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domingo, 16 de janeiro de 2022

A evolução dos seres

 

A evolução dos seres

por I. Pequeno (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Novembro 1944

             Posto que o próprio Allan Kardec, e com ele os Espíritos reveladores, tivesse julgado prudente condescender até certo ponto com os preconceitos do seu tempo, abstendo-se de pregar aberta e resolutamente a indefinita evolução de todos os seres, não transparece menos, quer no ensino dos Espíritos, quer nos comentários do Mestre a tal respeito, a insinuação, ora clara, ora velada, dessa grande lei. Ver “O Livro dos Espíritos”, parte 2ª, cap. XI, sobretudo os números 604 e 607.

            Já na “Revelação da Revelação”, dada a Roustaing, a explanação desse tema é feita com amplitude e sem tergiversações. Ver o volume 1º, nº 56, pág. 273 e segs.

             Leopoldo Cirne - Nota à página 315 do volume 1º de “Doutrina e Prática do Espiritismo”, (Edição FEB).


sábado, 15 de janeiro de 2022

Como será o futuro?

 

Como será o futuro?

 por Antônio Wantuil de Freitas

Reformador (FEB) Novembro 1944

             Sob esse título, “Ave Maria”, jornal católico editado no Brasil, estampa um artigo especialmente escrito para a sua revista pelo padre Ricardo D. Liberali, que, de liberal, só tem o nome.

            Ao lado de uma infinidade de inverdades, com as quais procura embair os seus leitores, cita o referido padre dois casos em que os maridos abandonaram as esposas, para se juntarem a outras mulheres. Ao relatar o fato, o padre não diz os nomes das personagens, mas, apresenta-as como adeptas do Espiritismo e frequentadoras das pantomimas espiríticas e demoníacas, as quais, diz ainda o reverendo, podem levar o Brasil a ser escravo de satanás.

            Pelo nome, esse padre Liberali é companheiro daqueles que também tiveram pena da Abissínia e abençoaram as armas de Mussolini; e, pelos processos de que usa, para propagar a sua religião, é bem possível que ele seja a reencarnação de um dos “santos e sagrados sacerdotes da santíssima Inquisição”.

            Ainda que o fato seja real, não vemos por que motivo acusar uma religião de imoral e demoníaca, por lhe encontrar um ou outro adepto desnorteado. Seria o mesmo que nos basearmos nas atrocidades do catolicíssimo Lampião, que assistia a quatro ou cinco missas antes de efetuar os seus roubos, e que, após executá-los, dividia-os com as igrejas que lhe eram queridas.

            Por outro lado, o referido padre Liberali e o jornal que lhe publicou o “libelo”, além de fazerem baixar o nível do seu sacerdócio, com tais processos, deveriam ter-se lembrado de que esses espíritas, se existem, vieram do Catolicismo e, por isso, cansados estavam de saber, pelo noticiário de jornais brasileiros, que até mesmo os padres, “os representantes de Deus”, costumam, de quando em vez, abandonar a batina para seguirem as suas “confessandas”, solteiras ou casadas, ou, mesmo, com batina e tudo, e com elas viverem maritalmente.

            Quem tem telhados de vidro, reverendo...


Cantigas do coração - 5

 


Cantigas do coração

Ormando Candelária por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1965

 

Quem ama com sacrifício

Alcança a luz dos apogeus...

Amor que sustenta a vida –

Alento do próprio Deus.


Cantigas do coração - 4

 


Cantigas do coração

Ormando Candelária por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1965

 

Por mais aflito e cansado,

Não lamentes, coração!..

Todo pranto de amargura

É fonte de redenção.


domingo, 9 de janeiro de 2022

O fim da pobreza

 

O fim da pobreza

por Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Fevereiro 1943


             A pobreza., as privações econômicas, a miséria são expiações e provas necessárias somente em mundos atrasados, verdadeiros purgatórios; como o foi a Terra até agora; são dores desconhecidas em mundos adiantados, onde só habitam Espíritos purificados. Pela evolução moral e intelectual dos homens, a pobreza desaparecerá da face da terra, porque o nosso planeta passará da categoria de mundo de expiações e provas, para a categoria de “mundo regenerador”.

             Este ensino dos Espíritos, que vem sendo repetido há oitenta anos, em múltiplas comunicações, está tendo a confirmação na progressão material. As descobertas da ciência, os triunfos da técnica, criando máquinas de produção cada vez mais rendosas, já permitem se produzam quantidades sempre maiores de todas as coisas necessárias à vida e ao conforto dos homens, ou, por outras palavras, a evolução intelectual do homem lhe vai permitindo vencer a pobreza e produzir tanta riqueza, que em certos momentos já o seu excesso causa perturbações. Igualmente a máquina de distribuição da riqueza.

            Criam-se novos veículos, novos meios de circulação dos bens por toda a superfície do planeta. Estabelecem-se assim a solidariedade econômica de todas as regiões pela permuta rápida e fácil de todos os bens materiais.

             Não necessitamos insistir sobre o aumento da riqueza da humanidade, porque está ao alcance de todos. embora nem sempre seja empregada para o bem. Por falta de evolução moral, mui frequentemente o homem emprega para o mal as forças ao seu alcance, causando sua própria infelicidade, em vez da felicidade. O aumento da riqueza é uma força muitas vezes usada com egoísmo, ocasionando grandes males. Para nos certificarmos disso, basta comparemos a quantidade de máquinas empregadas presentemente na guerra: navios, aviões, tanques, canhões, metralhadoras, com as armas usadas antigamente. Ver-se-á que a guerra moderna consome uma quantidade de riqueza com que não poderiam sonhar os guerreiros antigos.

          Apreciemos agora o que nos dizem os grandes Espíritos. Comentando o versículo do Evangelho em que Jesus disse: “Pobres tê-los-eis sempre convosco, ao passo que nem sempre me tereis a mim”, ditaram eles a Roustaing, em 1863, precisamente há oitenta anos, o seguinte:

           “Estas palavras do Mestre não foram compreendidas em espírito e verdade.

            “No que lhe concerne, ele alude ao seu aparecimento na terra, aos tempos e à duração desse aparecimento, para o desempenho da sua missão terrena, acorde aquela duração com as necessidades dessa missão. Alude também à duração da sua vida, humana ao ver dos homens.

            “Os que tomam sempre as suas palavras do ponto de vista das necessidades humanas, sem se lembrarem de que, antes de tudo, ele considerava as necessidades espirituais, falsearam estas: Pobres, tê-los-eis sempre convosco, atribuindo-lhe o pensamento, a afirmação, tão absurda e falsa, quão fatalmente retrógrada, de que a pobreza material há de ser sempre, eternamente, apanágio da Terra, da humanidade terrena.

            “Falando dos pobres da terra, Jesus não aludia especialmente àqueles que carecem de bens materiais, mas de todos quantos se encontram num estado de inferioridade qualquer, que necessita do auxílio, do concurso, do amparo dos homens de boa vontade. Suas palavras se referem às condições dos Espíritos, que uns são inferiores a outros em inteligência. Ele, pois, se referia não só aos que são materialmente pobres, mas também aos que o são moralmente e sobretudo aos pobres de inteligência.

            “No vosso planeta ainda inferior e em via de progresso, bem como em todos os outros igualmente inferiores, sendo a pobreza, tanto a material quanto a moral, uma consequência das provações, sempre haverá pobres de uma e outra categorias, até que esteja concluída a separação do joio e do trigo, isto é, que a depuração da Terra e da humanidade esteja completamente terminada pela separação dos bons e dos maus.

             “Lembrai-vos, porém, do que já diversas vezes temos dito: que da elevação de um planeta não decorre o nivelamento das faculdades.

             “Entre vós sempre haverá pobres, ainda quando do vosso mundo hajam desaparecido tanto a pobreza material, como a pobreza moral.

            Qualquer que seja o grau de depuração do planeta terreno, aí haverá sempre, num ponto ou noutro, Espíritos depurados, bons, mas menos adiantados do que outros. Esses são os intelectualmente pobres, aos quais os ricos em inteligência, em saber, darão com abundância o que possuem. Já temos dito e não devereis esquecer que, do ponto de vista intelectual, há sempre, entre os Espíritos, hierarquia, no tocante à ciência universal, mesmo quando todos tenham atingido a perfeição moral.

             “A pobreza material deixará de existir na Terra quando dentre vós desaparecerem todas as enfermidades morais que tendes de expiar renascendo continuamente. Despojei-vos, portanto, dos vossos vícios, quer advenham da carne, quer do Espírito, que deve dominar a matéria, pois que, do contrário, os felizes de hoje talvez sejam os pobres de amanhã.

             “O desaparecimento, a cessação completa da pobreza material, de maneira que cada um viva folgadamente do seu labor, será um sonho enquanto a vossa depuração moral não houver suavizado as vossas futuras expiações. As associações, as instituições de beneficência que mantendes são boas, porque provam em vós o desejo de fazer o bem, de socorrer vossos irmãos. Mas, sem desprezardes os socorros materiais, esforçai-vos por socorrer o moral dos homens. Podereis então dizer que a miséria material cessará no planeta terreno, quando dele for expulsa a miséria moral.

             “A esse tempo, prestando-se os homens mútuo e esclarecido auxílio, todos em comum trabalharão na obra comum. Quão longe, porém está essa era bendita em que haveis de entrar!

             “Preparai-vos, não obstante, para ela e fazei com esse objetivo todos os esforços, organizando, com os corações cheios de humildade e desinteresse, de justiça, de amor e de caridade, sociedades para o trabalho de ordem material, de ordem moral e de ordem intelectual. Que os “ricos” deem abundantemente aos “pobres” trazendo cada um a tais associações o tributo das faculdades de que possam dispor, a fim de que se espalhem e desenvolvam a educação e a instrução moral e intelectual, explicando aos homens e fazendo-lhes compreender: o amor a Deus acima de tudo e o do próximo como a si mesmos, as maneiras e os meios de praticarem esse duplo amor, de praticarem, observando a liberdade na ordem e a ordem na liberdade, o máximo de mutualidade, de solidariedade, de fraternidade, fonte e regra de todos os direitos e deveres, máximo que se formula nestes termos: um por todos e todos por um, em todas as associações, de qualquer natureza que sejam - comerciais, industriais, agrícolas, morais e intelectuais, compreendidas no rol destas últimas as literárias, as religiosas e as cientificas, em todas as esferas da atividade humana: individual, comum ou social.” (1)

             Como se vê, o caminho indicado pelos Espíritos é muito diferente do que pretendem seguir os partidos políticos e as lutas econômicas nas guerras de classe, porque ataca o mal pela raiz. A miséria moral tem que ser abolida em primeiro lugar, porque a miséria material é apenas um efeito daquela. Nem poderia ser de outro modo, visto que a reforma apenas externa seria mera ilusão. Conservando os mesmos vícios, os homens reconstituiriam sempre os mesmos males. O primeiro desses vícios a combater é o egoísmo que destrói todo o equilíbrio social. Fora de dúvida, porém, está que a pobreza desaparecerá da terra, E com a pobreza desaparecerão muitos outros males: ódios, lutas, opressão, traições, assaltos, prostituição, escravização, mercantilismo, jogo, suborno, fraudes, etc., etc.

             A pobreza moral ainda é grande mas a pobreza material já vai desaparecendo. Possivelmente, com o fim da presente guerra (*) igualmente se aproximará o fim da miséria material. Todas as energias, todos os elementos, toda a inteligência que estão produzindo material de guerra passarão a produzir nas indústrias de paz, e haverá o enriquecimento de todas as coisas necessárias à vida e ao bem-estar da humanidade. Será chegado o fim da pobreza. O mundo estará rico, porém, não feliz. A felicidade tem que ser conquistada mais lentamente. O enriquecimento do mundo será somente um passo a mais na conquista da felicidade.

 (1) Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing. Vol. III, pág. 385/7

  (*) Do blogueiro: Nosso prezadíssimo Ismael Gomes Braga colocou-se muito otimista neste trecho de sua bela mensagem. Estamos em 2022 mas ainda muito longe do cenário por ele descrito como possível para a nossa atualidade.

Quid dicis de teipsum

 

Manuel Quintão

Quid dicis de teipsum (1)

por Manuel Quintão

Reformador (FEB) Fevereiro 1943

(1) Evangelho de João, I-22 

(Disseram-lhe, então: “Quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?”)

 

Sou a voz do que clama no deserto,

Mas profeta não sou, nem sou Elias:

Entanto, digo: aparelhai as vias

Do Senhor anunciado, que vem perto.

Falo daquele de quem disse Isaías,

Que em virtude do Espírito a coberto,

Viria ao mundo de paixões liberto,

Sem da carne provar as tiranias,

Certo, em água eu batizo; mas, no entanto,

Tendes já entre vós, desconhecido,

Quem vos batize no Espírito-Santo.

O meu batismo é de arrependimento,

E quem nele se houver por menos fido (leal),

O de fogo haverá por escarmento (advertência).

 (Dedicado a Albino Ururahy.)


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Vigilância e União

Vigilância e União

A Redação

Reformador (FEB) 1º de Fevereiro de 1920

                 Nada perspicazes ou muito desatentos seríamos se, notando a marcha prodigiosa em que se vai pelo mundo o Espiritismo, não percebêssemos que a esse fato incontestável corresponde um outro de natureza a reclamar o maior cuidado, a máxima atenção de todos os que sinceramente desejam e procuram caminhar pelas novas veredas que os mensageiros celestes vieram abrir à humanidade, facultando-lhe sair dos escuros subterrâneos morais onde, desorientada, se perdera.

                A medida que essa doutrina de salvação se difunde, à proporção que sob a ação desvelada dos enviados de Jesus revivesce pujante a árvore portentosa do Cristianismo, à medida que a sua fronde luminosa emerge da floresta intrincada de erros, de falseamentos, de deturpações que em torno dela de eriçou, fazendo-a quase de todo desaparecer, redobram de esforços aqueles cujas energias e atividades espirituais se aplicam constantemente em fazer mais e mais densas, ao nosso derredor, as trevas em que eles se comprazem.

                Sentindo-se fracos para a luta franca, a peito aberto, contra as falanges do bem, por lhes faltar um broquel, impossível de encontrarem que os protejam contra os raios fulgurantes da verdade, que é luz porque é divina, eles se atiram contra as pobres ovelhas desgarradas que, na Terra, ensaiam os primeiros passos em direção ao redil santo. Socorrem-se então dos ardis mais engenhosos, das tramas mais sutis para a consecução de seus fins, seguros de poderem contar a seu favor com as nossas imensas fraquezas, com as paixões que ainda em nós fervilham e, sobretudo, com a vaidade, produto do orgulho e do egoísmo, que ainda, com verdadeira insânia, tanto cultivamos.

                Certo daí nenhum prejuízo advirá para causa excelsa contra a qual, cegos e desvairados, eles se levantam. Corremo-lo, porém, e grande, enorme, nós outros, todos quantos, acudindo ao convite dos servos dedicados do Senhor da vinha, nos termos alistado entre os trabalhadores dela.

               Quão triste será para os nossos espíritos, despertando no Além, verificarem que, por culpa exclusivamente  própria, cegaram com a luz  que lhes era dada para que se ques  lhes era dada para que esclaresse; quando reconhecerem que mais uma vez colocaram debaixo do alqueire a luz verdadeira, para se deixarem guiar por uma  luz falsa que, apagando-se, tornou mais profunda as sombras que já os envolviam; quando observarem que mais distanciados  se encontram da meta que deviam colimar e esmagados ao peso de resonsabilidades grandemente acrescidas!

            De que não divagamos poderão certificar-se os que se decidama atentar, e são felizmente muitos os que se decidem a atentar, e são felizmente muitos os que o fazem, em fatos que se vão produzindo com uma frequência por si só bastante para que  não passem despercebidas, embora aapresentem modalidades diversíssimas.

            Citemos por agora, como dos mais salientes, como dos que melhor caracterizam a sutileza dos ardis a que acima nos referimos, o das inovações doutrinárias. De toda parte surgem, a miúde, comunicações ou séries de comuicações mediúnicas em que, de par com a confirmação de alguns dos postos capitais da Doutrina Espírita, se deparam ao leitor, numa linguagem por vezes capiciosamente elevada, vestida com uma roupagem de sofismas bem urdidos, as proposições mais perigosas e irraccionais das inovações doutrinárias.

            Sob a relva desses vergéis prenhes de encantos, onde os incautos se estasiam com os matizes e o perfume das flores, onde a leveza e luminosidade do ar entontecem, se esconde a venenosa serpente. Ai dos que por ela se deixarem picar.

            Não é, está claro, pelo temor do mal que possam causar as pastorais, os sermões e as ladainhas contra o Espiritismo, que de contínuo, com assistência notória, os bons espíritos, os nossos guias  abnegados, os nossos amigos e protetores invisíveis nos clamam: Vigiai! Vigiai! É que de lá do alto veem todas as armadilhas e conhecendo, como conhecem, os nossos compromissos se sentem tomados de aflição ao verem-nos, trazendo nos olhos do espírito a venda da vaidade, avançar descuidosos pelo relvado onde pululam os réptis.

            A luta cresce, dizem-nos eles, e crescerá ainda mais. É preciso, para que não sejamos vencidos, que em nós cresça também a vigilância; cumpre nos compenetremos cada vez melhor das tremendas responsabilidades que nos pesam, a fim de nos dispormos a combater sem tréguas aquela víbora que se aninha nos corações e nos imunizarmos pela prece contra as de de fora nos assaltem. Pela prece, porque a prece é o complemento da vigilância e é ao mesmo tempo meio indispensável de a exercermos com eficácia. A prece esclarece a razão.

            Tanto assim, que as vozes amigas que, do além, nos chegam não nos advertem dizendo apenas: vigiai, mas: Vigiai e orai, repetindo o que a seus discípulos recomendou Jesus, sem o qual o Espiritismo absolutamente não será a palavra do Espírito da Verdade.

            Pelos processos de que se valem o que antes de tudo procuram os inimigos da verdade é cavar sem pre e sempre mais funda a desunião em que, por mal seu, vive a família espírita. Já se faz tempo, se não quizermos ser os piores obreiros do aml, de nos constituirmos emrealidade, cônscios das responsabilidades que assumimos e dos deveres que nos correm, fatores do advento da frternidade no mundo. Essa a obra que nos está confiada no plano naterial, obra em que não cooperaremos de fato enquanto nos não tornarmos solidários, unidos pelo amor do pastor divino.

            Isso, porém, só lograremos quando, em vez de propugnarmos ideias ou epiniões pessoais, alcancemos que todas se apaguem aos nossos olhos sob a refulgência da personalidade sublime do Mestre dos mestres, tendo por escopo principal, senão único, praticar e pregar os ensinamentos que ele pregou e exemplificou.

            A luta cresce: cresça igualmente em nós o amor e a fraternidade, para triunfarmos com o Cristo que, esse, conosco ou sem nós, triunfará sempre.



Rei dos Judeus

 

Rei dos Judeus

por Epiphanio Bezerra

Reformador (FEB) Fevereiro 1943

             ... "esses homens ainda. vivem na Terra, mas em corpos imortais; e, desconhecidos, vão de um lugar para outro do mundo, trabalhando sempre para o direito, protegendo o inocente, guardando o desprotegido e aliviando o sofredor. Outros mais elevados estão além do alcance da morte, existem no invisível."W. L. Garver  

             Sempre se me afigurou estapafúrdia essa concepção desarrazoada de um povo privilegiado e eleito por Deus, à semelhança de determinadas religiões de nossos dias, a imparem de presunção e santidade, em detrimento das demais. Pois, se “Deus não faz acepção de pessoas", como atribuir tamanho despautério de parcialidade ao Divino Absoluto?!

             Desde a eternidade dos tempos, o orgulho e a presunção perderam a humanidade, atirando-a ao abismo insondável do sofrimento reparador. Essa a razão por que o povo judeu ainda hoje não quis compreender que isso de “escolhido e privilegiado” de Deus é simplesmente um simbolismo, como tantos outros das sagradas letras; que, admitir um povo eleito, seria admitir um Deus parcial. tão apaixonado e defeituoso quanto o homem da terra. E tudo culminaria no absurdo das religiosidades amorais.

             Povo judeu, em espírito, é pura e simplesmente símbolo da Humanidade terrena, como Jerusalém é símbolo do planeta Terra. E Jesus Cristo, o seu Diretor e Governador, "cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miqueias, 5:2), isto é, as suas aparições tangíveis, na terra em relação com os homens, vêm desde a formação do planeta.

             Também não há outra interpretação àquele "Rei dos Judeus", inspirado a Pilatos, confirmando as palavras do Divino Mestre: “Tu o dizes: eu sou Rei” não como entendem os preconceitos dogmatizantes dos homens; mas, Rei dos Judeus no verdadeiro sentido de Diretor e Governador Espiritual do Planeta Terra.

             O Velho Testamento é um repositório de verdades ainda ignoradas pela maioria dos homens. Ali estão palpitantes as provas das atividades, diretas e indiretas, do Cristo de Deus, guiando e protegendo o “seu povo” - todos os homens, onde quer que ocasião se lhe ofereça, mesmo os não “escolhidos e eleitos”, como, por vezes, a Nabucodonosor (Daniel, 4: 1 a 3, etc.), ora em pessoa, aparecendo a Moisés, ora., por seus prepostos, a Moisés e outros, em Israel, até a sua longa tangibilidade permanente, entre os homens, na sua missão redentora e gloriosa. ensinando-lhes a viver, a amar, a perdoar e a morrer.

             E, neste instante, vêm-nos à mente para cair da pena a repisada arenga: “Cristo seria um embuste e farsante, se não tivesse tido um corpo igual aos dos homens. Mistificador! Ensinar a resignação e o sofrimento. quando não teve um corpo de carne para sofrer.” Pois, se ele comia e bebia, como todos os mortais!?

            O Velho Testamento responde a essas objeções infantis, sem precisarmos recorrer ao Novo: “Depois apareceu-lhe o Senhor nos carvalhais de Manre, estando ele, Abraão, sentado à porta... levantou os olhos, e olhou e eis três varões estavam de pé juntos a ele. Vendo-os ... inclinou-se à terra e disse:

             Meu Senhor... traga-se agora uma pouca d’agua e lavai os vossos pés... e trazei um bocado de pão... E disseram: Assim faze como tens dito. Abraão... tomou uma vitela tenra e boa... e tomou manteiga e leite preparados... e comeram...” (Gen., 18:1 a 8).

             Não forçaríamos muito o entendimento destes versículos, se disséssemos que o Senhor Jesus, fazendo-se acompanhar de dois de seus prepostos, visita Abraão e com ele faz um repasto. E, porque, sendo três os visitantes, Abraão só põe em evidência um deles, chamando-o de “Meu Senhor”? Não teria sido esse mesmo o “Senhor” de quem Abraão se afirmou “servo”, quando lhe aparecera com o nome de “Melquisedec, sacerdote do Deus Altíssimo”? (Gen., 14).

             No decurso dessa visita a Abraão, o Senhor anuncia a destruição de Sodoma, onde residia Lot, por quem Abraão intercede. Retirando-se o Senhor, os dois outros visitantes se dirigem à Sodoma, ao encontro de Lot: “E vieram os dois anjos a Sodoma...” e vendo-os Lot, levantou-se e inclinou-se com o rosto em terra... e porfiou com eles... Fez-lhes banquete, e coseu-lhe bolos... e comeram. E antes que se deitassem... então disseram aqueles varões (os dois anjos) a Lot: Nós vamos destruir este lugar, o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo.” (Gen., 19:1 a 13).

             Aí ficam os esclarecimentos precisos: O Senhor Jesus, Diretor e Governador do planeta, visita Abraão, avisando-o de seus propósitos, afasta-se em seguida, enquanto os seus dois prepostos se dirigem a Sodoma para prevenir Lot, a quem fazem ciente da incumbência de “destruir aquele lugar, por ordem do Senhor”.

             Esses Espíritos, em seus corpos tangíveis comem e bebem e são hospedes de Abraão e de Lot, como qualquer mortal, satisfazendo mesmo aos mais comezinhos preceitos de higiene pessoal, como ensinamento para os homens e prova de que tudo quanto se haveria de dizer a respeito do Mestre Excelso se cumpriria a seu tempo, conforme mais tarde Lucas afirmaria: "São estas as palavras que eu disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos salmos” (Lucas, 24 :44), e em nossos dias na revelação dada a Roustaing.

             É preciso ter a paixão da cegueira para se não querer enxergar a verdade à luz meridiana: Três varões do espaço visitam Abraão e somente um deles merece o tratamento particular de “Senhor”, cabendo aos dois restantes a execução das determinações do Alto, conforme ensinos dos próprios Espíritos a Kardec, em seu livro.

             E não iremos muito adiante, talvez, sem que consigamos saber quais os dois prepostos executores dessas “determinações do Alto”. Não seria demasiada temeridade dizer-se serem os Anjos Miguel e Gabriel, “assistentes à face do Senhor”, conforme Daniel, caps. 8:16, 9:21, 10:13, etc., confirmado por Lucas, 1.

             Múltiplas são as passagens das Escrituras, por onde se prova que Jesus Cristo é o próprio “Senhor” insistentemente invocado pelo povo de Israel, falando a Moisés, e dado mesmo como o próprio Deus em pessoa, na linguagem dos profetas israelitas: “E tu Belém... posto que pequena... de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde a eternidade.” (Miquéias, 5:2). “Eis que eu envio o meu anjo que preparará o caminho diante de mim... vós, filhos de Jacó, não sois consumidos.” (Malaquias,3:1 a 6).

             Jesus, o enviado de Deus, seu Verbo na Terra tem autoridade sobre todos, motivo por que: “Senhor, tu és mais formoso do que os filhos dos homens... por isso Deus te abençoou para sempre. O teu trono, oh! Deus, é eterno e perpetuo... Tu amas a justiça... por isso Deus, o teu Deus te ungiu com o óleo de alegria, mais do que a teus companheiros.” (Salmos 45). Por sua vez, envia o seu anjo - o Batista, visto como Ele é o Senhor em Israel. Também Davi, como tantos outros em Israel, tão grande sente a Jesus Cristo, que não vacila em proclamá-lo Deus: “O teu caminho, oh! Deus, está no santuário. Que Deus é tão grande como o nosso Deus. (Salmo 77-13). “Deus era a sua rocha, e o Deus Altíssimo o seu Redentor.” (Salmo 78-36). E, como se ainda não fosse suficiente, sentencia: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés... Jurou o Senhor e não se arrependerá; tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedec." (Salmo 110).

             Entretanto, se alguns confundem o Cristo com o próprio Deus, outros mais avisados deixam ver as diferenças entre Deus e Jesus Cristo, embora tratem indistintamente, a um e a outro, de “Senhor”. Vejamos: Falou Deus a Moisés e disse: “Eu sou o Senhor. E eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó como o Deus Todo Poderoso, mas pelo meu nome, o Senhor, não lhes fui perfeitamente conhecido.” (Êxodo, 6:2 e 3).

             Porventura, não foi dito já que “ninguém jamais viu a Deus?” E o Senhor a quem se referem os versículos não afirma que Abraão, Isaac e Jacó, aos quais aparecera, “não o conheceram perfeitamente”, que, pelo contrário, o tomaram como o Deus Todo Poderoso? Não seria muito difícil, com um pouco de boa vontade, verificar que, na Bíblia, os profetas e patriarcas tratam de Deus propriamente dito e de Jesus Cristo, seu enviado, o Diretor e Governador do planeta, usando da mesma linguagem e reverencia: “O Senhor está em volta do seu povo, ao nosso lado.” Salmo 124-1 e 2. Ainda Davi diz que a sua “alma anseia pelo Senhor, por ter misericórdia e nele há redenção abundante” e porque remirá as impiedades” Salmo 130. “O Senhor respondeu a Jó do redemoinho: “Quem é este..., responde-me; Onde estavas tu" quando eu fundava a terra? Jó, 38.

             As citações que aí ficam provam à saciedade, pois falam por si, que o Senhor Jesus, Diretor do Planeta, seu fundador, a cuja humanidade assiste e conduz, “está em volta do seu povo” e "vive ao nosso lado”, conduzindo à perfeição “seu povo”, porquanto “os filhos são herança do Senhor e o fruto do seu ventre galardão.” Salmo 127-3; enquanto Davi, ansiosamente espera o dia do Senhor Jesus, a sua vinda prometida. para redenção dos homens. E quem, senão Jesus, redimiu Israel (o gênero humano) de suas culpas?

             Basta de redundâncias demasiadas, desde que a atuação do Ungido de Deus ressalta a cada página do Livro Santo - a Bíblia, E a sua missão nada teve de misteriosa “aos que tenham olhos de ver.”

             A história da Terra é a do próprio seu Diretor e Governador - o Cristo de Deus. Sentir de outro modo seria calculada cegueira, incompatível com os fatos e os tempos que chegam.,. Porque incidir nos mesmos erros de nossos antepassados?

            Espíritas, meus irmãos, vejamos o Cristo como os antigos de Israel o viam: “mais formoso do que os filhos dos homens”. Sim, “mais formoso do que os filhos dos homens”, desde que ele não era filho de homem, mas o “ungido com o óleo de alegria, mais que os seus companheiros”, visto ser sobre todos, “tido por digno de tanto maior glória que Moisés, quanto mais honra do que a casa que tem aquele que a edificou”, porquanto “vive sobre a sua própria casa, a qual somos nós”.

             Jesus, em espírito e verdade, é o “Rei dos Judeus”, não à maneira dos discípulos de Loiola e seus adeptos, imitadores do Judaísmo crucificador de Jesus; porém, como bem o define a Revelação Nova - Rei dos Judeus, imperando sobre a Jerusalém Nova e redimida, “esposa do Cordeiro”, na qual “habitará a justiça”, depois que incendidos os céus, os elementos ardendo se desfarão”.

             Não deixemos que os círculos evolutivos se fechem dentro de nossa indiferença; vamos ao Cristo de Deus, enquanto é tempo...

             Paraúna - Dezembro de 1942.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O temor do inferno

 

O temor do Inferno

Djalma Matos

Reformador (FEB) Janeiro 1943

             A crença na existência do inferno... O temor do inferno, como mansão de penas eternas, como lugar destinado a sofrimentos horríveis, que jamais tem fim, para as desditosas almas que nele, por suprema desgraça, chegam a ingressar, - se em outras eras, de maior atraso moral e intelectual, teve sua utilidade, para refrear instintos perversos de consciências endurecidas no crime e na impiedade, já agora, na nossa época, em que predomina o livre pensamento, o livre exame e a livre manifestação da ideia, malgrado ao sangrento esforço dos fazedores de guerra, é de todo ineficaz e contraproducente.

             Causa estranheza que os sacerdotes se empenhem, com tanto zelo, em propagar tal crença, como se fosse ensinamento cristão, quando, evidentemente, não há nada mais contrário ao espírito do Cristianismo, quando evidentemente, não há nada mais contrário ao espírito do Cristianismo, que se inspira no amor e no perdão, pregados e exemplificados pelo seu excelso fundador.

             Esse dogma, incompatível com o grau de evolução mental e espiritual a que chegamos, não pode mais ser aceito sinceramente por quem tenha a faculdade de raciocinar.

             Se a uma criança, que vive num meio em que ainda não penetraram os melhoramentos da civilização, alguém quiser assustar com o papão, é bem possível que consiga o seu intento. Usar, porém, do mesmo expediente com um menino ou menina, que se acostumou a andar de automóvel, a ouvir rádio, a assistir cinema e a ver aviões cruzarem os ares quase que diariamente, o efeito será negativo, porque, dispondo de elementos para raciocinar e esclarecer-se, compreenderá logo o absurdo da ameaça.

             Acontece, não obstante, que muitas crianças ladinas fingem acreditar no papão, para não parecer que estão convencidas de que os maiores – quase sempre os pais – não estão falando a verdade, e se esforçam, a seu turno, por convencer aos mais pequenos da real existência do papão.

             O mesmo fenômeno mental, ou psicológico, observa-se nos pregadores e fiéis das igrejas cristãs, em relação à existência do inferno, com a condenação eterna e Satanás. São, por via de regra, bastante inteligentes e sensatos para intimamente não aceitarem tais absurdos, incompatíveis com a noção que se deve ter da justiça de Deus, equânime e misericordiosa, mas, fingem acreditar – os pregadores, por amor à intangibilidade dos dogmas, que juraram defender, e os fiéis, porque se sentem no dever de proclamar como verdade indiscutível tudo que sai da boca dos sacerdotes de sua infalível religião.

             Jesus jamais se referiu a inferno como mansão circunscrita de penas eternas, e sim como planos, ou diversos estados, em que as almas pecadoras se encontrarão pelos sofrimentos e expiações: as trevas exteriores, onde haverá “choro e ranger de dentes”, para as criminosas, endurecidas, impenitentes, e o “fogo”, fogo das más paixões e dos desejos impuros, para as viciosas de toda espécie.

             Amai a Deus sobre todas as coisas – Amai o próximo como a vós mesmos – Amai-vos uns aos outros – Não façais aos outros o que não quereis que vos façam – Perdoai para serdes perdoados – Perdoais não sete vezes, mas setenta vezes sete – Não julgueis para não serdes julgados... Estes ensinamentos que se confirmam e se completam uns aos outros, repetidos, quase todos, várias vezes, no Evangelho de Jesus, consubstanciam os fundamentos de sua santa e consoladora doutrina, como ninguém poderá negar.

             E, assim sendo, porque querer obscurece-los, dando mais importância a frases isoladas, aribuídas ao meigo Nazareno, que falam do inferno, condenação e satanás, e que, se realmente proferidas por Ele, se não rferiam a estados transitórios das almas pecadoras, só podem ser levados à conta de força de expressão?

             Como admitir que o Divino Messias fosse incoerente e contraditório, certificando da bondade e misericórdia do Pai e, ao mesmo tempo, ameaçando com a vingança extremada desse mesmo Pai, com a condenação eterna e satanás?

             Oh! Cegueira dos homens!  Dizem-se cristãos, mas, como não encontram em seus corações a predisposição para o amor e o perdão, que o Cristo pregou e exemplificou, querem ver, de preferência, nas suas palavras, o inferno e satanás, à previdente sabedoria e misericórdia do Pai, que elas revelam – a condenação e a intolerância, ao “perdoai setenta vezes sete vezes” o exclusivismo da seita, ao “amai-vos uns aos outros” – a hostilidade em nome da fé, ao “não façais aos outros o que não quereis que vos façam” o o direito de julgar emnome do Cristo, à sua formal declaração de que não veio para julgar o mundo e sim para salvá-lo, e ao conselho de não julgarmos para não sermos julgados. Como não querem reformar-se, para adaptar os atos aos preceitos evangélicos, lidam por moldar o Cristianismo ao sabor de suas mentes e sentimentos.

                 Nós, espíritas, temos a convicção de que não existe inferno com condenação eterna, nem diabo nem satanás, rival ao mesmo tempo que carcereiro de um Deus vingativo e cruel. Para nós, Deus é pai de amor e misericórdia, que não quer a perdição de nenhuma de suas criaturas, e nenhum poder contrasta à sua vontade onipotente e sabedoria infinita.

             Sabemos que nas consequências do nosso modo de agir neste mundo – em pensamento, palavras e atos – estão a punição e a recompensa.

             Os crimes que cometemos, os vícios que adquirimos, as imperfeições que conservamos, aderem à nossa personalidade e, ao desencarnarmos, levamos no perispírito – no corpo espiritual a que se referia S. Paulo – esse lastro indesejável, que mantém o nosso ser preso à pesada atmosfera da Terra, impedindo-o de elevar-se e de evoluir. É possível que, não sendo a carga muito pesada, ainda no estado de desencarnados possamos dela livrar-nos, por um vigoroso e persistente esforço da vontade. O regular, porém, - e que por via de regra acontece, é termos que reencarnar na Terra, algumas ou muitas vezes para, expirimentando o mal que fizemos aos outros, padecermos, sofrendo com aquilo que antes nos deu ilícito prazer, e nos irmos corrigindo e depurando.

             Neste processo de depuração, mais ou menos doloroso, mais ou menos prolongdo, conforme as imperfeições a corrigir e a força de vontade empregada, constate o inferno aceito e reconhecido pelos espíritas, o qual, por não ser eterno, mas transitório, condicionado às circunstâncias de cada caso e consentâneo com a bondade e sabedoria do Criador e com as esperanças da criatura, é tomado mais a sério, concorrendo muitíssimo mais para a regeneração da humanidade do que o temor absurdo das penas eternas.


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Valiosa contribuição

 


Valiosa contribuição

por Luiz de Araújo Pedrosa

Reformador (FEB) Janeiro 1943

             A bibliografia espírita do nosso país, devemos convir, cada dia fica mais enriquecida de obras úteis.

            De Minas, Francisco Cândido Xavier, nada obstante a sua invejável simplicidade, vez por outra nos presenteia com verdadeiras torrentes de luz, ditadas por Emmanuel, Humberto de Campos e outros nomes de igual quilate.

            É não somente luz que a sua pena mágica veicula, mas também grandes consolações para os de boa vontade e para os sofredores; é como que o Senhor dos mundos a espalhar Amor em profusão.

            De outros pontos de “Pátria do Evangelho”, igualmente, vemos surgir, sempre e sempre, trabalhos de doutrina e de ciência, numa sucessão intérmina, tudo demonstrando que na terra onde foi plantada a árvore santa os homens estão possuídos de um sagrado anseio pelo Bem.

            Revela isto que todos desejam conduzir a sua pedra para a construção do grande edifício destinado ao culto, em espírito e verdade, do Deus Onipotente.

            Felizmente enquanto que os homens dos velhos continentes, esquecidos do “amai-vos uns aos outros”, se entregam a uma luta de extermínio total, no Brasil alguma coisa de útil se faz em benefício do aperfeiçoamento espiritual.

            Os bons livros constituem, incontestavelmente, meio muito eficaz do homem se manter em ascensão constante para aquele que tudo pode. Devem, pois, ter ampla divulgação, dado que duplo é o efeito; instruir e aperfeiçoar o Espírito.

            Já é tempo do homem compreender a necessidade inelutável de progredir e de voltar-se, resoluto e confiante, para o Bem e a Perfeição, despojando-se tanto quanto possível, se não o puder inteiramente, de tudo o que concorra para o seu atraso espiritual.

            É, sem dúvida, luta árdua a que o homem velho tem de entregar e para se transformar no homem novo, luta em meio da qual muitos são os que sucumbem, a despeito mesmo dos seus esforços.

            Isso, porém, é um imperativo a que ninguém deve furtar-se, visto que se aproxima a época do Semeador Divino fazer a separação do “joio e do trigo”.

            Dentre os bons livros que hei lido e conservo com carinho, eis que me vem às mãos, em hora feliz, - “Bezerra de Menezes, o médico dos pobres”, da autoria de F. Acquarone.

            É a histeria da vida cintilante de um Justo, mandado pelo Senhor à terra brasileira, e que entre nós foi - ADOLFO BEZERRA DE MENEZES.

            Quem o ler com sentimento, por certo, lágrimas há de verter, e abundantes, tal a emoção que desperta e o profundo respeito que inspira a vida de tão iluminado Espirito.

Inúmeras foram as dores contadas pelo Justo quando na matéria, onde a vida lhe transcorreu numa sequência de lutas sacrossantas, continuadas nas regiões onde somente os bons tem ingresso.

            Podemos dizer, sem receio de contestação e rendendo um preito de simples justiça, que o rastro de luz deixado por Bezerra entre nós cada dia mais se avoluma como também mais se avoluma o seu amor pelos sofredores das duas humanidades.

            Ele continua vivendo para o Bem e pelo Bem, esquecido de si mesmo, como fazia na Terra ingrata onde seus irmãos muitas vezes não o puderam compreender, curando o corpo e o Espírito com um desprendimento sublime, magnífico.  

            Onde existir uma lágrima a estancar, ou uma ferida a pensar, aí estará Bezerra de Menezes, no Palácio ou na choupana, como a personificação da Caridade a serviço de Jesus...

            O livro a que nos referimos, pois, não pode faltar na biblioteca dos espíritas, em particular, e na de todos, em geral, por isso que se recomenda como estímulo àqueles que desejam inspirar-se em fonte cristalina, qual foi e continua sendo o – “médico dos pobres”.


Palavras e construção

 

Palavras e construção

Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1965

             Comumente nos referimos à penúria, qual se estivéssemos à frente de um monstro, instalado em definitivo, junto de nós, esquecido de que o trabalho é infalível extintor de miséria...

            Mencionamos conflitos como quem tateia chagas irreversíveis, sem ponderar que o amor opera a extirpação de todo quisto de ódio...

            Comentamos privações, dando a ideia de que se erigem à condição de flagelos permanentes, distanciados do otimismo que funciona por dissolvente da sombra.

            Reportamo-nos a enfermidades com tamanho luxo de minudências, como se fossem males eternos, injuriando os princípios de saúde, capazes de restituir-nos a euforia...

            Destacamos s parte menos feliz do semelhante, com tanto empenho, que fornecemos a impressão de rentear com seres irremissivelmente condenados às trevas, ausentando-nos do bem, à luz do qual todo nos redimiremos um dia...

            Conversemos, segundo a fraternidade e o bom ânimo que o Cristo nos ensinou a cultivar.

            Imperfeições, desastres, doenças, desequilíbrios e infortúnios assemelham-se a meros borrões em nosso caderno de experiência educativa, no aprendizado da existência transitória. Afim de senhorearmos os nossos títulos de herdeiros de Deus na vida eterna.  Claro que apagaremos tais desdouros com a lixívia do nosso próprio sofrimento, mas não adianta ampliá-los através da exaltação emotiva ou do comentário inconveniente.

            Embaixo, a Terra parece uma estância obscura, mas o Sol brilha acima...

            Recordemos a exortação de Paulo:

            - “A palavra do Cristo habite em vós ricamente.”


segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Novo ciclo que começa

 

Novo ciclo que começa

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Janeiro 1965

             Estamos começando novo ciclo anual de existência terrestre e nele entramos com o coração assistido pela esperança de que todos possamos ser melhores do que temos sido e nunca piores do que às vezes nos temos apresentado, embora sem nos havermos apercebido disso.

            É costume dizer-se, entre nós, quando se inicia novo ano: “Ano novo, vida nova!” Aparentemente, trata-se de frase banal, que nos sai da boca com indiferença, sem que nos aprofundemos na sua alta e lata significação.

            Hoje, vimos repeti-la, em vista da necessidade que temos de reter na memória certos conceitos que podem ter grande influência em nosso comportamento cotidiano, os quais, entretanto, costumam, como se diz vulgarmente, “entrar por um ouvido e sair pelo outro”.

            Ano novo? Sim, de conformidade com o tradicional costume terreno, sempre que se encerra um calendário, dizemos tratar-se de “ano velho”, por já haver sido vivido, e, quando outro começa, dizemos “ano novo” porque é um ciclo que se abre, como que nos oferecendo uma oportunidade de fazer bem o que fizemos mal de outras vezes ou de reparar erros e tomar iniciativas dignificantes.

            O ideal seria que todos adquiríssemos, a cada começo de ciclo, uma personalidade nova, melhor, mais fraterna, mais amiga, e que deixássemos para trás, definitivamente, com o “ano velho”, os preconceitos que nos retardam a evolução, os erros que se enraizaram de tal forma em nós mesmos, que semelham a vícios inderrotáveis.

            O Espiritismo não veio anunciar milagres nem fazer milagres, prometendo à Humanidade recompensas fantasiosas, paraísos sedutores, nem ameaçá-la com infernos eternos e castigos terríveis, apavorantes. O Espiritismo, corporificando, nos tempos modernos a legítima ideia que o verbo do Cristo lançou à Terra, veio reensinar o Evangelho de Jesus, dizendo a cada criatura humana que a sua redenção não se fará senão pelo esforço que despender para melhorar sua condição moral e espiritual.

            Procuremos evitar que “o homem velho” se reintegre em nossa personalidade, fazendo que continuemos presa dos mesmos prejuízos perniciosos, dos mesmos impulsos desfraternos, da mesma invigilância que nos pune com o retardamento na marcha para a frente.

            Em nossas preces, relembremos os obreiros espíritas que plantaram nesta terra a Doutrina codificada por Allan Kardec, assim como todos quantos com eles colaboraram, dos mais obscuros aos mais destacados. Nem nos esqueçamos de Augusto Elias da Silva, o corajoso fotógrafo português que, sem temer represálias fanáticas do obscurantismo religioso, fundou “Reformador” a 21 de janeiro de 1883. E logo se lançou no combate à escravidão, analisando-a do ponto de vista espírita e desfraldando a bandeira da abolição.

            Ele soube iniciar um “ano novo” com “vida nova”, lutando a boa luta, tendo o Evangelho por escudo e a Verdade espírita por programa, certo de que somente deixará de ser escravo de si mesmo, de seus vícios e deficiências, aquele que, conhecendo a nossa Doutrina, busque exemplifica-la à custa de quaisquer sacrifícios. Somente a exemplificação leal e permanente nos libertará.

            Sempre que, por negligência, imprudência ou irreflexão, esquecemos as lições doutrinárias que temos aprendido, sobrecarregamos a nossa ficha cármica e adiamos a nossa libertação. Continuamos a ser escravos de nós mesmos. Retardamos mais e mais a data almejada da abolição espiritual que pretendemos.

            Façamos nossas, ao transpormos o limiar de 1965 (do blog: e por que não quando transpomos o limiar de 2021?) estas palavras de Paulo de Tarso (II Cor., 3:17):

            “Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade.”

            Elevemos nossos corações, porque esta revista completa 82 anos (do blog: hoje são 139 anos...) de existência fecunda, e também porque, em 1º de janeiro corrente a Federação Espírita Brasileira se firmou no seu 81º aniversário.