Pesquisar este blog

terça-feira, 26 de abril de 2011

04 Trabalhos do Grupo 'Ismael'

04

Introdução


            Diante do interesse vivo que despertaram, como era natural acontecesse, alguns dos trabalhos realizados ultimamente no grupo ‘’Ismael” e divulgados pelo Reformador, julgou-se a Federação no dever de dar à publicidade, na íntegra, a primeira parte desses trabalhos,  a qual vai do início deles, em meados de 1939, a dezembro do ano próximo findo.
            Aliás, desse dever não podia ela eximir-se, mesmo que daquele interesse nenhuma demonstração lhe fosse dada, porquanto a divulgação, em volume, dos mencionados trabalhos se enquadra, de maneira positiva, na tarefa que lhe incumbe e no programa a que obedece o desempenho dessa tarefa e que tem como um de seus pontos capitais a propaganda do Espiritismo cristão, ‘’por todos os meios que oferece a palavra escrita ou falada’’ segundo rezam seus estatutos.
            Ora, dado isto, lícito lhe não seria, quando, além de reeditar constantemente as obras fundamentais da Doutrina Espírita e as que hão apresentado como realmente completivas dessas, todos os dias edita, por intermédio da sua Livraria, quantas, ou de autores brasileiros, ou traduzidas para o nosso idioma, podem concorrer para aumentar o cabedal de conhecimentos dos estudiosos dos problemas do Espírito, nas condições múltiplas e várias em que lhe é forçoso encontrar-se na Terra ou fora dela; lícito lhe não fora, dizíamos, deixar de acrescer de mais este a série já enorme dos volumes, opúsculos, folhetos e monografias com que tem ministrado abundante pábulo aos famintos de alimento espiritual, devendando-lhe aos arcanos da mais importante grandiosa das ciências – a ciência da alma.
            Oferecendo o presente volume aos amantes desta ciência e, mesmo, aos que apenas começam a sentir-se curiosos do que nela se entesoura, a Federação está certa de obrar como acima ponderamos, porque ele, em verdade, constitui um manancial copiosissimo de ensinamentos, de revelações accessórias, de aplicações práticas dos preceitos doutrinários, de esclarecimentos preciosos , de análises elucidativas, de apreciações oportunas, de indicação de erros de inegável nocidade e dos meios de correção deles, de avigoramento da fé e do ânimo, de sabedoria, em suma, ao definir a obra espírita e ao mostrar como precisa ela realizar-se mediante a comunhão com Jesus, o Cristo de Deus.
            E tudo isso dele se colhe, cumpre acentuá-lo, não apenas através das comunicações dadas por alguns dos luminosos Guias do Grupo, quais Pedro Richard, Bittencourt Sampaio, Bezerra de Menezes, Romualdo, Antonio Sayão, mas através também das manifestações dos espíritos obscurecidos e endurecidos na iniquidade, por eles ali trazidos, Espíritos esses que, fazendo a confissão de seus erros e delitos, descrevendo seus estados dalma, expondo como se lhes transformaram as ideias e os sentimentos e formulando suas profissões de fé, compendiaram enorme série  de ensinamentos profundos, de grande valor para a compreensão clara de que somente na doutrina cristã, no Cristianismo do Cristo encontra o Espírito que morreu no pecado o único meio seguro para a sua ressurreição e de que, realmente, manso Cordeiro de Deus, e só Ele, é Caminho, Verdade e Vida.
            Antes, porém julga a Federação oportuno, conveniente e necessário algo informar sobre o Grupo ‘’Ismael’’, que a precedeu no campo dos labores espíritas; sobre sua origens; sobre as fases principais da sua existência nunca interrompida; sobre o que há produzido, enriquecendo o acervo já vultuoso de obras doutrinarias; sobre as vicissitudes por que tem feito passar os aborrecidos da luz e, finalmente, sobre o que de longa data lhe está prometido e que parece prestes a cumprir-se.
