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domingo, 22 de maio de 2011

O Dogma do Inferno Eterno



O Dogma do Inferno Eterno




por D. José Amigó y Pellícer
“Roma e o Evangelho” (Ed. FEB)

            “Defrontamos com o cavalo de batalha do catolicismo romano: o dogma do inferno eterno, com que ameaça os míseros mortais que não praticam a virtude a morrerem impenitentes; dogma horrendo que, começando por incutir o desânimo, acaba por inspirar, nas almas fracas, o sentimento do desespero.
            O inferno romano, substituindo o amor pelo terror, desnaturou completamente o gênio do Cristianismo; pois não há dúvida de que o dogma que mais influi, no ânimo dos fiéis, é o da eternidade das penas que flutua nos corações, muito por cima do sentimento do amor e da caridade, pedra de toque do Cristianismo evangélico.
            Nem no Velho nem no Novo Testamento encontramos coisa alguma que se pareça com essa maldição eterna, que Roma põe nos lábios da Bondade e da Misericórdia infinitas.
            Encontramos sim severíssimas ameaças, que, no entanto, não cerram jamais a porta ao arrependimento e à reabilitação.
            E a linguagem das escrituras é quase sempre hiperbólica, especialmente na ameaça com castigos, em razão de não abrandarem nem se comoverem facilmente os corações aos quais era dirigida; e é a isto que devemos atribuir a aplicação da palavra eternidade, tratando-se dos sofrimentos espirituais.
            No Vv. 6 Cap. VI da Epístola aos Hebreus, Paulo afirma ser impossível a reabilitação do que, uma vez iluminado, cai - e, no entanto, os comentaristas dão ao vocábulo impossível a significação de difícil.
            Se, pois, impossível pode significar difícil, por que eterno não poderá significar longa duração?
          Nenhuma falta pode o homem cometer cujas conseqüências sejam eternamente permanentes. Ele é limitado, e limite, por conseguinte, terá tudo que emanar da sua natureza.
            A isto opõem, os que defendem a eternidade do inferno, que, se o pecado do homem não tem da parte deste o caráter ou selo do infinito, adquire-o, por ser infinita a entidade a que esse pecado ofende.
            Estranha maneira de discorrer! Não seria mais lógico dizer que, quanto menor for o ofensor, menor é a importância da ofensa - e que, sendo infinita a distância que o separa, não há, nem pode haver, ofensa da criatura ao Criador?
            A igreja define os pecados mortais, dizendo que eles são ofensas graves - e que os veniais são ofensas leves contra Deus; mas, como haver ofensas leves, sendo o ofendido Deus, e se devemos julgá-las, não em relação ao ofensor, mas em relação ao ofendido?
            Aceitando a lógica romana: se castigo eterno merecem os pecados que se classificam de mortais, castigo eterno merecem os veniais, pois que uns e outros são ofensas a um Ser eterno e infinito.
            O Espiritismo não compreende um Deus injusto, iracundo - e vingativo; nega, por isso, a eternidade de penas, entendida em sua acepção rigorosa e absoluta, admitindo-a unicamente em um sentido relativo - no sentido de que a purificação há de ser tão intensa quanto a maldade da falta.
            Terminaremos este parágrafo com as seguintes palavra de Isaías:
            “Não castigarei eternamente - e fim terá o meu rigor; porque de mim saíram os Espíritos - e eu criei as almas”. (LXII, 16)
           

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