos seus pontos, com a doutrina ensinada no “O Livro dos Espíritos” e no dos “Médiuns”, E QUE ELE, Kardec, não havia julgado oportuno fazê-lo antes que a opinião geral estivesse familiarizada com a ideia espírita”. “Nesse mesmo artigo, Kardec nem aprovou e nem reprovou a obra de Roustaing; no entanto, criticou-a por ser muito desenvolvida e, apesar de admitir como razoável e possível a teoria do “corpo fluídico”, declarou-a hipotética, enquanto não fosse confirmada no futuro.” (“Resumo histórico do Espiritismo – W. – “Reformador”, novembro de 1945, pág. 261).              
            “Quanto a esse ponto único, Kardec foi prudentíssimo e sua reserva só pode aumentar nosso respeito por ele, pois que naquela época não estavam perfeitamente estudadas as materializações, tanto assim que o próprio Kardec ainda supunha “não passarem de uma aparência fluídica e que a nossa mão nenhuma resistência experimentaria ao tocar as aparições”. Só muito mais tarde foi suficientemente estudado o fenômeno das materializações e ficamos sabendo que podem as aparições ter toda a consistência de matéria compacta, servir de original para moldes de parafina, ter peso verificado pelas balanças, órgãos em perfeito funcionamento, examinados por fisiologistas, confirmando, assim, plenamente, certas aparições registradas no Velho e no Novo Testamento. Isso só veio a ficar bem demonstrado com as materializações de Katie King, pela mediunidade de Florence Cook e, mais tarde, por muitos outros médiuns em diversos países. Com a responsabilidade de Codificador, não aprovando nem reprovando a obra de Roustaing, Kardec “deixou ao tempo o encargo de a sancionar ou contraditar”, e o tempo cumpriu o seu dever galhardamente, porque, oitenta anos mais tarde, a obra está plenamente sancionada.
            Ambos os livros transcrevem do Velho Testamento o Decálogo e demonstram sua concordância com os ensinos de Jesus e dos Espíritos, ou seja, a unidade eterna da Revelação divina” (Kardec-Roustaing –II- “Reformador”, novembro de 1946, pág. 249).                    Deixamos acima alguma coisa a respeito de Jean-Baptiste Roustaing, o responsável terreno pelos extraordinários ensinamentos ditados por Espíritos superiores, graças  à mediunidade psicográfica da Sra. Emília Collignon. Essa obra magnífica, profundamente cristã e espírita, complementa, sem a menor sombra de dúvida, o trabalho estupendo, grandioso, de Allan Kardec, não apenas na parte intrinsicamente evangélica, mas também na tipicamente espírita. Através deste modestíssimo escorço biográfico, aqueles que pouco conhecem a personalidade pujante de Roustaing podem ter uma ideia de sua envergadura, dos predicados morais e culturais que justificaram sua eleição para reunir, concatenar, ordenar, em suma, as revelações contidas em “Os Quatro Evangelhos”.
            Sem elas, muitos pontos dos Evangelhos permaneceriam obscuros, ilógicos, ininteligíveis, incompreensíveis e mitológicos. Os Evangelistas, assistidos pelos Apóstolos e Moisés, vieram rasgar o véu espesso da letra, que impedia a expansão da luz incomparável, vedada porque os tempo ainda não haviam chegado, pois, segundo o Eclesiastes, “tudo tem a sua ocasião própria e todo o propósito debaixo do céu tem o seu tempo”. E, ao atingirem a 5ª Edição, “Os Quatro Evangelhos” ratificam uma vitória que cada vez mais se solidifica, à medida que aumenta o número daqueles que preferem a “letra que mata”, ao “espírito que vivifica”.




[1] Bastonário – Chefe ou Presidente da ordem dos Advogados (em França), numa Corte ou num Tribunal. Esse título honroso era conferido ao advogado escolhido entre outros da maior cultura jurídica e de reconhecida probidade pessoal  e profissional. Constituía uma distinção,uma homenagem à dignidade da pessoa distinguida com tão honrosa preferência. 

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