            Quanto às suas origens, reproduziremos, em primeiro lugar, o que a respeito escreveu Pedro Richard, que bem as conhecia, e foi publicado no Reformador de 15 de setembro de 1901, há, pois, 40 anos, lapso este de tempo que faz supor  seja, o escrito do velho servidor do Cristo, ignorado da maioria dos espíritas da atualidade, circunstância que seria suficiente para justificar a sua reedição agora, neste lugar. E’ o seguinte o escrito a que nos referimos:

Quando por determinação do eterno, que é a manifestação integral do amor e da misericórdia, sem caprichos e sem imposição, pois o livre arbítrio é sempre respeitado, foi lançada a propaganda do Evangelho do seu divino Filho, em espírito e verdade, nesta parte do planeta, essa nobre e penosa missão foi confiada ao bom anjo Ismael, que com dedicação de que só são capazes os Espíritos de enorme elevação moral, organizou o pequeno grupo denominado ‘’Confuncio’’, reunindo para isso meia dúzia de trabalhadores de boa vontade, e deu começo à obra santa do Senhor.
                                        O ‘’Confuncio’’ fez o que pode, mas como poucos eram obreiros e estreito o círculo dentro do qual agiam, curto foi também o seu raio de ação. Por isso, mas tarde, em 1873, aquele Espírito de escol, reunindo novos elementos fundou a Sociedade ‘’Deus, Cristo e caridade’’
Na verdade, a doutrina que se destina à reforma moral e cientifica da humanidade não podia contar  para seu amplo desenvolvimento apenas com os apoucados recursos dum grupo de caráter privado porquanto  - compreende-se  - seu campo de irradiação era por demais limitado.
            Outrora pregou Jesus a sua doutrina nas sinagogas e nas praças públicas, pois eram esses os únicos veículos de publicidade compatíveis com hábitos e o progresso do povo daqueles tempos. Recomendou aos seus discípulos que caminhassem desprovidos de bolsas e alforges.
                                        Porém, mudam-se os tempos e com ele tudo se transforma, tudo evolue, tudo progride. Hoje, quer Jesus que seus discípulos procurem agir no seio da sociedade, pelo que a cada um deu a sua posição social para que, no exercício das suas funções, seja o exemplo vivo da prática do seu Evangelho. Jesus quer que a lei fundamental – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo – seja pregada e principalmente, executada pelos seus discípulos hodiernos. O meigo Nazareno ainda agora não se cansa de repetir aos seus modernos discípulos as palavras que dirigiu Pedro: - ‘’Pedro tu me amas? Apascenta os meus cordeiros’’
            Pois bem, é na coletividade, é no seio da sociedade e dispondo dos recursos que lhe fornece o progresso de toda espécie, que o espírita tem de agir e de propagar a doutrina do Senhor de acordo com as leis estabelecidas, donde tem de tirar os elementos de ação, já pelo emprego da palavra falada e escrita, já pelo exato cumprimento dos seus deveres  para com o próximo.
            Eis a razão só que o bom Ismael acabou com o Grupo ‘’Confuncio” e fundou a sociedade “Deus, Cristo e Caridade’’, titulo que só por si é a síntese da Doutrina Espírita. Para a formação dessa Sociedade, o Guia do Espiritismo no Brasil reuniu todos os trabalhadores de boa vontade que, ao encarnar, haviam tomado o compromisso de o auxiliarem nesse memorável empreendimento.
            Inúmeros foram os prodígios!  A misericórdia divina jamais teve limites; era incessante. A luz era jorros, deslumbrava os assistentes. Todos quantos tinham a dita de assistir a um trabalho daquela Sociedade se impunham a si mesmos a obrigação moral de inabalável conversão. Os acontecimentos que ali se deram produziram a ira dos representantes do mal. Então a marcha vertiginosa que levava a Sociedade atraiu a atenção dos inimigos de Jesus que cerraram fileiras e juraram destruir aquele templo sagrado. E foram de tal ordem os ataques dirigidos contra o reduto, que o vendaval dos erros acabou por destruí-lo.
