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sábado, 2 de julho de 2011

Homem, produto da evolução?



A Propósito de um
Centenário Darwiniano


Dr. Cristóforo Postiglioni
Reformador (FEB) em 05.1959

            Na confusão dos acontecimentos atuais, o homem da rua esquece que neste ano de 1959 se comemora o centenário de uma obra que revolucionou o pensamento da época, constituindo luminoso marco no progresso das ciências humanas.
            A Origem das Espécies” (The Origin of Species)  é o nome com que essa obra passou à imortalidade, juntamente com onze outras posteriores, nas quais o leit-motiv é a evolução, a ontogenia, a fitogenia, a adaptação ao meio, as variações, a seleção natural e outras questões biológicas anexas.
            O autor deste monumental e revolucionário repositório de teorias e fatos científicos foi Charles Robert Darwin, cujo sesquicentenário de nascimento se verificou em fevereiro p. passado.
            Cerca de um ano antes do aparecimento da mencionada obra, a 1º de julho de 1858, Darwin (1809-1882) e Alfred Russel Wallace (1822-1913), que haviam chegado independentemente a idênticas conclusões, anunciaram, em conjunto, a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural, fato que representou um grande passo nos conhecimentos humanos, comparável à descoberta da lei da gravitação por Newton.
            Wallace, jovem naturalista que se vinha correspondendo com Darwin, é quem praticamente obrigou o colega a revelar-se. Havia muito que Darwin vinha empreendendo seus estudos acerca da origem das espécies, assunto que igualmente entusiasmava aquele outro notável investigador, mas, conforme suas próprias palavras posteriores, preocupava-se tanto em evitar os preconceitos da época, que resolvera, ao menos por algum tempo, não esboçar o mais breve esquema de suas idéias evolucionistas. Um ano antes do célebre comunicado ao mundo científico, recebera ele uma carta de Wallace, na qual este (que já havia escrito, em 1855, uma obra relativa às suas próprias investigações em torno da origem das espécies) lhe delineava a teoria da seleção natural, fato que tem seu testemunho numa carta que o próprio Darwin remetera a seu amigo Gray (5 de setembro de 1857). Tudo isto surpreendeu vivamente o pai do darwinismo, animando-o a revelar publicamente a importante descoberta, o que foi feito, solidariamente, pelos dois ilustres naturalistas, ao mesmo tempo.
            Não é nosso intento deambular pelos caminhos percorridos pela Biologia, bela companheira nossa, mas o de destacar que existe um paralelismo eloqüente, em que vemos um sinal do Alto, no nascimento, no desenvolvimento e na vida de duas obras e de dois homens. Geradas quase ao mesmo tempo, “A Origem das Espécies” e “O Livro dos Espíritos”, ambas levantaram contra si uma verdadeira guerra, pois vinham demolir intocáveis bastilhas de prejuízos e interesses enraizados. Um procurou dar luz a questões concernentes ao mundo físico, exterior, do homem e seu meio; a outra, verdadeira bíblia laica, veio dar o testemunho da realidade do mundo interno do homem, do mundo espiritual. Uma atendia à evolução filogenética do homem, e a outra explicava para que e porque evolucionava o ser corporizado no invólucro humano, e bem assim os seres inferiores, seus irmãos. Uma é a melodia da evolução; a outra, a sinfonia mesma da evolução criadora corpo-espírito, traduzindo as leis divinas e eternas.
            A doutrina evolucionista vem pelo menos de Anaximandro (século VI a.C.) e foi aceita por muitos grandes espíritos da antigüidade, mas só com Darwin e Wallace ela adquiriu foros mundiais de verdade demonstrada. Assim também, a doutrina e os fenômenos espíritas, conhecidos desde tempos imemoriais, só adquiriram conceituação racional e científica com Allan Kardec.
            Evolucionismo e Espiritismo são, à luz das conquistas humanas, dois aspectos de uma mesma questão. Ambos atraíram as iras de ilustres homens pertencentes à Igreja e à Ciência acadêmica, porém, tanto Darwin quanto Kardec não desceram do terreno superior em que sua inteligências missionárias os obrigavam a permanecer. Detratores violentos foram cedendo e continuadores eméritos vieram dar mais lustre às suas obras capitais.
            A Origem das Espécies”, cuja influência no pensamento moderno foi sumamente relevante, encontrou no Espiritismo imediata compreensão, tanto que o seu genial Codificador, Allan Kardec, procurou relacionar a evolução orgânica ao plano do Espírito, como se segue:
            O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra de sua individualidade.” (Allan Kardec, “A Gênese”, 1868, cap. VI, Parágrafo 19)
