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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Interpretação de Fatos Bíblicos ao Pé da Letra



Interpretação de Fatos Bíblicos ao Pé da Letra
Oswaldo Valpassos
Reformador(FEB)  Fevereiro 1959

        Interpretando-se a Gênese bíblica ao pé da letra, deparam-se-nos, a cada instante, fantasias e contradições.
            Quando a interpretação é no sentido alegórico, o caso muda de figura, pois que desaparecem absurdos e a leitura das Escrituras se torna coerente e elevada, amolda-se ao espírito do leitor exigente, eliminando-se dúvidas que tanto chocam o espírito indagador.
            Procurando o sentido oculto, veremos que  a leitura é edificante, sem ferir frontalmente a Ciência.
            Vejamos alguns fatos da Criação, nos primeiros tempos do Mundo:
            Adão  e Eva foram os primeiros habitantes da Terra. Depois de expulsos do Paraíso, tiveram dois filhos - Caim e Abel. Caim, após haver assassinado seu irmão, afastou-se para a terra de Nod, no oriente do Éden. Nessa ocasião, portanto, existiam no mundo apenas três pessoas: Adão, Eva e Caim.
            Retirando-se para outro lugar, Caim casou-se e teve de sua mulher um filho, que se chamou Enoch. Ora, de onde surgiu essa mulher que se casou com Caim, se, no mundo, nessa ocasião, só havia três pessoas, ele e seu pais Adão e Eva? Os outros filhos de Eva nasceram muito depois.
            Diz também a Gênese que Caim, ao deixar o Paraíso, foi edificar uma cidade. Sozinho? E para que uma cidade se não havia habitantes?
            Informa que Caim, após matar Abel, saiu errante e confessou ao Senhor seu medo, seu receio de que alguém o matasse. Se na sua peregrinação não seria possível encontrar outra pessoa, como receou ser molestado?
            Tudo isso faz crer que o mundo já era habitado, porque se não o fosse, Caim não recearia de ser morto e não poderia encontrar a mulher com quem casou. E também não iria construir uma cidade, pois que não existiam habitantes. E lógico é que ele, sozinho, não a podia construir.
            Por outro lado, não se pode compreender que Deus criasse Adão e Eva para viverem a sós num mundo tão grande, e isso colide com o que Ele ordenou, conforme Cap. I,28: ‘Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; dominai sobre os peixes, e sobre as aves e sobre todo animal que se move sobre a terra.’
            A serpente que induziu Eva a comer do fruto proibido é tida nas Escrituras como animal astucioso; sabe-se, entretanto, que a serpente não é animal astucioso. Claro que isso, também, é uma forma figurada. Se a serpente, depois de enganar Eva, foi condenada pelo Senhor a arrastar-se sobre o ventre, supõe-se, assim, que antes de sua falta ela não se arrastava sobre o ventre. Como se locomovia então?
            Quanto à criação do homem, segundo as Escrituras, ele foi gerado do limo da terra; a interpretação lógica é que ele foi formado dos mesmos elementos inorgânicos e orgânicos que existem na terra.
            Se Eva foi formada de uma costela de Adão, claro que isso quer dizer que a mulher é da mesma natureza do homem e que ambos são iguais perante Deus.
            Em toda a Bíblia necessário se faz a interpretação alegórica para que esse precioso livro, manancial tão rico, não traga confusão aos que o procuram.
            Essa criação miraculosa poderá agradar aos que temem uma investigação à luz da razão. Agrada, sem dúvida, à imaginação ou a fé não raciocinada.
            Não deixa de ser um tanto pueril basearmo-nos somente na forma, quando a alegoria, de que é tão rica a Bíblia, oculta verdades que, postas à tona, engrandecem a própria Bíblia.
            Adão apenas simboliza a Humanidade e isso está conforme com a própria palavra hebraica - haadam -, que não é nome próprio e significa Humanidade.
         Com base na própria Gênese, pode-se concluir que o mundo já era habitado antes de Adão. Essa conclusão é mais conforme com a razão e foi mesmo aceita pelo teólogo La Peyère, no seu livro - Preadamitas - segundo referência citada no livro A Gênese, pág. 243, de Allan Kardec.
            Finalmente, no sentido literal, a Bíblia não satisfaz e torna confuso o próprio leitor. Interpretada, porém, alegoricamente, é um filão rico de imagens que engrandecem a obra do Criador.

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