            Ah! sempre as fraquezas humanas! Sempre e sempre o egoísmo, a vaidade e o orgulho! Foram essas portas por onde, esquecendo-se os defensores de fechá-las,  tiveram entrada franca e triunfal os Inimigos do bem. Os guerreiros esqueceram-se de que ninguém se põe às ordens de tão grande general sem estar bem armado; esqueceram-se das suas armas e, por isso, foram derrotados. Os discípulos não se lembraram de que lhes corria o dever de honrar o Mestre, tão somente pelo preparo moral. Os servos incorretamente pretenderam servir a tão ilustre senhor, sem envergarem a veste das virtudes. Assim, onde a humildade devia ter um altar, o orgulho armou a sua tenda! O egoísmo crismou–se de caridade e de fraternidade a dissenção!
            A pretensão vaidosa do saber invadiu os corações. Deixaram-se arrastar pela vaidade, quando, em vez de aliciarem virtudes, procuraram revestir seus corações com a frágil couraça da ciência da terra, essa meia ciência, que adquirem os que não cultivam as virtudes e que conduz sempre ao desvario de negarem o seu Criador! A ciência que edifica e que exalta só pode se adquirida por aqueles que possuem virtudes.
Infelizmente no seu orgulho insulflado pelos inimigos de Jesus aqueles infelizes se desviaram da estrada, que conduz ao seio do Pai, para tomarem o atalho da ciência, que quase sempre percorre maior extensão do terreno para chegar ao fim. Desvairados, levantaram um templo à ciência e constituíram uma academia.
Desde então, seus membros se distinguiram, não pelas virtudes de cada um, mas pelo seu cabedal cientifico. O amor, a caridade, humildade, enfim as virtudes, não mais teriam cotação naquele centro. Só a ciência, a pretensa sabedoria lhe merecia a honra da atenção.
Foi assim, sob tais auspícios, que a humilde  ‘’Deus, Cristo e Caridade’’ passou a denominar-se ‘’Sociedade acadêmica “ Deus, Cristo e Caridade. Irrisão! Como se Deus, Cristo e Caridade  pudessem ser acadêmicos, colegas de pobres pecadores ignorantes! Desse modo, pois, decretada a sua ruína, a ‘’Academia’’ se precipitou no túmulo cavado pelos seus próprios fundadores isto é, precipitou-se no nada. 
Mas, louvado seja Deus, nem todos os filiados à  “Deus, Cristo e Caridade’’ se deixaram dominar pela vaidade e pelo orgulho, nem tudo, pois ficou perdido: um pequeno grupo, representado por elementos sãos, isto é, por aqueles que procuravam cultivar as virtudes como condição sine qua non  e adquirir, na medida das suas forças, alguns elementos de saber, procurou corresponder aos desejos de seu patrono e se constituíram em agremiação denominada – ‘’ Sociedade Espírita Fraternidade’’.
            Tal denominação foi adrede escolhida, para fazer sentir aos espíritas a necessidade e a obrigação de se congregarem numa só família, pelos laços da fraternidade, de modo que se tornassem una com Jesus, como o Filho e uno com  o Pai. A imensa cadeia do amor, presa à alma de Jesus, deve enfeixar todo o seu rebanho num só grupo cujos elementos apresentem a coesão da fraternidade.
Justamente para congraçar elementos dispersos e heterogêneos para fraternizar todo rebanho de Jesus e reuni-lo sob uma mesma égide , e que foi dada a Nova Revelação. E’ este, sem dúvida, o fim do Espiritismo, pois é para isto que ele nos foi trazido.
