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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

'Elos Doutrinários' (Ed. FEB)



Elos Doutrinários”
de Ismael Gomes Braga
(3ª Ed. FEB - 1978)

.......... A Confirmação Necessária ........

     Diante de inúmeras mensagens que, psicograficamente, vêm sendo recebidos do Alto, por vários médiuns, dentre os quais convém destacar três que já têm publicadas grandes obras consagradas pelos mais cultos espíritas, parece-nos oportuno fazer uma síntese que permita se evidencie estar sobejamente demonstrado ter sido Kardec um notável missionário, auxiliado por outros companheiros, ressaltando-se, dentre estes, a personalidade de Roustaing, como encarregado de organizar o trabalho da fé, dando confirmação às duas Revelações anteriores.

     Os três médiuns a que nos referimos são Zilda Gama[1], América Delgado[2] e Francisco Cândido Xavier[3]. Deixamos de citar outros por não estarem ainda conhecidos por meio de obras de grande significação doutrinária.

     A Primeira Revelação abrange todo o Velho Testamento e anuncia a vinda do Messias em muitas profecias, das quais basta citarmos o primeiro livro de Moisés, “Gênesis”, cap. 49, v. 10.

     “Não se afastará de Judá o cetro, nem a vara do comando dentre seus pés, até que venha aquele de quem ela é, e a esse obedecerão os povos.”

     Isaías, cap. 7, v. 14:

     “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal; eis que uma donzela conceberá e dará à luz um filho, e por-lhe-á o nome de Emmanuel.”

     Esses dois eminentes vultos da Primeira Revelação, Moisés e Isaias, foram nominalmente citados e confirmados por Jesus como propostos de Deus, grandes profetas. Cumpridos os tempos, veio o Messias. Vamos transcrever o relato de dois evangelistas sobre o seu aparecimento:

     Mateus, cap. 1, vv. 18 a 23:

     “Ora, o nascimento de Jesus-Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, já desposada com José, antes que se ajuntassem, ela se achou grávida por virtude do Espírito Santo. José, seu marido, sendo reto e não a querendo  infamar, resolveu deixá-la secretamente. Quando, porém pensava nestas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo: José, filho de David, não temas receber a Maria, tua mulher; pois o que nela foi gerado é por virtude do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem chamará Jesus; porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emmanuel, que quer dizer – Deus conosco.

    Lucas, cap. 1, vv. 26 a 38

     “No sexto mês foi enviado da parte de Deus, o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de David; o nome da virgem era  Maria. Aproximando-se dela, disse: Salve! Altamente favorecida, o Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir estas palavras, perturbou-se muito e pôs-se a pensar que saudação seria esta. Disse-lhe o anjo: Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem chamarás Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David, e ele reinará eternamente sobre a casa de Jacob, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como será isso, uma vez que não conheço varão? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo virá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, o que há de nascer, será chamado santo, Filho de Deus. Isabel, tua parenta, também ela concebeu um filho na sua velhice, e já está no sexto mês aquela que era chamada estéril; porque nenhuma palavra, vinda de Deus, será impossível. Disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.  E o anjo retirou-se.”

      Os aparecimentos e desaparecimentos de Jesus, antes e depois do drama do Calvário, demonstraram a natureza excepcional de seu corpo, mas ficara reservado ao futuro, à Terceira Revelação, o confirmar e explicar essa concepção supranormal.

     Quando surgiu a obra “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing, Kardec notificou-lhe o aparecimento em sua revista, às páginas 190, 191 e 192, de junho de 1866, apresentando-a como obra considerável, com o mérito de não estar em contradição com a Doutrina ensinada em “O Livro dos Espíritos”, em “O Livro dos Médiuns” e em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (únicas obras até então transmitidas ao Codificador), ressaltando que ela continha ensinamentos incontestavelmente bons e verdadeiros, e que merecia consultada com proveito pelos espíritos conscienciosos.

