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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bilhetes


Bilhetes 
por G. Mirim (Antônio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB)  Janeiro 1946

            O Catolicismo, na época em que realmente era orientado evangélica e cristãmente, de acordo com as interpretações e usos dos que privaram com o Senhor, quando não se havia constantinizado através da mediunidade doentia do imperador romano, aliando-se aos césares e alimentando as fogueiras humanas, o Catolicismo, dizíamos, era o puro Cristianismo, ou seja, o Espiritismo dos nossos dias, na sua mais alta expressão de amor, de caridade, de sublimação.

            As reuniões daquela época eram perfeitamente iguais às do Espiritismo moderno, quer pela sua simplicidade, quer pela humildade dos seus membros e quer, principalmente, pela completa abnegação dos que dirigiam o movimento, cheios de entusiasmo, de fé e de absoluto desapego pelos bens materiais que lhes pudessem oferecer o exercício dos seus cargos nos templos.

           A igreja era então iluminada pelos Espíritos Santos, através de médiuns (profetas) inspirados, qual acontece hoje com o Espiritismo e os seus adeptos, cheios de sinceridade, eram consolados e protegidos pelas mensagens e conselhos que lhes transmitiam os Espíritos familiares.

            Há mil e novecentos anos, já existia a obra - Livro do Pastor - escrita por Hermes, discípulo dos Apóstolos, a quem S. Paulo mandou saudar em sua Epístola aos Romanos (15,14). Essa tão notável obra, publicada no ano 220, por ordem de Caio, era lida nas igrejas até o século V e respeitosamente foi citada por S. Clemente de Alexandria e por Orígenes tendo mesmo figurado no antigo catálogo dos livros canônicos; era o livro de orientação para os primeiros cristãos, recomendado aos crentes que se reuniam para receber as comunicações dos chamados mortos. Assim escreveu Hermes:

            “O Espírito que vem da parte de Deus é pacífico e humilde; afasta-se de toda malícia e de todo desejo deste mundo e paira acima de todos os homens. Não responde a todos os que o interrogam, nem às pessoas em particular, porque o Espírito que vem de Deus não fala ao homem quando o homem quer, mas quando Deus o permite. Quando, pois, um homem que tem um Espírito de Deus vem à assembléia dos fiéis, desde que se fez a prece, o Espírito toma lugar nesse homem, que fala na assembléia como Deus o quer.”

                Reconhece-se, ao contrário, o Espírito terrestre, frívolo, sem sabedoria e sem força, no que se agita, se levanta e toma o primeiro lugar. É importuno, tagarela e não profetiza sem remuneração. Um profeta de Deus não procede assim.”

            Mais tarde, no começo do século V, Santo Agostinho, bispo de Hispano, o mais célebre dos padres da Igreja latina, autor de Cidade de Deus, Confissões e de outras obras religiosas, prevendo por intuição, que os seus sucessores proibiriam mais tarde as comunicações com os mortos e que propalariam serem os demônios os comunicantes, deixou registradas, em seu tratado De Cura Pro Mortuis, edição beneditina, tomo VI, col. 527, as seguintes palavras:

            “Os Espíritos dos mortos podem ser enviados aos vivos; podem desvendar-lhes o futuro, cujo conhecimento adquiririam, quer por outros Espíritos, quer pelos anjos, quer por uma revelação divina.”

            Mais recentemente, no século XVII, o cardeal Bona, sábio prelado cognominado - o Fenelon da Itália, autor de inúmeras obras, entre as quais - De Principiis vitae Christianae e Da Distinção dos Espíritos, assim se declarou francamente, nesta última, quando o clero já iniciava o seu plano de combate às comunicações com os mortos:

            “Motivo de estranheza é que se pudessem encontrar homens de bom senso que tenham ousado negar em absoluto as aparições e comunicações das almas com os vivos, ou atribuí-las a extravio da imaginação, ou, ainda, a artifícios dos demônios.”

            Inúmeros seriam os autores e vultos que poderiam ser citados como documentação não só da possibilidade, senão também do uso entre os primeiros cristãos de se comunicarem com os chamados mortos, classificados de anjos, quando superiores e simplesmente de Espíritos quando de criaturas ainda apegadas à Terra.

            O plano concebido pelos padres, para acabarem com esse intercâmbio, nasceu do receio do que lhes poderia advir, diante da preferência dos bons Espíritos pelas reuniões freqüentadas por pessoas de coração simples e completo afastamento daquelas que se realizavam nas suntuosas sacristias das catedrais, onde certamente se apresentavam os Espíritos das vítimas da santíssima Inquisição.

            Como não lhes seria possível, porém, negar a possibilidade das comunicações, porque elas sempre se deram e até originaram canonizações; como elas se repetem hoje e cada vez em maior número e em todos os países e meios sociais, lembraram-se do estratagema infantil, ridículo, contraproducente e ilógico, de só aceitar as que se dão nos conventos, condenando todas as demais como demoníacas e excomungando a quantos a elas se dediquem.

            Felizmente, porém, os tempos são chegados. No Brasil, país que eles apresentam ao mundo como sendo inteiramente católico, setenta por cento da população já admite e recorre a essas comunicações, utilizando-se dos milhares de centros espíritas existentes na Terra de Santa Cruz. Católicos, e até padres recebem os nossos passes. Em nossos hospitais para tratamento de obsessões, temos internado até clérigos completamente loucos, atacados dessa loucura que os médicos materialistas não conseguem debelar.

            Alguns anos mais e o Brasil será recristianizado, voltará a compreender o Cristo como o faziam seus primeiros seguidores.

            Esperemos.

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