Instalada a “Fraternidade’’, foi-lhe dado para guia espiritual um dos tipos mais simpáticos do Velho Testamento, o luminoso Espírito denominado Urias, encarnação incontestável da bravura, da lealdade e da retidão no cumprimento dos deveres para com o seu Deus e o seu rei. General das tropas de David batendo-se com valentia indômita pela causa de Deus, não aceitara, entretanto, a graça que, a título de recompensa à sua lealdade e intrepidez, lhe fora concedida pelo rei, qual a de ir abraçar sua jovem e linda esposa, a quem idolatrava, dedicando-lhe todo o amor que na terra se pode aninhar num coração de homem. É que, pensava ele, o soldado só deve abraçar a esposa quando volte ao lar cingindo a coroa de louros colhidos nos campos da honra, isto é, o militar, antes de tudo, deve cumprir o dever a que se obrigou pela própria natureza da profissão adotada. O dever antes de tudo.
Foi um Espírito desse jaez o escolhido para guiar a ‘’Fraternidade’’,  a fim de incutir nos corações de seus guiados o sentimento que só é dado aos intrépidos: - o do cumprimento do dever acima de tudo.
À Sociedade foi traçado o programa espírita mais completo que jamais temos conhecido. A parte relativa ao tratamento dos doentes ficou a cargo do seu presidente, o médium Nascimento, que assombrou a classe médica com as prodigiosas curas que dia a dia, progressivamente, fazia. A tal ponto chegou o escândalo, que o legislador, possuído de zelo pela causa do povo (sic), pôs o artigo 157 no Código Penal da Republica, artigo esse,  digamos de passagem em pleno desacordo com os §§ 24 e 28 do artigo 72 da lei básica, que é Constituição política de  fevereiro de 1891.
Os trabalhos de obsessão foram confiados a um reduzido número de associados, pela necessidade que há de manter-se a homogeneidade indispensável nos sentimentos e ainda por outro motivo que não vem a propósito trazer à baila. Esse reduzido número de apóstolos do bem obteve fatos maravilhosos e praticou assombros.
Duas outras ordens de trabalho se faziam regularmente por semana, em sessões ordinárias, nas quais se estudavam com método e clareza a doutrina espírita. Assim é que se estudavam os Evangelhos de Jesus, segundo a Revelação dada a Roustaing, sendo ao mesmo tempo lançados os fundamentos de uma escola de médiuns, onde uma dezena deles se desenvolveram e educaram. A parte prática, moralização de espíritos, estava confiada a um grupo de médiuns perfeitamente desenvolvidos e de reconhecida capacidade, técnica e moral, os quais produziam verdadeiros prodígios. Dentre eles, lembramos-nos de Nascimento. Frederico Junior e Felismino.
Foi ai, na ‘’Fraternidade’’, que se converteu ao bem o chefe indômito de imensa e poderosa falange que se comprazia no mal – Valentim, o Cenobita, cuja índole malvada era de tal ordem, que dera por terra com a Sociedade  ‘’Deus, Cristo e Caridade’’. No seu apogeu e no período da agitação abolicionista, a ‘’Fraternidade’’ libertou dois escravos. De resto a caridade material era bem aceita.
Mau grado às inúmeras comunicações dadas ao Grupo pelos Espíritos protetores, que não cessavam de recomendar  tivéssemos humildade, muita humildade, nós, os discípulos, extasiávamos a vista, inebriávamos os sentidos; mas, não aproveitávamos as lições. Delas não soubemos haurir as riquezas de que os nossos pobres espíritos tanto necessitavam. Não soubemos compreender que aqueles santos conselhos não nos eram dados por mera formalidade ou por simples recreio, mas para serem estudados, assimilados e aplicados em nosso próprio proveito.
Após uma série de trabalhos de materialização, de que se obteve algum resultado proveitoso, o nosso Guia, o bom Urias, nos veio dizer: “Meus amigos, já obtivestes o que vos era permitido. A cada povo a sua tarefa. A vossa, a maior, é o Evangelho: tendes de educar os corações. O espiritismo é um imenso edifício do qual a cada operário é confiada uma parte, de acordo com suas aptidões. Estudai e praticai o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo’’.