            Antes mesmo de surgir o ruidoso livro de Darwin - “A Descendência do Homem” (1871), que levantou grande celeuma e agitou contra si toda a teologia do mundo contemporâneo, obra em que o autor demonstrava ser a raça humana originalmente descendente de algum ancestral simiesco há muito já extinto, mas que provavelmente teria sido antepassado comum dos antropóides existentes e do homem, já Kardec doutrinava em 1869:
            Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra.  Aí está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil protestar.” (“A Gênese”, cap. X, parágrafo 29)
            O Catolicismo e o Protestantismo foram duramente afetados pelos progressos revolucionários que a Ciência e a Terceira Revelação trouxeram ao mundo. A fé tradicional, a fé dogmática, que afirmava a Criação partindo do nada, que a limitava nos seis dias bíblicos, numa interpretação inteiramente literal, entrou em declínio. “Foi, sem dúvida - escreveu o Prof. Edward McNall Burns, da Rutgers University -, a hipótese de Darwin o progresso científico que determinou os mais profundos efeitos na religião”, originando o movimento conhecido como modernismo, incrementando, podemos acrescentar, o próprio materialismo, já que aquelas religiões não podiam fornecer respostas racionais às indagações dos intelectuais, o que seria obstado se eles tivessem conhecido a nova Filosofia religiosa que despontara ao mesmo tempo.
            Muitos clérigos jovens aceitaram a doutrina evolucionista, mas foram severamente admoestados, e um deles, o Padre George Tyrrel, que até pregava a adaptação do Catolicismo ao progresso crescente da cultura geral, foi excomungado pelo papa Pio X que, também se dirigindo ao clero em geral, proibiu a este aceitasse a idéias daquele sacerdote. A Igreja, porém, foi forçada à adaptação, que lenta e amplamente tem sido levada a efeito, havendo atingido com Pio XII um grau bastante significativo, papa que afinal permitiu o estudo do evolucionismo.
            Mencionamos atrás o nome de Alfred Russel Wallace e a sua sábia contribuição à teoria evolucionista, continuada através de várias obras sobre o mesmo assunto, sendo que em uma delas - “Contribuitions to the Theory of Natural Selection”, London, 1870, ele mostrou como certos fatos poderiam ser explicados pela ação dos espíritos, porquanto a Seleção Natural não os conseguia elucidar. “Entretanto - escreveu, mais tarde, o grande naturalista (Miracles and Modern Spiritualism, London, 1876) -, emiti esta opinião anfibologicamente, e expus eu mesmo as objeções a que estava sujeita. Desde, porém, que me convenci da verdade do Espiritismo, tenho sustentado que esta doutrina é a única que pode dar a explicação de certos fenômenos, sem ser, por isso, contrária à grande teoria da Evolução por meio da Seleção Natural.”
            Aliando o Espiritismo ao Evolucionismo, Wallace atraiu para si o desdém de alguns cientistas amigos, e sua reputação de grande naturalista e filósofo chegou até mesmo a ficar ameaçada.
            Nada, porém, o demoveu de suas novas idéias, baseadas em fatos cientificamente verificados, o que o levou a divergir de Darwin e o orientar no sentido espiritualista seus trabalhos sobre a seleção natural dos animais, considerando que forças invisíveis também intervinham no desenvolvimento da espécie humana, com objeto e fins determinados.
            Darwin, Wallace e Kardec formam, assim, o trio de gigantes que em meados do século passado alargaram e aprofundaram os horizontes do conhecimento humano, abalando e demolindo arraigadas e rançosas concepções seculares, para sobre elas alicerçarem um mundo mais belo e verdadeiro.
            Estas singelas reflexões por certo nos incentivam a cumprir os deveres que temos para com a Doutrina codificada por Allan Kardec, a fim de que seus fundamentos sejam mais e mais reconhecidos em seus justos valores e na sua real importância subsidiária para as investigações da chamada psicologia experimental, por exemplo, bem como da evolução, que, sem a contribuição da escola espírita, como Geley a denomina, continuará encerrada nos programas de Filosofia e de Biologia, no desconhecimento da página mais importante para a criatura humana: O Espírito imortal.
            Aí está nossa homenagem e nosso reconhecimento a Darwin, na oportunidade do 1º Centenário de sua obra máxima, muito irmanada, por seus objetivos altamente progressistas, à que Kardec publicara um ano antes, obras que para os espíritas representam as duas faces de uma mesma medalha, numa das quais está gravado - Evolução Orgânica -e, na outra: Evolução Espiritual.



A verdade é sempre vitoriosa!


Reformador
Novembro 1959

            Em 24 de Novembro de 1859 saía a público, na Inglaterra, a obra principal de toda a vida  científica de Charles Darwin: “A Origem das Espécies”. Os 1250 exemplares da primeira edição foram todos vendidos no mesmo dia. Espanto e admiração envolveram muitos homens de ciência, amigos de Darwin, originando-se duas correntes antagonistas que por muito tempo se digladiaram.
            Concedemos a palavra a Sir Julian Huxley, autoridade em genética e evolução, um dos mais ilustres cientistas britânicos, que nos dirá algo do que se passou naquela época, após o aparecimento da “A Origem das Espécies”(*):
            Adam Sedgwick, antigo professor de Darwin, achou algumas partes ‘totalmente falsas e penosamente malignas’. Sir John Herschel, o cientista e filósofo, qualificou o livro de Lei da Confusão. Mas muitos dos melhores intelectos estavam radiantes. O ilustre ornitólogo Alfred Newton foi um convertido, e meu avô, o então jovem biólogo Thomas Henry Huxley, se fez o mais decidido campeão do darwinismo.
            Hoje dificilmente se pode imaginar a apaixonada veemência com que, naqueles dias, se discutiu a respeito da evolução. Quando a Associação Britânica para o Progresso da Ciência se reuniu em Oxford, em 1860, o bispo Wilberforce, matemático e ambicioso prelado, anunciou sua intenção de ‘esmagar Darwin’. O sábio não estava presente. Depois de falar ‘durante meia hora com acrimônia, vacuidade e injustiça inimitáveis ‘, volveu-se para Huxley, já conhecido como darwinista declarado e ‘rogou-lhe que explicasse se sua descendência do macaco provinha do ramo de seu avô ou de sua avó.’
            Não são conhecidos os termos textuais da resposta de Huxley.  Contudo, um dos presentes a  recordou desta forma: ‘Afirmei - e o repito - que o homem não tem razão para envergonhar-se de ter o macaco por avô. Se eu me envergonhasse de algum antepassado, seria sobretudo de um homem... um homem de mentalidade versátil e instável...  que, não contente com um discutível êxito na esfera de suas atividades, vem tratar de questões científicas sobre as quais não tem real conhecimento, apenas com o objetivo de obscurece-las mediante uma retórica desatinada e de afastar a atenção do auditório do verdadeiro tema de sua discussão, por meio de digressões grandiloqüentes e habilidosas invocações ao prejuízo religioso.”
            Depois deste incisivo discurso de Thomas Huxley, o mundo culto foi aceitando as conclusões de Darwin por um processo contínuo e inelutável. A teoria da evolução resistiu à prova do tempo... a de todo um século.
            O darwinismo purificou a atmosfera de quase todos os ramos da Ciência e do conhecimento. Foi Darwin, mais do qualquer outro estudioso, quem unificou o campo inteiro da Biologia. Os fatos isolados da Botânica, da Zoologia, da Fisiologia e da Medicina, da Anatomia e da Psicologia da conduta, só encontraram encadeamento na andaimaria de idéias do darwinismo. Beneficiaram-se também muitas outras matérias afastadas da Biologia; a Astronomia, a Filologia, a Arqueologia, e estudo comparado das Religiões, a História, a Antropologia, a Psicologia, adquiriram novas dimensões. Todos os ramos de estudo progrediram em maior ou menor grau por haverem adotado o ponto de vista evolucionista.
            Que mais vemos pela porta que Darwin abriu há cem anos? Uma nova imagem do homem e do universo. Darwin nos conduziu a ver a posição do homem no Universo por uma perspectiva nova e mais humilde.
             Ao lado da evolução biológica, enunciada pelo sábio naturalista inglês, e hoje plenamente confirmada, o Espiritismo descortinou ao Mundo, quase ao mesmo tempo, a evolução lenta e gradual do Espírito. Uma é companheira da outra através das idades geológicas.
            O homem (corpo e espírito) é o produto atual dessa evolução que, conforme esclarece agora André Luiz, igualmente se verificou no plano extrafísico, além das percepções humanas.
            Oxalá, em futuro próximo, com as viagens interplanetárias e a descoberta de outras humanidades, a ciência oficial resolva, finalmente, investigar a realidade do Espírito e sua longa caminhada pelas espécies vegetais e animais até chegar ao ‘homo sapiens’.
            Enquanto isso não acontece, os espíritas continuaremos a sofrer os sorrisos de desdém de homens encastelados na Ciência, bem como as investidas dogmáticas de representantes da Igreja, tal como sucedeu a Darwin e seus continuadores.
            Não desesperemos, todavia; A Verdade é sempre vitoriosa!
                                                                              (*)  Life, em espanhol, 1958 


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