     Como se tratasse de assuntos novos, completamente inéditos, quase, diríamos, revolucionários para os meios religiosos da época, Kardec, receoso de que os Espíritos não a aprovassem, receio esse não confirmado, pois que na imensa coleção de “Revue Spirite”, entre numerosíssimas comunicações publicadas, nem uma só encontramos contra a obra de Roustaing, Kardec, dizíamos, por precaução, e pesando sua responsabilidade de Codificador, declarou que ele não havia escrito uma obra semelhante, porque não a julgava oportuna, e que, apesar de a teoria do corpo fluídico de Jesus nada apresentar de impossível, ele não a aprovava e nem reprovava, até que os Espíritos se manifestassem, visto que a obra fora recebida por intermédio de um único médium.

     Vemos que a opinião de Kardec foi pessoal, mas, em vista do seu grande e inigualável valor, surgiram espíritas mais realistas do que o rei, os quais julgaram, erradamente, a prudente reserva de Kardec como condenação definitiva da obra, sem levar em conta que, hoje, a mesma já está com a única sanção que para ela exigia o mestre: a confirmação dos Espíritos.

     No Brasil, houve quem julgasse um crime a tradução da obra, e pusesse em dúvida a honra e a dignidade da médium Mme. Emilie Collignon e de Roustaing... para não irmos mais longe.

     Para que nossos confrades possam conhecer a opinião de Kardec sobre essas duas respeitáveis personagens, vamos transcrever a palavra do mestre mesmo, de “Revue Spirite” de 1861, páginas 167 a 172:

     “Os princípios que aí são altamente expressos (na carta que lhe escrevera Roustaing), por um homem cuja posição o coloca entre os mais esclarecidos, darão que pensar aos que, supondo possuírem o privilégio da razão, classificam todos os adeptos do Espiritismo como imbecis.

     “Vê-se que Roustaing, apesar de recentemente iniciado, tornou-se mestre em matéria de apreciação; é que ele tem séria e profundamente estudado, o que lhe permitiu apreender rapidamente todas as consequências da importante questão do Espiritismo, e que, ao contrário de muitos, não ficou na superfície.

     “Infelizmente, nem todos têm, como ele (Roustaing), a coragem de dar a sua opinião, e é isso que alimenta os adversários.

     Quando a Mme. Emilie Collignon, de Bordéus, médium absolutamente mecânica, dama da alta sociedade, e que, pessoalmente, não concordava com a teoria do corpo fluídico, enquanto os Espíritos a lançavam pelo seu lápis, transcrevemos a palavra de Kardec na página 288 da “Revue Spirite” de 1865, em noticiário por ele assinado:

     “Temos o prazer e o dever de chamar a atenção de nossos leitores para essa brochura (“Palestras Familiares sobre o Espiritismo”, por Mme. Collignon) que inscreveremos, com prazer, entre os livros recomendáveis.”

     A autoridade indiscutível de Kardec reconhecia, pois, na médium e no compilador de “Os Quatro Evangelhos”, criaturas superiores, capazes; e hoje, diante da aprovação geral por parte dos Espíritos, nós, espíritas conscienciosos que seguimos o conselho do Codificador, lendo e consultando a obra de Roustaing, temos o dever de aproximar as obras dos dois missionários, e não nos orientarmos por processos dissolventes, como procedem confrades de outros países, onde até hoje combatem a Codificação Kardequiana, por não aceitarem o a que chamam dogma da reencarnação.

     Toda a razão tinha Kardec em deixar a teoria do corpo fluídico para ser julgada pelos que lhe sucedessem, depois que os Espíritos se manifestassem, como ele mesmo veio a manifestar-se favoravelmente pela médium Zilda Gama e outros. Toda notícia do Além deve ser julgada com as mesmas precauções, e a responsabilidade do mestre era enorme; mas, ele mesmo teve a fortuna de inserir em sua revista, em 1868, págs. 45 a 55, numerosas comunicações de Espíritos que se apresentaram com nomes respeitáveis, assegurando todas elas que um novo Messias, que restabeleceria o Evangelho de Jesus Cristo, já estava encarnado, apesar de os comunicantes não estarem autorizados a revelar o lugar em que ele havia nascido (pág. 45).