Mais tarde, Romualdo, carinhoso amigo, também de dignou de nos vir dizer: ‘’Não é debalde que esta terra se denomina Terra de Santa Cruz. Plantai bem funda a bandeira do Evangelho e a Cruz será exaltada’’ Isto, pesa-nos dizê-lo, não agradou a todos. Cultivar o coração, dominar as paixões, escravizar a carne às aspirações do espírito, enfim praticar a moral é sempre muito mais difícil do que estudar ciência mesmo porque a prática da moral requer humildade condição sine qua non, dificílima de obter-se, ao passo que uma grande soma de conhecimento científicos quase sempre arrasta consigo os sentimentos de orgulho e de verdade, que melhor satisfazem às condições mundanas do espírito.
Fracos, os últimos defensores da "Fraternidade" foram levados de vencida, deixando que se sacrificasse a moral à ciência, isto é, venceu a coligação dos dois principais inimigos da alma. A celeste bandeira do Cristo, que em suas dobras trazia escrito o lema de salvação – amor e humildade – foi substituída pelo rubro estandarte da terra, simbolizando o orgulho e a verdade!
De novo ergueu-se a "Academia". O exemplo da ‘"Deus, Cristo e Caridade" fora esquecido. A "Fraternidade" alterou seus Estatutos e regulamentos para dominar-se –  "Sociedade Psicológica Fraternidade".
Rápida foi a descida da psicológica e, por isso mesmo que muito se quis elevar, maior se tornou a sua queda e mais funestas as consequências do desastre, que sem dúvida, era inevitável, dadas as condições da sua formação.
Pouco a pouco os seus membros se foram afastando e não tardou que apenas ficasse frequentada por pequeno número de sócios, que se obstinavam em conservar-se no posto, mas que, de psicologia não estendiam nada, pelo que modificaram o tipo da Sociedade, adotando o primitivo.
            Por essa época aconteceu um fato bem significativo: os espíritas, ou por discordância de idéias ou por criminosa pretensão, criaram considerável numero de grupos, cujos membros, em sua maioria, desconheciam os preceitos mais rudimentares da doutrina. Qualquer espírita formava um grupo, só para satisfazer à  vaidade de dar-lhe por título um nome que ele venerava. De grupos espíritas produtivos apenas se contavam alguns, em número por demais reduzido!
            Em 1888, a ‘’Fraternidade’’ recebeu de nosso mestre Allan Kardec uma série de comunicações convidando a família espírita a se congregar naquela Sociedade e pondo em relevo a inadiável necessidade da união, ao mesmo tempo que condenava a existência de grupos, que não passavam de elementos dissolventes.
                                        Esse trabalho acha-se impresso e ainda hoje a Federação Espírita Brasileira o distribui gratuitamente. E são de tal quilate semelhantes comunicações que por quase todos foram aceitas, ainda que pela maioria não fossem bem compreendidas, nem fielmente interpretadas.
                                        Nessa época já se achava em campo o nosso inolvidável confrade o mestre Bezerra de Menezes que, à frente da fração da "Fraternidade" que tomou a seu cargo os trabalhos de obsessão, se encarregou da árdua tarefa de reunir a família espírita em torno da Federação.
                                        Apesar do seu prestigio intelectual e moral, todos os esforços ingentes que empregou o saudoso mestre foram improfícuos, fracassando a sua primeira tentativa, se bem que todos os espíritas estivessem convencidas da necessidade de tal medida e reconhecessem inadiabilidade da resolução de se constituírem num só núcleo.
                                        Ainda a conselho do bom mestre Allan Kardec, tentou nosso prezado Bezerra congraçar mais uma vez a família espírita e outra decepção teve que suportar. Foi então quando o humano campeão do Espiritismo no Brasil, sentindo-se desanimado nos disse: "Eu não entendo os espíritas".
                                        Daí para cá, na possibilidade de constituírem um todo homogêneo, os espíritas se agruparam  - um tantos que procuravam estudar os Evangelhos  - em torno do bom amigo e mestre Bezerra e que por isso se denominaram  - espíritas bezerristas.
