
Jan Luyken (1549) Inquisição Países Baixos
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Infelizes degradados, que ficastes chorando nas praias de Sta. Cruz,
quando Cabral seguia sua derrota para as Índias,
adoçai um pouco a força de vossa mágoa.
quando Cabral seguia sua derrota para as Índias,
adoçai um pouco a força de vossa mágoa.
Sabei que aqueles bárbaros,
a cuja voracidade ficáveis expostos,
estão civilizados;
a cuja voracidade ficáveis expostos,
estão civilizados;
que aquelas matas melancólicas
que tiranizavam vossos olhos
já se transformaram em campanhas
que tiranizavam vossos olhos
já se transformaram em campanhas
risonhas, em searas floridas;
que do seio daqueles ermos emaranhados,
que denegriam vossos
que do seio daqueles ermos emaranhados,
que denegriam vossos
corações, têm nascido vilas e cidades florentes.
(Joaquim Nabuco - Do Centenário Anchietano.)
(Joaquim Nabuco - Do Centenário Anchietano.)
As palavras de Fr. Francisco de S. Carlos, que acudiam a Joaquim Nabuco, quando conferente do Centenário Anchietano, têm inteira aplicação aos desolados do ermo da descrença, sepultados nas trevas da tristeza moral, quando, ressuscitados pela palavra pura de Jesus, erguem-se para os esplendores da luz espiritual e acham, na senda árida e espinhosa da vida, os rebentos das flores da esperança, a explicação única da dor, dos fatos tristes e dos sofrimentos que nos cruciam.
Mas do mesmo modo que, ao fazermos uma síntese da doutrina positivista, começamos por dar os traços biográficos de Augusto Comte, vamos igualmente dar ligeira biografia do nosso mestre Allan Kardec. Assim a apreciação será melhor em seu conjunto.
“Foi em Lyon que a 3 de Outubro de 1804 nasceu, de uma antiga família lionesa com o nome de Rivail, aquele que devia mais tarde ilustrar o nome de Allan Kardec e conquistar para ele tantos títulos à nossa profunda simpatia, ao nosso filial reconhecimento.
Eis aqui a esse respeito um documento positivo e oficial:
“Aos 12 do vindimiário de ano XII, auto do nascimento de Denizard Hyppolite-Léon Rivail, nascido ontem às 7 horas da noite, filho de Jean Baptiste-Antoine Rivail, magistrado e juiz, e Jeanne Duhamel, sua esposa, residentes em Lyon, rua Sala nº 76.
O sexo da criança foi reconhecido masculino.
Testemunhas maiores:
Syriaque-Fréderic Dettmar, diretor do estabelecimento das águas minerais da rua Sala, e Jean François Targe, mesma rua Sala, à requisição do médico Pierre Radamel, rua Saint Dominique, nº 78.
Feita a leitura, as testemunhas assinaram, assim como o maire da região do Meio dia.
O presidente do tribunal,
(Assinado): “Mathiou”[1]
O filósofo cognominado ‘a encarnação do bom senso’ fez os seus primeiros estudos em Lyon e os completou na Suíça, com o célebre professor Pestalozzi, ao qual muitas vezes substituiu no encargo de fundar estabelecimentos de educação reclamados pelos governos.
Era bacharel de letras e ciências, doutor em medicina*, tendo defendido brilhantemente a sua tese.
Lingüista, falava corretamente alemão, inglês, italiano, espanhol e holandês.
Casou-se com a Senhorita Amélie Boudet, professora de 1ª classe, nove anos mais velha que o filósofo, porém fisicamente aparentando menor idade.
Tendo-se associado a um tio para a fundação de um estabelecimento de ensino, a paixão do jogo de seu sócio o deixou arruinado. O pouco que lhe restou da liquidação do estabelecimento foi recolhido a uma casa comercial que, falindo, nada pagou aos credores.
Rivail, como todos os grandes missionários talhados para a luta, realizava em si o conselho do tamoio:
“Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.”[2]
Não desanimou o amado mestre. Passou a encarregar-se da contabilidade de três casas comerciais, e a empregar os serões em fazer gramáticas, aritméticas, livros para estudos pedagógicos e superiores, além de traduções de livros de diversas línguas.
Organizou em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de química, física, astronomia e anatomia comparada, que eram muito freqüentados.
“Dentre suas numerosas obras convém citar por ordem cronológica: Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública, em 1828; em 1829, segundo o método Pestalozzi, ele publicou, para uso das mães de família e dos professores, Curso prático e teórico de aritmética; em 1831 fez aparecer a Gramática francesa clássica; em 1846, Manual dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, soluções racionais das questões e problemas de aritmética e geometria; em 1848 foi publicado o Compêndio gramatical da língua francesa; finalmente em 1849 encontramos o Sr. Rivail professor no Liceu Polimático, em que rege cadeiras de fisiologia, astronomia, química e física. Em uma obra muito apreciada resume seus cursos, e depois edita: Ditados normais dos exames na Municipalidade e na Sorbonne; Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas.”[3]
A situação financeira do ilustre pensador solidificou-se, graças aos sucessos das edições das suas obras, tendo algumas das edições das suas obras, tendo sido adotadas pela Universidade da França.
A honestidade de sua vida, a pureza de seus costumes, sua justa nomeada como cientista e literato preparavam o espírito público para o peso das afirmações do emérito educador, quando se entregasse ao estudo de fenômenos mais importantes.
Guizot tinha horror a um inimigo terrível do homem - o preconceito -; o homem deve ter maior horror ainda ao maldito orgulho que o corrói.
A criatura se exalta com o pouquíssimo que sabe: porém não se assombra com o infinito que ignora, mesmo no domínio dos fenômenos que caem debaixo dos sentidos.
As levianas sensações dos pretensos sábios os têm feito representar os papéis mais tristes, pela vitória das afirmações científicas ontem negadas e hoje triunfantes.
Grande culpa cabe ao ridículo privilégio acadêmico e suposta infalibilidade da ciência oficial.
‘Se nunca a ciência se houvesse enganado, sua opinião neste sentido (o Espiritismo) teria grande peso na balança; infelizmente a experiência prova o contrário.
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Não foi a um parecer do nosso primeiro corpo sábio que a França deveu o ter sido privada da iniciativa do vapor?
Quando Fulton veio do campo de Bolonha apresentar seu sistema a Napoleão I, que confiou seu exame imediato ao Instituto, não decidiu este que aquilo era uma utopia, com que não se deviam ocupar?
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Se Newton não tivesse prestado atenção à queda da laranja; se Galvani tivesse repelido sua criada, e lhe chamasse visionária e louca, quando esta lhe falou das rãs que dançavam na caldeira, talvez ainda estivéssemos por conhecer a admirável lei da gravitação universal e as fecundas propriedades da pilha elétrica
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Cristóvão Colombo não foi repelido, sobrecarregado de desgostos, tratado como insensato?”
O nosso mestre não podia escapar a essa lei comum. Feita sua apresentação, vamos deixar o Sr. Rivail preclaro professor, para irmos ao encontro de Allan Kardec - o codificador da doutrina espírita.
“Foi em 1854 que o Sr. Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas giratórias, a princípio ao Sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha relações, em razão de seus estudos sobre magnetismo. O Sr. Fortier lhe disse um dia: “Eis aqui uma coisa que é bem extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas faz-se-a falar. Interroga-se e ela responde.
-Isso, replicou o Sr. Rivail, e uma outra questão: eu o acreditarei quando o vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem um cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão um conto de dormir de pé.
Tal era a princípio o estado de espírito do Sr. Rivail, tal encontra-lo-emos muitas vezes, não negando coisa nenhuma parti pris, mas pedindo provas e querendo ver e observar para crer; tais devemos nos mostrar sempre no estudo tão atraente das manifestações do além.”[4]
[1] Vide Memória Histórica do Espiritismo, v. I, págs. 59.
[2] Gonçalvez Dias, Poesias, V. I, págs. 59.
[3] Vide Obra citada, pág. 12.
[4] Vide Memória Histórica.
* A informação de que Kardec teria sido médico nunca foi confirmada. Vide Zêus Wantuil e Francisco Thiesen em obra sob título 'Allan Kardec'. Nota do blogueiro.