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quinta-feira, 26 de maio de 2011

11 Escravidão e Espiritismo


-XI-
 ‘O Tigre da Abolição’

por Alberto de Souza Rocha
Reformador (FEB)   Novembro 1988

           
José Carlos do Patrocínio nasceu em 9-10-1853 na Cidade de Campos-RJ, sendo filho do vigário João Carlos, que o reconheceu e mandou educar. Sua mãe chamava-se Justina, a quem ele amou e protegeu. Nunca escondeu ele sua origem, gabando-se de mencionar que sua mãe era uma preta que vendia guloseimas no adro da Igreja-Matriz. Iniciou o estudo de Medicina mas se formou em Farmácia. Sua verdadeira vocação, porém, eram as letras. Tornou-se jornalista, publicista, orador e escritor de raro talento, dominando as massas com a sua pena e o seu verbo eloquente. Deixou três romances: “Mota Coqueiro”, “Os Retirantes” e “Pedro Espanhol”. Fundou vários órgãos de imprensa, como ‘A Cidade do Rio”; dirigiu vários jornais; foi redator de muitos deles e em quase todos colaborou. Desencarnou em 30-1-1905, no Rio de Janeiro, portanto já na República. E em 1902, acusado de envolvimento em sedições contra o Governo Floriano, foi preso e deportado para longínqua região do Norte do País, com outras figuras ilustres. Conta-se que teve premonição da medida que revogava aquele ato de força, reanimando os companheiros em pânico que, para logo, foram devolvidos ao centro cultural e administrativo do País.
  Patrocínio, cognominado, pela energia de seu trabalho e pelo vigor de sua palavra, “O Tigre da Abolição”, conta-se que, no auge do contentamento, rojou-se aos pés da sereníssima princesa, no instante em que a Magnânima Senhora assinava a Abolição da escravatura. Teria exclamado, em arrebatamento:

            “- Meu Deus! Não há mais escravos em minha terra.”

O belo soneto alexandrino de José do Patrocínio em “Parnaso de Além-Túmulo”, já o transcrevemos na íntegra. [1]Pois bem, foi em 1971 que ouvimos sua palavra através do médium Olympio da Silva Campos e tivemos oportunidades de gravar e copiar importantes dizeres desse antigo líder da liberdade e sua exposição, em linhas gerais, coincide com o sentido da poesia aludida. Não deixaremos alguns trechos;

Liberdade! A liberdade de pensar, de realizar, a flâmula da liberdade que todos nós desejamos esteja erguida bem alto a conclamar os homens na defesa de seus princípios! Liberdade! Partidário da Justiça, não admitimos que essa liberdade de que Deus, na sua infinita misericórdia, dotou as suas criaturas, possa ser cerceada pela prepotência, pelo domínio, pela maldade, pela ira, pelos golpes de impiedade, com o sangrar constante das vítimas indefesas, por questões de nascimento, de raça ou de cor, para o luxo excessivo, no entusiasmo prepotente dos senhores do mundo e das cousas, do poder da autoridade. Hasteamos a bandeira da liberdade contra a escravatura. Não era mais possível ver um ser humano a gemer no tronco, separados os seus membros pela impiedade de um senhor que após exigir-lhe o trabalho ainda estimulava a revolta nascida da desigualdade de condições humanas e da diferenciação de princípios que regia esse descalabro da prepotência e da escravidão. Depois de todas essas campanhas, de todas essas falações, de todo esse trabalho, tivemos um dia de abandonar nosso corpo e volver às paragens da eterna liberdade... Mas não nos sentimos libertados, pois ainda estávamos preso aos ímpetos da alma. Nossa consciência tece cordões de acordo com as atitudes tomadas na escola do mundo e o Espírito, embora liberto da carne, prende-se à cadeia dos princípios que defendeu, de tudo aquilo que fervilhava dentro de sua alma. É então preciso que os grilhões das paixões sejam eliminados pela luz do conhecimento e da razão. É preciso que ele enxergue e sinta que acima de sua vontade há uma outra maior; que nós mesmos tecemos os grilhões da própria escravidão impulsionados pelas paixões através de várias existências, quando também subjugamos o nosso semelhante. Mas a peneira divina vai, através das oportunidades, eliminando os seixos do nosso Espírito para que ele ganhe mais luz, mais brilho e mais potencialidade.  Potencialidade capaz de refletir a sapiência divina; capaz de emitir as energias que reúne em amor ao próximo; de ajudar a rasgar a camisa de força ajustada ao Espírito, produzida pela paixões descabidas das vidas que se foram. Diante desses conhecimentos o homem vai-se libertando. Mas as consequências das iniquidades continuam a existir em outros, sendo necessário que, à proporção que os Espíritos se libertem, voltem à retaguarda para ajudar os outros, atados ainda à ignorância.”

E prossegue:

Todos os emissários que vieram à Terra com o propósito de libertar o homem da cegueira e da escravidão sofreram, foram condenados (...), massacrados, injuriados... O amor universal é uma essência muito pura, mas muito tenra, que medra, mas muitas vezes é sufocada pela imperfeição e pela negligência da maioria dos habitantes da Terra, ainda em preparo, incapaz de sentir a grandeza de Deus”.

Com as ressalvas de uma transcrição de mensagem psicofônica, ou, como se diz no Parlamento, “não foi revista pelo orador”, aí está o pensamento de alguém que sente na ignorância dos povos uma forma de servidão difícil de abolir por medidas governamentais.




[1] “Nova Abolição”, em “Reformador” de fevereiro/1988, pág 52.

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