     Em nota a essa mensagem, recebida em 1861 e publicada em 1868, escreveu o mestre:

     “Esta revelação é uma das primeiras que nos foram transmitidas, mas, outras lhe sucederam. Há muito tem vindo, espontaneamente, grande número de comunicações sobre o mesmo assunto, em diferentes centros espíritas da França e do estrangeiro.”

     E termina assim a nota:

     “Isto é um exemplo dos mais notáveis da simultaneidade e da concordância dos ensinos dos Espíritos, quando é chegado o tempo de uma questão ser apresentada.”

     Todos sabemos que os Espíritos, quando querem enganar, podem, igualmente, fazê-lo através de numerosos médiuns, e isso se teria verificado, se admitíssemos que Kardec fora ludibriado com tais comunicações, publicadas em sua revista, por não se haver confirmado o aparecimento de qualquer messias; mas, se concluirmos que Kardec não foi ludibriado, como cremos, aquelas mensagens, iniciadas em 1861, época em que o Evangelho de Jesus Cristo começou a ser mediunicamente explicado, em espírito, pelos próprios evangelistas e outros Espíritos, para dois livros diferentes – “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, no qual aparecem mensagens dos anos de 1859 a 1863, e cuja primeira edição apareceu em 1864, e “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing, recebido de 1861 a 1865, e publicado em 1866 -, somos de parecer que as referidas mensagens indicavam exatamente este acontecimento: preparação dos dois livros destinados a promover a compreensão e o revigoramento do Evangelho. Elas confirmavam-se: uma dizia que nasceu um novo messias, outras afirmavam que eram vários messias, e outras informavam que já eles estavam encarnados, na França.

     As coincidências das datas e o estudo em conjunto dessas comunicações, que tanto interessaram ao mestre, levam-nos à conclusão de que os Espíritos comunicantes não tinham permissão de revelar tudo, mas apenas de indicar vislumbres.

     Pelo conjunto das comunicações, podemos, hoje, concluir que a notícia real a transmitir seria esta:

- vários enviados (messias) desceram à Terra, procuraram dois iniciados encarnados na França, e retransmitiram-lhes o Evangelho de Jesus Cristo, restabelecendo-o, explicando-o, para duas obras que se completam, cada uma, porém, destinada a um público, conforme prometido para a época da vinda do Consolador. De tudo isso concluímos, com os Espíritos, que Kardec, o grande missionário, ao descer à Terra, veio acompanhado de vários missionários auxiliares: “Roustaing, para o trabalho da fé; Léon Denis, para o desdobramento filosófico; Delanne, para a estrada científica, e Flammarion, que nos desenharia as maravilhas das paisagens celestes.[4]

     As Três Revelações – Velho Testamento, Novo Testamento, Espiritismo – formam um todo inseparável, um conjunto único em sua essência, e não se pode atacar uma parte sem abalar todo o edifício. Quando um judeu nega o Cristianismo, um católico nega o Espiritismo, ou um espírita nega uma das Revelações anteriores, não percebem que estão minando sua própria fortaleza: a eternidade e universalidade das manifestações espirituais. Se não fosse confirmada a natureza excepcional do corpo de Jesus pelo Espiritismo, as duas Revelações anteriores teriam de cair, e o Espiritismo não subsistiria, porque tais aparições formam a base das três Revelações. Felizmente, está sobejamente confirmada a natureza excepcional do corpo de Jesus, em numerosas comunicações, e, com isso, consolidada a obra de Kardec, e confirmados o Cristianismo e o Judaísmo.

      Continuemos tranquilamente nossa tarefa.

     Que Deus nos abençoe a todos, dando-nos a graça de compreender os seus missionários, unindo-os definitivamente entre os homens, que, em sua estreita visão, tanta vez se servem das coisas mais sublimes como bandeira de separação e lutas. Graças a Deus, nada mais existe para que as obras dos dois mestres não nos guiem a todos, rumo ao futuro. Todas as incompreensões devem cessar.

    





[1] V. “Diário dos Invisíveis”, págs 241-63
[2] V. “Os Funerais da Santa Sé”, 3ª Ed., pág.69
[3] V. “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, capítulo XXII.
[4] “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, de Francisco Cândido Xavier, pág. 158, 1ª Edição, cap. XXII.

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