                                        Naquele coração de pomba se tinham aninhado todos os sentimentos de bondade e de amor; aquela imensa alma de apóstolo toda se abria para receber a Doutrina Espírita  e, como um sol resplendente e belo no zênite repartia seus  esplendores com todos os que formavam o sistema que era ele centro e com todos os demais que procuravam  a órbita a ser resolutamente descrita num espaço imenso, em demanda de Jesus. Difícil era saber-se o que mais se devia admirar naquele meigo espírito, se as virtudes, se o talento.
                                        Achava-se a nossa doutrina em tal situação embaraçosa, quando pelo nosso país passou o furação da desgraça: a revolta de 6 de setembro de 1893, que abalou todo o organismo social e, por transmissão reflexa, atingiu a Federação que já contava 11 anos de existência na propaganda ativa, pelo que não podia ser poupada, pois era e é um baluarte ininterruptamente bombardeado pelos inimigos do espaço,  que só esperavam o momento azado para sobre ela descarregar suas baterias, com toda a impetuosidade do despeito.
                                        A Federação esteve prestes a baquear; mas louvado Deus, ainda chegou a tempo de salva-la um chefe prestigioso  e temido: Bezerra de Menezes, que com seu ascendente moral e intelectual, se conservou á frente das coortes que defendiam o baluarte e soube com vantagens incalculáveis levar o desprestigio ás forças inimigas e derrota-las.
                                        Bezerra aceitou o pesado encargo com os poderes ilimitados que lhe foram outorgados pelos seus companheiros pois aquele caráter impoluto, aquela alma imaculada eram uma garantia segura de vitória para todos.
                                        Em virtude de tal delegação, um dos seus primeiros atos foi modificar o programa da Federação e dar-lhe o da ‘’Fraternidade”. Tanto importa dizer que lhe deu desde logo a orientação evangélica, somente  evangélica.
                                        Foi essa a primeira fase por que passou a Federação.
                                        Com a feliz aquisição daquele evangelizador, tomou ela outro rumo, determinado pela bússola de Jesus, o Evangelho. Bezerra, com os olhos fitos nesse código divino e arrimado na humildade do seu espírito e na tenacidade do seu caráter, arvorou na Federação o estandarte celeste, à sombra do qual todos quantos desejem salvar-se devem abrigar-se.
                                        Desde então, tudo mudou na Federação, que tomou outro aspecto e que, variando de azimute, começou a caminhar em demanda do progresso moral do Espiritismo no Brasil . Aí estão os livros e as atas daqueles tempos, para atestar o que vimos de dizer.
                                        O salão das sessões enchia-se de irmãos que, pressurosos, corriam a ouvir a palavra inspirada do apóstolo do Divino Mestre.
                                        Um grupo, pequeno, sim, mas decidido, de companheiros inseparáveis e amigos delicados, dava ao chefe todo o apoio moral e material que lhe permitiam as suas forças e não o abandonava, prestando-lhe todo auxilio no desempenho da tarefa que lhe fora confiada pelo bom Ismael. A cada um coube o exercício de função particular e cada qual de boa vontade empregava a maior soma de esforços para desempenho satisfatório de sua incumbência. Assim, uns se encarregavam de disseminar o órgão da Federação pelas diversas camadas sociais, outros de difundir profundamente os livros espíritas, já gratuitamente, já mediante pequena remuneração, conforme as posses de cada um, por todos os Estados da União, etc.
                                        Desde modo a Federação, ou, antes, Bezerra de Menezes – porque Bezerra era a alma da Sociedade – se constitui o eixo em torno do qual haveria de girar a orientação de todo o sistema do Espiritismo no Brasil.
                                        Eis o histórico, por demais sintético, porém verdadeiro, da primeira fase por que passou a Federação.
                                        Não devemos, imprudentemente, abusar da paciência do leitor, repetindo o que já ele sabe e está minuciosamente descrito no último relatório do digno presidente da Federação, atestando exuberantemente a obra daquele Espírito de escol, continuada cuidadosamente pelos seus fieis discípulos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário